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domingo, 9 de junho de 2013

[Esboços para pregação] AUTORIDADE NO CÉU E NA TERRA - Mateus 28.16-20

Alguns adoram, alguns duvidam, um já tinha caído fora: a situação da igreja dos apóstolos não era muito diferente da nossa. Uma igreja perfeita, na qual tivessem vivido só crentes e santos, nunca existiu. Os apóstolos eram homens sujeitos às mesmas falhas e às mesmas fraquezas que nos perturbam hoje. Bem poderíamos imaginar que Jesus tivesse feito um sermão para eles, nos seguintes termos: "Olhem, meus discípulos, se as coisas vão continuar deste jeito, vocês não vão longe. A união é que faz a força. Nós começamos com doze, e agora já falta um. E, neste momento, alguns de vocês estão duvidando. Entre vocês não pode haver nenhuma dúvida! Se os homens vão notar que vocês, meus discípulos, têm problemas de fé, como é que o evangelho irá conquistar o mundo...?"
  
Mas o que Jesus faz é algo bem diferente. Ele, o Senhor ressurgido, o Filho de Deus glorificado, ele se aproxima deste grupinho de homens, nos quais se misturam a fé e a descrença, e desvia o olhar deles da própria fraqueza para seu poderoso Senhor: "Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra". Toda a autoridade! Não só um pouco. Não um poder limitado. Nenhuma autoridade parcial reservada à Galileia, à Palestina, ao Império Romano  à civilização ocidental, à sociedade dos brancos. A autoridade de Jesus abrange toda a terra. E ela abrange o céu também. Assim, sua igreja não será nunca uma "sociedade limitada". E não será nunca uma "sociedade anônima , tampouco. Ela tem nome, nome insubstituível, nome santo e eterno: Igreja de Jesus Cristo. Será que nós, os luteranos, os presbiterianos, os católicos, e todos os outros cristãos, não corremos todos o perigo de esquecermos isso? Que só a igreja de Jesus Cristo, ao qual foi dada toda a autoridade, tem a promissão de vencer as portas do inferno? É um lembrete contra qualquer tipo de sectarismo, seja ou não seja etiquetado com o nome de "igreja".

As palavras que Jesus dirige às primeiras comunidades são tão importantes para qualquer comunidade cristã, sim, para toda a cristandade, que deveriam ser o farol, o ponto de referência, em que nos orientamos em qualquer situação e em qualquer emergência de nossa vida cristã. A Jesus Cristo, nosso Senhor, foi dada toda a autoridade, no céu e na terra. Portanto vamos olhar para ele, não para nós. Vamos orientar-nos em seu poder, não em nossa fraqueza. Não vamos assustar-nos dos poderes a das .dificuldades que se vão levantar em nosso caminho. Não vamos orientar-nos em problemas. Problemas são para ser enfrentados, para ser vencidos, mas não servem para orientar. Quem tentar orientar-se em problemas - no problema social, na crise econômica  em problemas de vida e de fé - esse acaba ficando desorientado, acaba sendo um problema ele mesmo (como, aliás, sempre foi). Como ponto de orientação só serve um lugar: é o lugar onde Jesus está. E Jesus não é só para ser olhado em atitude meditativa e respeitosa, ele é para ser ouvido e obedecido. É sua palavra que nos orienta, que nos guia e que nos põe em movimento.

 Se a cristandade sempre tivesse levado a sério esta declaração básica de Jesus, "A mim foi dada toda a autoridade", então não teria havido lutas de poder, separações, rivalidades ou qualquer outra crise de autoridade, no povo de Jesus. A miséria dos cristão começa no momento em que eles deixam de contar com o poder exclusivo e ilimitado de seu Senhor, no momento em que eles olham para o lado, para ver, se não há um lugarzinho mais seguro para se refugiar uma pessoa mais influente à qual recorrer. Se pudéssemos desviar o nosso olhar de tudo e de todos, inclusive de nós mesmos, olhando com fé simples e ingênua para Cristo, o Senhor, aí poderíamos dispensar as muletas que nós mesmos fabricamos. Poderíamos vencer nossas crises de autoridade, nosso cansaço, nossa tristeza, nossa preguiça. Ouviríamos simplesmente a mensagem e obedeceríamos. Enfrentaríamos sem medo os problemas de nosso tempo, confiados exclusivamente no poder e na autoridade de Cristo. O que nos impede, aliás, de fazer isto mesmo?

"Ide portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a guardar tudo o que vos tenho ensinado". Como se faz um discípulo? "Indo", diz Jesus. Não é, pois, ficando no lugar onde estamos, entrincheirados em nossa tradição, para ver se os futuros discípulos virão a nós. Não há nenhuma escola de discípulos localizada em Jerusalém (ou em São Paulo, ou São Leopoldo...). E verdade: numa escola pode acontecer o milagre de se fazer um discípulo; mas tal milagre não pode ser parte de um programa, de um currículo de colégio, nem de seminário ou Faculdade de Teologia. "Ide, portanto", diz Jesus. Você reparou na palavra "portanto"? O que ela significa? Significa algo essencial. Vou usar de uma comparação: você conhece um cortador de grama elétrico? Se não conhece, pode imaginar. A gente vai levando o cortador pelo gramado, e ele vai conosco. Vai cortando enquanto o levamos. Enquanto ele estiver ligado pelo fio elétrico à tomada de força, ele vai cortando grama. Se desligarmos o fio, a lâmina cortadora para. Aí você pode empurrar o quanto quiser. Verá que esta máquina não foi feita para funcionar sem eletricidade. Pois bem, eu afirmo que a palavra "portanto" é o tal fio que liga a máquina à rede elétrica: "A mim foi dada toda a autoridade". Isto é a força. "Portanto": isto é o fio. "Ide fazei discípulos": isso é o cortador de grama que se movimenta na função para a qual foi feito. Se você esquecer este "portanto", vai ser um cristão frustrado. Um cristão emperrado, um cristão que empurra e que se desanima. Com outras palavras: Cristo nos manda ao mundo não como alguém que quer ficar por aí, só para olhar. "A mim foi dada toda a autoridade. Portanto ide". Isso é: vocês vão ser movidos pelo meu poder. Irão revestidos de minha autoridade. Eu sou o que faz andar o evangelho. Permaneçam ligados a mim. Permaneçam em mim! Ide! "Portanto, portanto": Você nota como esta palavra começa a ter peso? "Eu tenho poder - portanto, vai! Portanto põe mãos à obra, vai para a frente com esta tarefa espinhosa. Abre a boca e fala de meu evangelho" Sim, estas palavrinhas pequenas muitas vezes são muito importantes na Bíblia. É como no Salmo 46: "Deus é nosso refúgio e fortaleza... portanto não temeremos". Você já sabe o segredo deste portanto? Poderá ser essencial para você e para os que Deus pôs a seu lado.

Fazer discípulos, batizando-os em nome de Deus Pai, Filho e Espírito Santo, e ensinando o que Jesus ensinou: É esta a tarefa que Jesus dá aos seus discípulos. Uma tarefa baseada no "portanto" do qual falamos.

sábado, 13 de abril de 2013

[Esboços para pregação] CARTA DE DEUS - 2 Timóteo 3.10-16


Leitura Complementar: Salmo 119.165-176

Quantas bíblias há? Ora, há milhões, em centenas de línguas diferentes. E em realidade há uma Bíblia só. É a palavra de Deus. E a descrição daquilo que Deus fez, criando e mantendo o mundo, seguindo suas criaturas extraviadas para salvá-las, revelando-se em Jesus Cristo, abrindo por ele o caminho da salvação para todos os que o quiserem aceitar.

Sim, graças a Deus: há uma Bíblia só. Não é verdade que há uma Bíblia protestante e outra católica. As pequenas diferenças de tradução, a inclusão de algumas páginas a mais, no Antigo Testamento, não têm importância alguma. Deus seja louvado por termos este tesouro em comum: a Bíblia Sagrada. Ela vai permanecer a base de nossa fé. Nela Deus explicou com clareza qual a sua vontade e quais os seus planos. Católicos, protestantes, seitas, crentes e descrentes, todos precisam enfrentar esta realidade: este maravilhoso livro é um só. Sua mensagem é uma só, e é uma mensagem dirigida a todos, por igual. Ninguém tem o direito de fazer com este livro o que bem entende. Deus é o Senhor deste livro. Cristo é o seu conteúdo. O Cristo, ainda encoberto no Antigo Testamento, e revelado no Novo. Assim, ao lermos a Bíblia com fé, vamos notando que já não são as letras dela que falam. É Deus mesmo que nos vai chamando, que nos vai orientando, consolando e fortalecendo. É por isso que o evangelista João chama Jesus de "Palavra de Deus", ou "Verbo de Deus". É importante que o compreendamos: a Bíblia não é nenhuma coleção de sabedorias religiosas ou de doutrinas a respeito de Deus. Nela se revela o próprio Deus pessoal. O Deus, que em Cristo se tornou homem.

Quantas bíblias há? Uma só, como acabamos de dizer. E, no entanto, de certa forma podemos afirmar que há duas bíblias. Ou, ao menos, que há uma cópia viva da Bíblia Sagrada, um espelho, no qual se reflete o evangelho  Esta cópia, este espelho, esta explicação viva da Escritura Sagrada são os cristãos. O apóstolo Paulo chegou a escrever à comunidade de Corinto (2 Coríntios 3.2-3): "Vós sois a nossa carta, escrita em nossos corações e lida por todos os homens, estando já manifesta como carta de Cristo, escrita não com tinta, mas pelo Espírito do Deus vivente".

Há quem diga que hoje em dia os descrentes não são mais convertidos com a simples leitura da Bíblia Sagrada; que eles são convertidos com a leitura daquela carta de Cristo, que é uma comunidade viva, criada e guiada por seu Espírito. Não vou dizer que aqueles que assim falam estejam com toda a razão. Eles só têm razão em parte. Porque ninguém deve separar estas duas cartas. A carta da Bíblia, documento dos grandes feitos de Deus no passado, e a carta viva de uma comunidade onde o mesmo Deus hoje vai realizando e cumprindo suas promessas e onde vai escrevendo sua vontade nos corações de seus filhos. Deus não tem duas vontades diferentes. Ele tem uma vontade só. A vontade de Deus revelada na Escritura Sagrada é a mesma que ele manifesta através de suas cartas escritas hoje, nos corações dos crentes, através de seu Espírito Santo. E, sempre que estas duas cartas não combinarem, devemos ficar alertas. Então há algo errado, ou com nossas vistas, que talvez se tornaram fracas ou míopes e que não enxergam mais direito o que está escrito na Bíblia, ou, então, a carta de Cristo ao mundo, a carta viva, que é a sua comunidade, foi sendo borrada, manchada e tornada ilegível pela descrença.

Vejamos o que o apóstolo Paulo diz em nosso trecho bíblico, que lemos há pouco. Talvez, leiamos mais uma vez a passagem toda, bem atentos ao que ele diz das "duas cartas" de que falamos.

Notamos que, na primeira parte de nosso trecho, Paulo fala de si mesmo, de seu ensino, seu procedimento, sua paciência, seu amor, sua fidelidade. Fala de seus sofrimentos e da perseguição que sofreu. Diz que todos os que querem servir a Cristo sofrem contrariedades e per seguição. Quem não conhece bem as cartas do apóstolo, até poderia pensar que ele vai pregando a si mesmo, colocando a sua própria pessoa como exemplo a ser imitado. Mas isto, em realidade, não acontece. Na mesma carta aos Coríntios (2 Coríntios 4.5), da qual já falamos, Paulo diz: "Não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus como Senhor, e a nós mesmos como vossos servos por amor de Jesus." Pois é isso mesmo que nós precisamos enxergar para entendermos bem esta passagem. Paulo não se prega a si mesmo. Ele apenas descreve um servo de Jesus Cristo. Nada mais e nada menos. Ele diz a verdade. Não exalta a sua própria pessoa. Ele exalta Jesus Cristo, seu Senhor. Exalta-o com sua vida e com seu testemunho. Paulo passou a ser uma carta viva de Jesus, que podia ser lida e entendida até por analfabetos. Quem via a sua fé, sua paciência, sua firmeza na perseguição, era levado a perguntar: De onde este homem tem tudo isso? De onde recebe a sua força? Qual é o segredo de sua vida? Por que é diferente dos homens "perversos e impostores que irão de mal a pior, enganando e sendo enganados"? E se houver, na vida de Paulo, um passado escuro (e sabemos que houve mesmo), que aconteceu com ele? E então os que liam esta carta, a saber, a vida de Paulo, daquele Paulo regenerado, nascido de novo pelo Espírito de Deus, esses iam sendo atraídos, puxados realmente para junto de Jesus. Quer dizer que não ficavam agarrados ao servo de Jesus, que era Paulo. Eles não eram cegos! Viam bem que este homem era um pecador. Paulo mesmo não negava que era um homem com defeitos e fraquezas, um homem como eles mesmos. Mas eles viam o que Cristo tinha feito dele e o que ele continuava fazendo dele e por ele. E assim eles liam esta "bíblia", nesta carta manifesta de Cristo, e passavam a procurar a fonte, da qual se alimentava aquele servo de Jesus.

E é o próprio Paulo que lhes indica esta fonte. Ele escreve a seu jovem amigo Timóteo: "Desde a infância conheces as Sagradas Letras (isto é, a Bíblia, no caso, o Antigo Testamento), que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus".

Aqui temos a chave para a compreensão de nossa passagem bíblica. O servo de Jesus dá o testemunho de sua vida. Ele deixa que outros leiam a carta que Jesus escreveu através do trabalho, do testemunho, do amor, do serviço obediente de seu servo Paulo. Mas não fica por aí. Ele leva os seus irmãos a beberem da mesma fonte da qual ele bebeu, e da qual ainda está bebendo. Se não fizesse isso, se apenas convidasse as pessoas a beberem do copo dele, ele não iria longe. O seu copo ficaria vazio. Ele acabaria não tendo mais água nem para si mesmo.

Os que distribuem água em tempo de seca precisam ir à fonte mais vezes do que qualquer outra pessoa. Mas não basta que eles vão para matarem a própria sede e para irem buscar água para outros. Eles precisam mostrar o caminho para a fonte a todos os sedentos. Senão eles acabam se matando de tanto correr para cá e para lá. Foi isso mesmo que Paulo fez com Timóteo. Ele lhe indicou o seu exemplo, deixou que lesse aquela carta viva de Cristo. Mas não parou nisso. Indicou-lhe a fonte, a Sagrada Escritura, e o Senhor desta Escritura, o próprio Deus, revelado em Jesus Cristo. "As Sagradas Letras podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Jesus Cristo." Entendamos bem: ele não diz que a Bíblia salva; diz que a salvação vem pela fé em Jesus Cristo. Mas a leitura da Bíblia nos torna sábios para esta salvação. E isso realmente não é pouco.

Tendo entendido isto, não nos vamos mais chocar com aquilo que Paulo continua dizendo: que a Escritura é "inspirada por Deus e útil para o ensino e para a educação na justiça...". Ele não nos convida a brigarmos por causa de letras e palavras da grande carta de Deus. Não nos permite jogar uma passagem contra outra, nem apoiar uma passagem com a outra, como se a Bíblia necessitasse de inspiração por parte de nós. Anuncia que Deus é o Senhor de toda a Sagrada Escritura e que importa acharmos, ouvirmos e obedecermos a ele, que nos vai falando através da mensagem que inspirou. Quer que leiamos os detalhes da Grande Carta, mas não quer que nos fixemos em detalhes, perdendo de vista o centro da Bíblia. Pois o centro da Bíblia é a comunicação de que Deus nos ama. Que ele deu o seu próprio Filho para que nós, os perdidos, pudéssemos ser salvos. Essa é a mensagem resumida da Bíblia, é o todo dela. E a mensagem inspirada que ela contém. Mensagem que realmente é infalível. A gente pode confiar nela. É palavra de Deus. Palavra de Deus, que não engana ninguém. Porque Deus é o Deus da Verdade.

E o que tudo isso tem comigo? Muito. Entendendo que a Bíblia é realmente a carta de Deus para o mundo todo, ela também o é para mim. Desprezando este livro, não abrindo e não lendo a carta de amor que Deus dirigiu a mim, estarei desprezando o próprio Deus.

E a carta de Cristo, escrita pelo Espírito Santo nos corações dos cristãos? Não a poderei desprezar tampouco. Será para mim uma questão de vida ou de morte seguir ou não seguir o exemplo dos servos de Jesus, em cuja vida eu estou lendo, como se fosse uma carta aberta. Será decisivo para mim que eu aprenda a ler esta carta viva de Cristo, conferindo o resultado da leitura com o que Deus me diz na Bíblia Sagrada.

E, afinal, o que importa é que eu mesmo me torne uma tal carta de Cristo, uma bíblia viva, que, com seu exemplo e com sua obediência, oferece orientação e apoio àqueles que estão tateando no escuro. Há pessoas que estão desejando ardentemente ler uma tal carta, não borrada, não falsificada, simples e clara, um comentário vivo da grande carta de amor de Deus, a Sagrada Escritura.

Oremos: Senhor, nós todos, que temos o nome de cristãos, deveríamos ser cartas abertas, em que o mundo pudesse ler com clareza a tua vontade. Temos de confessar-te, humildes, que muitas vezes somos cartas fechadas ou borradas. Perdoa-nos, Senhor. Santifica tu a nossa vida. Faze-nos viver de tua palavra. Dá-nos comunhão contigo e com teu povo. Amém.

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Autor: Lindolfo Weingärtner

sábado, 9 de março de 2013

[Esboços para pregação] CRISTO VENCE O TENTADOR - Mateus 4.1-11


Leitura Complementar: Salmo 33

Eis uma história que parece bem distante, bem afastada de nosso dia-a-dia. O lugar dos acontecimentos é o deserto. As personagens: o Espírito, Jesus, o diabo, os anjos. Jesus, que jejua quarenta dias e quarenta noites; o diabo, que o tenta três vezes; os anjos, que vêm servir a Jesus, depois de ele ter resistido ao tentador. Nós perguntamos  onde estas coisas sobrenaturais acontecem em nossa vida? Que tem esta história a ver com nossa fé, nosso dia-a-dia, nossa luta?

Muito mais do que você poderia pensar à primeira vista. Porque tudo o que acontece com Jesus é importante para nós, para nossa fé, para nossa vida com Deus e os homens. Se a história da tentação de Jesus só tivesse sido importante para o próprio Filho de Deus, Mateus e Lucas não a teriam relatado em seus evangelhos. Então seria um dos segredos que permanecem ocultos a ouvidos humanos, até o fim dos tempos  Mas o relato da tentação foi escrito, e foi escrito por nossa causa. Ele contém uma mensagem de Deus para você e para mim, mensagem que nos quer ajudar a vencermos a nossa própria tentação.

"Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo". Quer dizer que Jesus não foi enfrentar o tentador por própria conta. Ele não foi por curiosidade  para ver como é a experiência da tentação. Não fez como Adão e Eva no Paraíso, que por iniciativa própria se aproximaram da árvore proibida e que concluíram que a árvore era boa para se comer e que sua fruta era agradável. Jesus foi levado pelo Espírito. O Espírito de Deus o conduzia, não só no dia em que foi ao deserto para ser tentado, mas em cada dia de sua vida.

Nós oramos no Pai Nosso: "Não nos deixes cair na tentação". Isso quer dizer: não nos deixes cair na tentação desprevenidos, desarmados, indefesos, assim como uma ovelha desprevenida cai nas garras do lobo. Guia-nos com teu Espírito para que não caiamos. A nossa força nada faz; com ela estamos perdidos! Mas o Espírito de Deus nos capacita a reconhecer o tentador, a descobrir as suas intenções e a resistir a seu poder maligno.

O próprio fato de Jesus ter sido tentado, igual a todos os filhos de Adão, é confortante para nós. Prova que Jesus realmente veio para ser nosso irmão. Assim como ele, o justo, entrou na fila dos pecadores, ao ser batizado no rio Jordão, assim ele, também aqui, no deserto, se põe ao lado do homem desencaminhado, perdido no deserto da tentação  onde nenhuma criatura o auxilia, onde se acha entregue ao ardil do demônio  Verdadeiramente uma boa mensagem para você e para mim, criaturas que vamos sendo tentados a cada dia de nossa vida. Nós temos a nosso lado Jesus Cristo, nosso Salvador, tentado igual a nós, que obteve a vitória.

"Depois de ter jejuado quarenta dias e quarenta noites, teve fome. O tentador, aproximando-se dele, lhe disse: Se tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pão. Jesus respondeu: Não só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que procede da boca de Deus". Se tu és o Filho de Deus! O tentador não muda o seu modo de agir. Não troca de método, ao tentar o homem. Ele começa sempre semeando a dúvida. "Será que Deus disse?" Foi a mesma semente infernal que levou o "velho Adão" e toda a sua descendência a comer do fruto proibido. Ele sabe bem: uma vez que consegue implantar a dúvida no coração do homem, o resto será brincadeira. As ações más e perversas sempre são consequência da "dúvida que pegou". São frutos da semente do "será que Deus disse?".

E observamos mais. O diabo ataca onde enxerga uma fraqueza do homem. Jesus tinha passado um longo tempo sem se alimentar. Tinha fome. O tentador procura arrombar a porta que lhe parece menos resistente. Ele é um senhor-psicólogo. Conhece os homens melhor do que eles mesmos, quase tão bem como Deus. Quase! Deus nos conhece melhor, louvado seja ele! Deus nos conhece com outras intenções. Ele nos ama!

A porta que o tentador procurou arrombar em Jesus parecia fraca. Ele teve fome, fome igual àquela que nós sentimos. Mas a porta estava guarnecida, estava protegida  Estava guarnecida pelo Espírito e pela palavra de Deus. Espírito e palavra de Deus sempre andam lado a lado. Sim, mais do que isso: andam tão unidos que não é possível separá-los. Assim Jesus não precisava pensar muito para saber como ia resistir ao tentador. Ele respondeu com a palavra de Deus, respondeu com uma citação da Bíblia: "Está escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que procede da boca de Deus".

Jesus conhecia a Bíblia. Mas não só a conhecia. Ele vivia da palavra de Deus. Vivia dela como se vive de pão. Para resistirmos ao tentador, não basta conhecermos a Bíblia. E preciso que nos alimentemos de toda a palavra que procede da boca de Deus. Se não vivermos realmente da palavra de Deus, se não tivermos sede da palavra, do evangelho, das promissões de Deus, então a porta de nossa casa está desprotegida. Então o tentador vai rir das palavras bíblicas que lhe citarmos, porque a Bíblia ele também conhece. E melhor do que nós, por certo. Ele tiraria o primeiro lugar em qualquer concurso de conhecimentos bíblicos, sem sombra de dúvida!

O tentador dá provas de seus conhecimentos da Bíblia na segunda tentação. Levando Jesus para o alto do templo  lhe diz: "Se tu és o Filho de Deus, atira-te daí abaixo, porque está escrito: Aos teus anjos ordenará a teu respeito que te guardem; eles te susterão nas mãos para não tropeçares em alguma pedra". Então, o diabo poderá tentar as pessoas, usando a própria Bíblia, como faz aqui, citando o salmo 91! E será, por certo, o diabo mais perigoso  o que vem com a Bíblia na mão, com a boca transbordando de palavras da Escritura, e as vai citando para dizer bem o contrário daquilo que Deus quer dizer! Porque a Bíblia, como livro, não é capaz de se defender. Cada um pode fazer uso dela, pode tirar palavras e frases do meio de outras para usá-las, assim como bem entender. E mais uma vez Jesus responde ao diabo com a Bíblia. Responde guiado pelo Espírito. Não entra naquela discussão estéril sobre a Bíblia, onde cada um usa a Escritura como arma, citando-a para provar seu próprio ponto de vista. Jesus cita a Bíblia como documento da vontade de Deus: "Também está escrito: Não tentarás o Senhor, teu Deus". Jesus não duvida dos conhecimentos bíblicos do diabo. Poderia ter dito que ele tinha citado mal, porque no Salmo 91,11-12 diz que "os anjos te guardarão em todos os teus caminhos". E saltar do templo, evidentemente, não é caminho. É coisa de circo. Mas Jesus não entra nesta questão de explicação, de exegese, como dizem os teólogos  Ele cita a Bíblia conforme o Espírito o guia. Espírito e Bíblia não se contradizem para Jesus. Assim o diabo descobre que também esta porta está bem guardada pela palavra de Deus, revelada na Bíblia.

Quem somos nós, para pensarmos que podemos dispensar a Bíblia? Que somos capazes de defender-nos sem ela, confiados em nossa própria inteligência? Se o próprio Jesus conhece a fundo a palavra de Deus, a tal ponto que vive dela como se vive do pão, que suas palavras respiram a palavra da Bíblia? Que discípulos fracos de Jesus somos nós, se nem soubermos responder a um dos numerosos apóstolos da confusão religiosa, que hoje andam pelo mundo, muitas vezes com a Bíblia na mão! Aprendamos de Jesus a amar este livro, a cavar fundo nele. Não vamos deixar de descobrir água viva, se nos dermos o trabalho de cavar. E de água viva nós precisamos, neste mundo seco e estéril em que vivemos.

"E outra vez o diabo o levou a um monte muito alto, mostrou-lhe todos os reinos do mundo e sua glória e lhe disse: Tudo isto te darei, se prostrado, me adorares". Jesus lhe disse: "Retira-te de mim, Satanás. Porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás e só a ele darás culto".

Agora o tentador deixa a psicologia de lado. Põe as cartas na mesa. Vem com uma proposta maciça. Oferece poder, poder sobre o mundo inteiro. Claro que as cartas são falsas. O diabo é mentiroso desde o início. O que ele oferece é um cheque sem fundo. Procura vender uma coisa que não é dele. Porque a terra não é do diabo. A terra é de Deus. Apesar de tudo. Apesar das experiências em contrário. A própria palavra de Deus o diz: "A terra é do Senhor, e tudo o que ela contém" (Salmo 24,1). Também neste caso Jesus não começa a argumentar com o diabo, procurando apontar-lhe o seu erro, as suas cartas falsas. Com o diabo não se argumenta. Ele só respeita uma atitude: sim ou não. Se o "não" é claro, dito no poder do Espírito, então é o que basta. "Está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a ele servirás". Jesus também põe as cartas na mesa. Assim como ele tinha feito nas outras tentações. Não deixa nenhuma margem de dúvida: "Retira-te, Satanás". Esta é a linguagem que o diabo compreende  Jesus indica para seu único ponto de referência: para Deus, bem assim como fizera nas primeiras tentações  Para o Deus que é seu Pai e ao qual ele quer servir.

Dizem que cada homem tem o seu preço. Que é apenas uma questão de se oferecer a soma exata para dobrar o mais honesto dos homens. Pode ser que para o velho Adão isso confira. Mas Jesus é o novo Adão. Ele não tem preço. Ele é o Filho de Deus. Não só de nome, mas de verdade. Sua comunhão com o Pai é tão firme, que nada é capaz de a pôr em dúvida. Nós temos um Salvador poderoso, "tentado em todas as coisas, igual a nós, mas sem pecado" (Hebreus 4,15). Ele é o nosso baluarte, nossa defesa na hora em que o poder do maligno nos ameaçar.

"Então o diabo o deixou. E eis que vieram os anjos e o serviram". Não vamos tratar de imaginar como foi que os anjos serviram a Jesus, depois de o tentador o ter deixado. Vamos louvar a Deus porque, além do demônio e seus poderes maus, existem outros poderes, os anjos. Poderes invisíveis, criaturas santas e obedientes, totalmente sintonizadas com a vontade do Criador.

A Bíblia costuma ser muito reservada, quando fala de anjos. Não diz qual é a aparência deles. Mas os anjos são parte integrante do evangelho. E é algo muito confortador sabermos que Jesus, depois das tentações infernais que vieram sobre ele, recebe o conforto dos anjos. Nós ouvimos há pouco que tudo o que acontece com Jesus é importante também para o cristão. Saiba, pois, que os anjos de Deus também estão perto de você, que eles, não os demônios  são os poderes que definem a vida normal do cristão. Louvado seja Deus, por nos ter dado a vitória em Jesus Cristo.

Oremos: Deus e Pai. Tu nos dás comunhão de vida com teu Filho amado. Pela fé somos ligados a ele, e por meio dele, a ti, nosso Pai. Graças te damos por não precisarmos lutar sozinhos contra os poderes das trevas. Graças te damos porque a vitória de Jesus é também a nossa vitória. Amém.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

[Esboço para pregação] A ALEGRIA DO BOM PASTOR - Lucas 15.1-7

Leitura Complementar: Salmo 142

Há diferenças entre os quatro evangelhos do Novo Testamento. Diferenças no conteúdo e na maneira de dizer as coisas. Cada um dos evangelistas conta a história e a mensagem de Jesus a seu modo. Cada um enxerga o Cristo na luz específica que Deus lhe deu. Há diferenças tão acentuadas, por exemplo, entre Mateus e João, que os teólogos chegam a brigar sobre o sentido e até sobre a autenticidade de certas passagens.

Mas há um ponto, entre muitos outros, é claro, no qual os quatro evangelhos são totalmente unânimes e no qual não é possível nenhuma discórdia entre os que explicam a Bíblia. Tanto Mateus, como Marcos, Lucas e João atestam, como que unânimes, que Jesus atraiu a si os pecadores, as pessoas que por motivos morais eram rejeitadas pela sociedade, inclusive pelos líderes religiosos de seu tempo. Assim diz o nosso texto: "Aproximaram-se de Jesus todos os publicanos e pecadores para o ouvir. Publicanos eram empregados do governo, coletores de impostos, que tinham fama se serem corruptos e desonestos. E pecadores, bem, eram os que tinham pisado em falso, desde a mulher que tinha sido surpreendida cometendo adultério, até o vagabundo que vivia pelas estra¬das, depois de ter estragado sua vida no jogo e na bebedeira. Esta gente sentia um poder irresistível que os atraía e puxava para junto de Jesus. Nada semelhante acontecia no caso dos fariseus e dos escribas, os líderes religiosos dos judeus. Eles mantinham "esta gente" afastada de si e mostravam de forma bem clara o que estavam pensando deles. Com um pecador, um homem de bem não se metia. "Dize-me com quem andas e eu te direi quem és". E Jesus andava com pecadores. E os pecadores andavam com ele. Logo... Pois é. Não é difícil entender o que eles pensavam, porque, bem no fundo, a maioria das pessoas ainda hoje pensa como eles.

"E murmuravam os fariseus e os escribas, dizendo: este recebe pecadores e come com eles." Claro. Dize-me com quem tu andas e vou te dizer quem tu és. Não podia ser outra coisa. Como podia este Jesus ser o Cristo de Deus, se ele permitia que esta gente perdida se aproximasse dele, e até sentassem à mesa com ele?

E então Jesus lhes conta e história do homem que possuía cem ovelhas e chegou a perder uma delas. Que deixou no deserto as noventa e nove e foi à procura daquela que se tinha perdido. Que, depois de encontrá-la, a colocou sobre os ombros, cheio de alegria, reuniu os amigos e vizinhos e lhes disse: "Alegrem-se comigo, porque acabo de encontrar a ovelha que perdi". E depois Jesus lhes diz que da mesma forma vai haver alegria no céu por um pecador que muda de vida. Que até vai haver maior alegria por causa deste pecador arrependido do que por noventa e nove justos que não precisam arrepender-se, ou que acham que não precisam.

Nós todos, que nos criamos em comunidades cristãs, não ignoramos isso: Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores e perdidos. Mas nós temos ouvido esta mensagem tantas vezes, que nossos ouvidos já se tornaram meio surdos para ela. Nós pensamos: Sim, sim, é claro que ele veio para isso. Mas, na hora "h" acabamos não agindo como Jesus agiu. Os pecadores têm medo de nós, ou desconfiam de nós. As ovelhas perdidas se escondem de nós, e nós não vamos à sua procura. Não as fazemos sentir que estamos interessados nelas e que fazemos questão de que pessoas perdidas sentem à nossa mesa. 

Assim, antes de tudo, precisamos pedir a Deus que nos dê ouvidos abertos e corações que realmente compreendam e aceitem aquele ponto central do evangelho de Jesus Cristo, ponto central, como o centro de uma roda, pelo qual passa o eixo. Sem aquela abertura central, a roda não teria valor.

Que vem a ser uma pessoa perdida? Pensamos na famosa "ovelha negra da família". Pensamos em um rapaz que começou a beber e que virou cachaceiro. Pen samos numa moça sem-vergonha e leviana, pensamos em vigaristas, em "playboys", em andarilhos, em gente que fuma maconha. Isto está tudo certo. A pessoa que perdeu o respeito de si mesma, que leva uma via de parasita, que vive sem disciplina e sem ordem, é uma pessoa perdida. Mas a coisa não termina aí. Perdida é qualquer pessoa que não se encontra no caminho certo. Perdidas são muitas pessoas que acham que estão com os seus compromissos em dia; que estão com as malas bem arrumadas. Que adianta alguém ter as malas bem arrumadas, se está sentado no ônibus errado? Quem é perdido? Pensando bem, vamos ter que admitir que todos nós somos perdidos. É duro, mas é verdade. Por inclinação e por instinto, ninguém de nós procura nem encontra o ônibus certo. Guiando a viatura de nossa vida por nossos próprios palpites, poderemos estar certos de que erramos o nosso alvo. Vejamos: até as noventa e nove ovelhas que o pastor deixou no deserto para ir à procura daquele que se tinha perdido, no fundo eram ovelhas extraviadas também. Por quê? Porque, no momento em que seu pastor não estava com elas, eram ovelhas perdidas. Criaturas sem proteção. Sem certeza sobre o caminho a tomar. Não queremos explicar cada detalhe desta parábola, porque isto nem sempre dá certo. Mas eu penso que, quando "os justos" não se incomodarem, quando alguém se extravia, quando não acompanharem "o pastor" na procura do extraviado, eles também não passam de ovelhas perdidas. Estão elas no lugar onde está o pastor? Não estão. Pois então! O bom pastor Jesus Cristo está no lugar onde Deus quer que esteja. Quem não está com ele, está extraviado. Quem com ele não ajuntar, espalha.

Você pergunta: mas são tantas ovelhas, noventa e nove (ou meio milhão, ou cinquenta milhões...), e tão grande número de criaturas não pode errar. Pode, sim. Muitas ovelhas juntas também podem errar. É até um ardil especial do grande ladrão de ovelhas, o diabo, enganar o rebanho inteiro. Assim ele poupa trabalho. Se não fosse o Bom Pastor, que enfrenta o adversário, que chama e atrai as ovelhas desgarradas a si, que as protege contra as investidas do lobo, nenhuma ovelha se salvaria. Também você não se salvaria. Você e eu jamais nos vamos encontrar a nós mesmos, jamais vamos alcançar nosso alvo, se não formos encontrados por Cristo.

A parábola da ovelha perdida (melhor seria falarmos da parábola da ovelha achada!) mexe conosco em dois sentidos. Primeiro: ela ataca a nossa falsa segurança, nossa convicção de sermos pessoas de bem que a olhos vistos se distinguem das ovelhas negras conhecidas por todo o mundo. Ataca a nossa certeza de termos a "barra limpa", a consciência tranquila, por sempre termos levado uma vida ordeira e boa; de nos sentirmos cheios de nós mesmos, como aquele fariseu, descrito por Jesus na conhecida parábola, que agradeceu a Deus por não ser assim como os outros homens, "ladrões, injustos, adúlteros, nem assim como este publicano." Este é um ponto muito sério. O orgulho, a falsa confiança que a pessoa tem em si mesma, o farisaísmo mais ou menos escondido e camuflado, é o pior perigo que ameaça a vida do cristão. Jesus nos diz para nos cuidarmos do fermento dos fariseus. Ele sabe que tal fermento poderá estragar toda a massa. O orgulho perante Deus é o pecado do anjo revoltado, que quis ser como Deus e que levou os homens a quererem ser como Deus. O homem cheio de si mesmo, em realidade está vazio por dentro. Ele quer bancar um pequeno deus, e o que ele consegue é fazer um ídolo de si mesmo, ídolo que quer ser adorado, louvado, bajulado. Ele, que só ama a si mesmo, se torna mais e mais incapaz de amar a outros. Ele enche o seu vazio interno com amargura e com revolta. Vai culpando "os outros", a sociedade, os velhos, a juventude, e, bem por dentro, vai culpando o próprio Deus. Não foi bem isso que Adão fez, depois de cair na tentação da serpente que disse que seria igual a Deus? "A mulher que me deste por companheira, ela me deu, e eu comi". A mulher é a culpada. E tu, Deus, me deste a mulher. Logo, em realidade, és tu quem leva a culpa... Deus nos ilumine com sua verdade para que enxerguemos esta arapuca diabólica do farisaísmo. Deus nos livre do último vestígio do fermento dos fariseus, para que o bom fermento do evangelho possa crescer em nós.

E o segundo ponto: Jesus nos quer atrair para o lugar onde ele mesmo está. Não para um lugar seguro, em que não há problemas, mas para uma frente de combate, na qual o adversário é o lobo devorador, o mau inimigo, que quer destruir as pessoas, por dentro e por fora. Ninguém pense que entendeu o evangelho de Jesus, se não lhe doer no próprio coração a culpa de seu próximo. Ser salvo por Cristo dá vontade de salvar, de cooperar com Cristo em sua obra salvadora. E isso não permite que levemos uma vida acomodada, mesmo dentro de um rebanho grande e bem organizado. Não permite que condenemos o mundo, contentes por nós termos sido salvos. Lembremos que Jesus entrou na fila dos pecadores, ao ser batizado, e que foi aí mesmo que o Pai disse: "Este é o meu Filho amado em que me comprazo". Lembremos que Jesus morreu entre dois malfeitores!

Dize-me com quem andas e eu te direi quem és. Está certo. Só que você precisa olhar as coisas de um outro ângulo. É que Deus diz do pecador que anda com seu Filho e que crê nele: Se tu andas com meu Filho amado, eu te direi quem tu és. Já não és o homem perdido e condenado. Vejo em ti a imagem de meu Filho! Você compreende a alegria do pastor que põe nos seus ombros a ovelha que acaba de achar, chama os vizinhos e diz: "Alegrai-vos comigo, porque achei a ovelha que se perdeu?" Se você compreende, Deus seja louvado! Então você acaba de olhar para dentro do coração de Deus.

Oremos: Senhor, também nós muitas vezes pensamos que não vale à pena perder tempo com pessoas que não vêm à igreja, que levam uma vida desordeira e que voltaram as costas a ti. Muitas vezes, bem por dentro, achamos que somos só nós que merecemos a tua graça. Ó Senhor, salva-nos do farisaísmo; extingue em nós todo o falso orgulho. Desperta em nós o júbilo do Bom Pastor, que se alegra pela ovelha extraviada que voltou a seus braços. Amém.

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Autor: Lindolfo Weingärtner

terça-feira, 25 de setembro de 2012

[Esboço para pregação] O CAMINHO PARA RECEBER A VISÃO DE JESUS - Mateus 9.27-30

Introdução:
Os dois cegos mencionados neste texto deram sete passos em busca da visão material. Examinando cada um desses passos, percebemos que eles podem nos ensinar como chegar a Jesus e obter a visão espiritual de que tanto carecemos, especialmente a visão do Cristo coroado, cheio de glória e de verdade, poderoso para salvar e realizar todas as maravilhas.

I. Buscando a visão
1. Seguir a Jesus, v. 27
2. Clamar a ele, v. 27
3. Aproximar-se dele, v. 28
4. Ouvir o que ele tem a dizer, v. 28
5. Crer no que Jesus é capaz de fazer, v. 28
6. Sentir o toque dele, v. 29
7. Receber tudo pela fé, v. 29

II. Recebendo a visão
1. Os cegos tiveram os olhos abertos, v. 30
2. Os cegos testificaram, v. 31; João 9.25

Conclusão:
Quando recebemos o toque de Jesus, nossos olhos se abrem e exclamamos: Nunca vimos tal coisa! (Marcos 2.12). Você já deu os passos acima em direção a Jesus?

sábado, 22 de setembro de 2012

[Esboço para pregação] A PALAVRA DA CRUZ: OPINIÕES E EFEITOS - 1 Coríntios 1.18

Introdução:
O ser humano tem o direito de opinar, de pensar e de fazer conjecturas sobre os mais variados assuntos, trazendo sobre si os mais diferentes efeitos. Todavia, acerca da palavra da cruz é necessário que prevaleça unicamente a opinião da Bíblia Sagrada, inspirada pelo Espírito Santo, a fim de que os resultados sejam divinos, salvíficos e eternos.

I. O que é a palavra da cruz?
1. É o poder de Deus, v. 18
2. É o próprio Senhor Jesus Cristo, 1 Coríntios 1.24
3. É o verbo humanizado, João 1.14; Apocalipse 19.13
4. É a mensagem cristão, Marcos 2.2; 4.14; Atos 14.25
5. É loucura para os que se perdem, v. 18; 1 Coríntios 2.14
6. É o pode de Deus para os que se salvam, v. 18; 1 Coríntios 2.15-16
7. É pedra de tropeço para os incrédulos, 1 Pedro 2.8
8. É pedra preciosa para os que creem, 1 Pedro 2.7

II. Quais os efeitos da palavra da cruz?
1. Ele promove aceitação, Atos 4.4
2. Ela limpa, João 15.3
3. Ela reconcilia, 2 Coríntios 5.19
4. Ela regenera, 1 Pedro 1.23
5. Ela salva, Atos 13.26
6. Ela julga, João 12.48

Conclusão:
Apesar de a palavra da cruz ser tudo o que afirmamos acima, ela pode tornar-se completamente ineficaz em nossas vidas, se nossa opinião sobre ela for uma opinião errada (Marcos 7.13).

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

[Esboço para pregação] O MELHOR AMIGO - João 15.13-15

Introdução:
Reconhecemos, à nossa volta, diversos tipos de amizades. As pessoas são amigas de políticos, do dinheiro, da fama, do mundo, dos prazeres carnais, de si mesmas, etc. Em meio a tudo, Jesus se destaca como o melhor amigo.

I. O desafio do melhor amigo
1. Ele ama mais do qualquer outro, v. 13
2. Ele deu a vida por amos a nós, 1 João 3.16; João 10.11,15
3. Ele exige a prioridade do nosso amor, Tiago 4.4; 1 João 2.15

II. A exigência do melhor amigo
1. Devemos fazer tudo o que ele nos manda, v. 14
2. Devemos crer que ele se manisfestará a nós, João 14.21
3. Devemos crer que ele está conosco, Mateus 28.20; 1 João 3.24

III. A oferta do melhor amigo
1. Ele quer que saibamos tudo o que ele faz, v. 15
2. Ele quer nos revelar o Pai, v. 15
3. Ele quer que tenhamos unção e conhecimento, 1 João 2.20

Conclusão:
Tomemos posse, portanto, das bênçãos espirituais e materiais que nos podem ser concedidas por Jesus Cristo, nosso melhor amigo.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

[Esboço para pregação] A MELHOR LIBERTAÇÃO - João 8.31-36

Introdução:
Os países que no passado adotaram a escravatura comemoram a data em que esse desumano sistema social foi abolido. As minorias outrora escravizadas - ou os seus descendentes - honram a memória de seus libertadores. Há outros tipos de libertação, como a da libertação da mulher, da dependência econômica, política, etc. De todas as libertações, entretanto, a maior e melhor de todas é aquela realizada por Jesus.

I. A melhor libertação, v. 33

1. É a realizada pela verdade, v. 32
2. É a realizada pelo Filho, vs. 34,36; Lucas 15.10
3. É a verdadeira, vs. 36,32
4. É a que depende de nossa obediência, v. 31
5. É a que revela a verdade, v. 32
6. É a realizada através do melhor sangue, Hebreus 12.24

Conclusão:
A Bíblia fala dos tristes resultados que colherão os que desprezarem a maior e melhor de todas as libertações (2 Tessalonicenses 1.8-9).

[Esboço para pregação] OS MELHORES EVENTOS - Apocalipse 3.20

Introdução:
Se saíssemos por aí perguntando às pessoas acerca dos maiores eventos de suas vidas, ouviríamos por certo diferentes respostas. Para uns o maior acontecimento poderia ser o casamento, ou a chegada do primeiro filho; para outros a compra da casa própria, a sua formatura etc. O cristão fiel, entretanto, responderia que o maior evento da sua vida foi o seu novo nascimento, quando ele ouviu a voz de Jesus, abriu-lhe a porta, e o deixou entrar em seu coração.

I. Ouvir a voz do Senhor
1. Precisamos inclinar os ouvidos, Isaías 55.3
2. Precisamos ouvir de todo o coração, Deuteronômio 30.2
3. Precisamos ter ouvidos para ouvir, Mateus 13.9

II. Abrir a porta
1. Precisamos fazer a nossa parte. A chave está do lado de dentro.
2. Precisamos rasgar o coração, Joel 2.13
3. Precisamos tomar cuidado, Mateus 25.11-13

III. Deixá-lo entrar
1. Ele promete entrar, João 14.23
2. Ele deseja entrar para morar, Hebreus 3.6; Efésios 3.17
3. Ele deseja entrar hoje, Lucas 19.9

IV. Cear com ele
1. Comunhão mútua, 1 João 1.3
2. Comunhão com o Pai, 1 João 1.3
3. Comunhão com o Espírito Santo, 2 Coríntios 13.13

Conclusão:
O maior evento que pode ocorrer na vida de uma pessoa é sua experiência do novo nascimento proporcionado por Jesus Cristo.

domingo, 16 de setembro de 2012

[Perguntas e respostas] É VERDADE QUE A BÍBLIA ESTÁ CHEIA DE CONTRADIÇÕES? - 1 Crônicas 21.1

Aqui está uma das acusações comuns contra a Bíblia. Como podemos crer num livro que está cheio de contradições? As principais chamadas contradições envolvem datas de acontecimentos históricos, relatos bíblicos repetidos com enfoques diferentes (nos três primeiros Evangelhos) e discrepâncias numéricas e de listas genealógicas. Como resolver tais dificuldades? Em 2 Samuel 24.1, temos um exemplo do problema, pois quando o texto é comparado com o seu paralelo em 1 Crônicas 21.1, notamos a diferença: Em Samuel, lemos que Deus levou Davi a fazer o censo de Israel; aqui em Crônicas, o texto afirma que foi Satanás. Não é uma contradição? Como entender? Segundo a própria Bíblia, Satanás só pode agir sob a permissão de Deus, pois seu poder é limitado. Portanto, nada impede que Satanás tenha sido motivador imediato do censo realizado por Davi, enquanto que, ao mesmo tempo, como Deus tem o domínio sobre tudo, inclusive sobre Satanás e sobre Davi, ele é também o motivador último do ato de Davi, tendo poder de levar a efeito os seus propósitos. Algumas sugestões podem nos ajudar a resolver o problema dessas contradições:

1. Quando o leitor lê a Bíblia sem um espírito prevenido contra a mesma, é muito mais fácil encontrar a resposta para uma dúvida.
2. A compreensão da cultura da época ajuda muito. Os estudos das genealogias demonstraram, por exemplo, que alguns nomes eram pulados propositadamente, conforme a intenção do autor, o que era prática comum na Antiguidade.
3. Outras dificuldades surgem do enfoque do autor. Certo autor bíblico procura enfatizar uma parte da história, enquanto que outro omite certos detalhes porque não são importantes para o seu propósito.
4. Não podemos exigir precisão científica para certas afirmações bíblicas. Quando Atos 7.6 diz que o povo de Israel ficou 400 anos no Egito, a afirmação é feita de modo arredondado, assim, como alguém afirma que morou 5 anos em tal cidade hoje. Obviamente, ninguém vai dizer numa conversa informal que morou 5 anos, 3 meses, 12 dias e 8 horas e meia em tal lugar. Da mesma forma, o texto bíblico faz afirmações generalizadas em muitas passagens.
5. Há alguns problemas linguísticos e relativos aos manuscritos bíblicos, que, quando avaliados com mais atenção por especialistas, resolvem muitas dificuldades aparentemente insolúveis.

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Fonte: Bíblia de Estudo Esperança

sábado, 15 de setembro de 2012

[Esboço para pregação] O ADVOGADO MAIOR - 1 João 2.1-5

Introdução:
Quanto mais problemas surgem entre as pessoas, mais aumenta o número de advogados. Entre eles destacam-se os mais competentes nas mais diversas áreas do direito, e entre estes alguns chegam mesmo a fama pela grande habilidade com que defendem os seus clientes. Mas o maior de todos os advogados é capaz de resolver todo tipo de causas, inclusive as que se relacionam com o céu e com a vida eterna.

I. A maior de todas as causas
1. Essa causa é o pecado, v. 1
2. Essa causa é contra o céu, Lucas 15.18
3. Essa causa entrou no mundo pelo homem, Romanos 5.12
4. Essa causa condenou todas as pessoas, Romanos 3.23

II. O maior de todos os advogados
1. Ele é o Cristo, o Justo, v. 1; Jeremias 23.6
2. Ele é único, v. 1
3. Ele está junto ao Pai, v. 1
4. Ele advoga gratuitamente, Romanos 3.24
5. Ele mesmo fez propiciação pelos nossos pecados, v. 2; Romanos 3.25

III. O maior de todos os privilégios
1. Esse privilégio é conhecê-lo, João 17.3
2. Esse privilégio é guardar os seus mandamentos, vs. 3-5
3. Esse privilégio é termos a plenitude de Cristo, v. 5; Colossenses 2.10

Conclusão:
Só Jesus, o maior de todos os advogados, pode resolver a maior de todas as causas. E ele faz isto gratuitamente.

sábado, 8 de setembro de 2012

[Esboço para pregação] A GRANDE DIFERENÇA - 1 Pedro 4.1-5

Introdução:
No mundo em que vivemos encontramos profundas diferenças sociais, econômicas e culturais. Uns moram em lindas mansões, enauqnto outros em favelas. Uns gastam boa parte da vida adquirindo cultura, enquanto outros permanecem analfabetos. Tais diferenças não farão nenhum sentido após a morte. No plano espiritual, entretanto, há uma diferença entre os que fazem a vontade de Deus e os que a rejeitam, direfença que continuará por toda a eternidade.

I. Somos direferentes porque sofremos com Cristo
1. Cristo sofreu na carne - v. 1
2. Cristo já cessou do pecado - v. 1
3. Cristo levou os nossos pecados - 1 Pedro 2.24

II. Somos diferentes porque vivemos com Cristo
1. Remindo o tempo que nos resta - v. 2
2. Renunciando à carne - vs. 2-3
3. Praticando a vontade de Deus - v. 2

III. Somos diferentes porque não seremos condenados
1. Os perdidos terão de prestar contas - v. 5
2. Os salvos não serão condenados - Romanos 8.1
3. Por fim, a diferença será bem acentuada - Malaquias 3.17-18

Conclusão:
O mundo não entende a diferença entre os que servem a Deus e os que não o servem. Eles estranham o fato de não concorrermos com eles no mesmo desenfreamento de dissoluções (v. 4), e por isso nos odeiam (João 15.18-19).

[Esboços para pregação] A GRANDE VITÓRIA - 1 João 5.4-5

Introdução:
Estamos vivendo numa época em que as pessoas lutam todas as suas forças e usam de todos os meios para vencer. Esta luta, contudo, não é o bom combate da fé, e o resultado final não será a verdadeira vitória. Somente o cristão verdadeiro luta a boa luta por conhecer o segredo da grande vitória.

I. Quem vence o mundo?
1. O que é nascido de Deus - v. 4; João 1.13
2. O que é nascido da água e do Espírito - João 3.3-5
3. O que crê que Jesus é o Filho de Deus - v. 5

II. Qual é a grande vitória?
1. É a nossa fé (v. 4), através da qual recebemos:
a. A remissão de pecados num mundo pecaminoso - Atos 10.43
b. A paz num mundo conturbado - Romanos 15.13
c. A alegria num mundo triste e angustiado - 1 Pedro 1.8
d. O descanso num mundo agitado - Hebreus 4.3; Mateus 11.28-29
e. A esperança num mundo desesperançado - Romanos 15.13
2. Todas as coisas num mundo de escassez - Mateus 21.22
3. A vida eterna num mundo de morte - João 5.24

Conclusão:
Somente a fé verdadeira dos que nasceram de Deus produz a grande vitória sobre a carne, o mundo e o diabo.

sábado, 13 de agosto de 2011

[Esboço para pregação] CÉU ABERTO PARA VOCÊ (2)

Mateus 3.13-17 
Leitura Complementar: 
Salmo 42 

Nosso texto nos fala de João Batista, o homem que preparou o caminho de Jesus. João não se acha no centro daquilo que acontece. No centro está Jesus. Mas antes de nos dirigirmos a este centro, queremos demorar-nos, por alguns instantes, junto àquele homem simples e rude, vestido de roupa grosseira, que parece mais ser um profeta do Antigo Testamento, transposto para o Novo. Ele é um pregador, um homem de fala rude, grosseira como sua própria roupa. Fala do Reino de Deus, que vem chegando; fala do juízo do qual ninguém vai escapar; chama os homens ao arrependimento. Diz que ninguém se fie em sua religião herdada, que ninguém se fie no fato de ser filho de Abraão. Diz que Deus é capaz de criar filhos a Abraão "destas pedras". Diz que o machado já foi colocado à raiz da árvore, pronto para abatê-la: "Arrependei-vos, porque está próximo o Reino de Deus." E quando observa que, entre a multidão que se ajunta em redor dele, às margens do Rio Jordão, onde ele batiza os que se arrependem, se encontram muitos fariseus e saduceus, ele lança ao rosto destes líderes religiosos: "Raça de cobras! Quem vos levou a fugir da ira vindoura?" 

Um homem incômodo, este João Batista. Ele não põe nenhum mel nos lábios de seus ouvintes. Não trata os abscessos purulentos da injustiça com pomadinhas bem cheirosas. Ele corta o abscesso, abre o furúnculo, fazendo o mal aparecer em toda a sua gravidade. Apesar disto, uma multidão o rodeia. Um movimento de arrependimento, um despertamento em grande escala se inicia. O povo confessa publicamente o seu pecado, pedindo para ser batizado por João. É como se a terra fosse sendo virada, revolvida e preparada para receber a semente do evangelho.

O próprio João ainda não conhece o evangelho. Ele batiza com água, pregando o arrependimento e o juízo. Sabe e diz que o Cristo, que há de vir, batizará com fogo e com Espírito Santo. Sabe e diz que o Cristo será maior que ele. Sabe e diz que ele, João Batista, nem é digno de levar as sandálias do Messias, pelo qual ele espera. João Batista tem, portanto, uma ideia bem definida de Cristo, tem uma imagem dele: a imagem do homem de Deus, com o machado à mão, pronto para derrubar a árvore da injustiça. Esta imagem, por certo, não era nenhuma fantasia. João Batista era profeta, e os profetas não costumam seguir nem fantasias, nem sonhos. Mas agora acontece uma coisa inesperada. Quando João se encontra com o próprio Cristo, ele vê que a imagem que dele tinha feito precisava ser corrigida.

Antes de tudo, João Batista se choca, sim, se escandaliza, por uma coisa: Jesus se aproxima dele misturado ao povo. Sem explicar coisa alguma, ele se coloca na fila dos pecadores, bem no meio desta "raça de cobras", entre os fariseus fingidos e os funcionários corruptos e pede para ser batizado junto com eles. João Batista compara este Jesus de Nazaré com a imagem que ele tinha do Cristo em sua ideia, e diz: não poder ser. Ele quer convencer Jesus de que não é conveniente o que ele deseja. Quer fazê-lo mudar de ideia: "Eu preciso ser batizado por ti, e tu vens a mim?"

Vamos confessá-lo: bem no íntimo, entendemos muito bem este João Batista. Jesus realmente ia fazendo uma coisa chocante e inesperada. É que nós também temos uma imagem de Cristo, imagem que se choca com o Cristo verdadeiro, imagem que precisa ser corrigida por ele. Talvez tenhamos dele uma imagem de pastor de ovelhas, de olhar doce, que leva um cordeirinho nos braços. Talvez, para nós, seja o grande milagreiro, do qual esperamos ajuda em nossos problemas pessoais. E, quando nos encontramos com o Cristo verdadeiro, notamos que esta imagem não confere. Notamos que a relação pessoal com Cristo transforma a imagem que tínhamos dele. E a coisa mais chocante, outrora como hoje, é que Jesus realmente se coloca na fila dos pecadores, que ele não fica pairando no alto, anunciando o juízo justo sobre esta humanidade perversa, mas que ele sofre o juízo, junto com os pecadores que o rodeiam. Em verdade, Jesus, quando diz "Assim nos convém cumprir toda a justiça", já se acha voltado em direção à cruz, iniciando seu caminho de humildade, de obediência e de sacrifício.

Sim, João Batista teve que aprender uma lição muito dura. A sua imagem de Cristo sofreu uma mudança tremenda. Em realidade, esta imagem foi derrubada. Foi substituída pelo Cristo real. E neste ponto poderemos aprender uma coisa importante deste rude pregador. Ele não se agarra à imagem de Cristo que tivera antes. Ele se deixa corrigir. Faz o que Cristo lhe diz, mesmo que não o compreenda. Batiza com as águas turvas do Jordão aquele que iria batizar os homens com fogo e com Espírito Santo.

E agora nos voltemos de João Batista para o próprio Cristo. Voltemo-nos ao centro de nosso texto. Ou será que já estamos lá? O próprio João Batista não nos mostra o caminho? Ele não deixa que Jesus se misture com os pecadores? Ele não deixa Cristo tomar conta da situação? Em verdade, ele o faz. Façamos nós o mesmo e olhemos para aquele, ao qual o rude pregador do deserto nos acaba de preparar o caminho.

Depois de batizado, depois de "cumprida toda a justiça", "Jesus saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito Santo de Deus descendo como pomba, vindo sobre ele. E eis uma voz dos céus, que dizia: liste é meu Filho amado, em que me comprazo".

Uma voz do céu? Para nós, pessoas do século vinte e um, é duro aceitar isto. Não só por ser difícil de imaginar, por contrariar a nossa experiência de cada dia. Mas, pensamos, mesmo que seja! Mesmo que sobre Jesus o céu esteja aberto, que ele tenha comunhão direta com o Pai, que ele realmente seja o Filho amado, que é que tem isso comigo? Comigo, que vivo num mundo diferente, um inundo, sobre o qual o céu parece fechado de vez, um inundo cheio de desarmonia e de desgraça? Pensamos nas injustiças e nas maldades que se nos apresentam em cada noticiário de televisão ou de rádio; pensamos em iodas estas coisas angustiantes que pairam sobre nós como nuvens escuras, fechando o céu, escondendo Deus! Pensamos nos acidentes de tráfego, na miséria dos pobres, nos matrimónios destruídos, na juventude revoltada, no grande circo que estão fazendo para tirar o dinheiro do bolso das pessoas! Será que esta mensagem do céu aberto ainda tem cabimento? Para nós, pelo contrário, o céu parece trancado a chave, apesar dos voos espaciais que os homens realizam. O primeiro astronauta, o russo Gagarin, não teria tido razão, quando afirmou que lá, nas alturas, não viu nada de Deus? A ciência, a técnica com todas a suas invenções, não foi tapando mais e mais aquele céu para nós, no qual acreditamos na infância, de tal forma que hoje nem sabemos mais se ele existe?

Mas o que acabamos de descrever é o que pensa o descrente. Você dirá, com razão, que precisamos olhar para a igreja, quando nos pomos à procura do céu. Não é ela que nos deve apontar a abertura do céu? Sim, ela deve. E esta a sua tarefa. Sua única tarefa. Mas, ela não é dona desta abertura. A igreja não abre o céu para ninguém. Até poderá acontecer que a própria igreja entre em crise, que ela se envolva em todos os problemas da terra e que se esqueça totalmente de apontar para o céu aberto. E então surgem os fariseus, os acusadores, que, no dizer de Jesus, "fecham o céu para os homens". E não acontece que o nosso próprio rosto tantas e tantas vezes reflete um céu fechado, assim como um lago reflete as nuvens escuras, num dia chuvoso?

Agora ouçamos com atenção: a tarefa da igreja não é dizer que sobre ela o céu está aberto. Nem dizer que ela é capaz de abrir o céu. A tarefa da igreja é pregar a mensagem (incrível, se o Espírito Santo não a comprovar) de que o céu está aberto sobre Jesus. Sobre aquele Jesus que entrou na fila dos pecadores, que se deixou batizar com eles, que sofreu por eles, que os amou até a morte, que ressurgiu e subiu ao céu, mantendo o caminho aberto para os pecadores, dos quais se tornou irmão. Compreenda este segredo maravilhoso: se o céu está aberto sobre Jesus, e se Jesus se põe ao lado do pecador, então o céu também está aberto sobre o pecador que se põe ao lado de Jesus. Então o céu pode estar aberto, aqui e agora mesmo, sobre você e sobre mim. Basta reconhecê-lo, na fila, e aceitá-lo como Salvador. Então este nosso mundo, cheio de realidades contraditórias, cheio de maldade e perversidade, mudou de natureza. Então há esperança para o mundo. Então não permanecerá uma realidade fechada, obscura, ameaçadora. Então o evangelho foi realmente implantado neste mundo: quando uma pessoa chega a crer, quando ela se põe a seguir Jesus, no caminho da obediência, aí Deus lhe diz, assim como disse a Jesus: "Este é meu filho amado". E o céu deixará de ser fechado para ele.

Será que poderemos guardar segredo desta notícia gloriosa? Se nós realmente chegarmos a conhecer o lugar onde o céu está aberto, então vamos passar a notícia adiante. Vamos orar "Pai nosso que estás no céu", não apenas: "Meu Pai que estás no céu". Porque Jesus também não disse apenas "Meu Pai". Ele disse "nosso Pai". Em todos os sentidos, ele incluiu a você e a mim no seu povo, povo que salvou da perdição.

E se você perguntar: Onde acontece isso? Onde posso ler essa experiência maravilhosa? Eu lhe responderei: Muito perto de você. Não é que precise ir às margens do rio Jordão para ver o céu aberto. Na oração, na leitura da palavra de Deus, na comunhão do culto dominical, no Batismo e na Ceia do Senhor, na prática do amor de Cristo. Deus continua abrindo o céu sobre Cristo, o seu Filho, no qual pôs a sua complacência, para toda a eternidade.

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Autor: Lindolfo Weigärtner

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

[Esboço para pregação] CARTA DE DEUS

2 Timóteo 3.10-16 
Leitura Complementar: 
Salmo 119.165-176 

Quantas bíblias há? Ora, há milhões, em centenas de línguas diferentes. E em realidade há uma Bíblia só. É a palavra de Deus. É a descrição daquilo que Deus fez, criando e mantendo o mundo, seguindo suas criaturas extraviadas para salvá-las, revelando-se em Jesus Cristo, abrindo por ele o caminho da salvação para todos os que o quiserem aceitar. 

Sim, graças a Deus: há uma Bíblia só. Não é verdade que há uma Bíblia protestante e outra católica. As pequenas diferenças de tradução, a inclusão de algumas páginas a mais, no Antigo Testamento, não têm importância alguma. Deus seja louvado por termos este tesouro em comum: a Bíblia Sagrada. Ela vai permanecer a base de nossa fé. Nela Deus explicou com clareza qual a sua vontade e quais os seus planos. Católicos, protestantes, seitas, crentes e descrentes, todos precisam enfrentar esta realidade: este maravilhoso livro é um só. Sua mensagem é uma só, e é uma mensagem dirigida a todos, por igual. Ninguém tem o direito de fazer com este livro o que bem entende. Deus é o Senhor deste livro. Cristo é o seu conteúdo. O Cristo, ainda encoberto no Antigo Testamento, e revelado no Novo. Assim, ao lermos a Bíblia com fé, vamos notando que já não são as letras dela que falam. É Deus mesmo que nos vai chamando, que nos vai orientando, consolando e fortalecendo. É por isso que o evangelista João chama Jesus de "Palavra de Deus", ou "Verbo de Deus". É importante que o compreendamos: a Bíblia não é nenhuma coleção de sabedorias religiosas ou de doutrinas a respeito de Deus. Nela se revela o próprio Deus pessoal. O Deus, que em Cristo se tornou homem. 

Quantas bíblias há? Uma só, como acabamos de dizer. E, no entanto, de certa forma podemos afirmar que há duas bíblias. Ou, ao menos, que há uma cópia viva da Bíblia Sagrada, um espelho, no qual se reflete o evangelho. Esta cópia, este espelho, esta explicação viva da Escritura Sagrada são os cristãos. O apóstolo Paulo chegou a escrever à comunidade de Corinto (2 Coríntios 3.2-3): "Vós sois a nossa carta, escrita em nossos corações e lida por todos os homens, estando já manifesta como carta de Cristo, escrita não com tinta, mas pelo Espírito do Deus vivente". 

Há quem diga que hoje em dia os descrentes não são mais convertidos com a simples leitura da Bíblia Sagrada; que eles são convertidos com a leitura daquela carta de Cristo, que é uma comunidade viva, criada e guiada por seu Espírito. Não vou dizer que aqueles que assim falam estejam com toda a razão. Eles só têm razão em parte. Porque ninguém deve separar estas duas cartas. A carta da Bíblia, documento dos grandes feitos de Deus no passado, e a carta viva de uma comunidade onde o mesmo Deus hoje vai realizando e cumprindo suas promessas e onde vai escrevendo sua vontade nos corações de seus filhos. Deus não tem duas vontades diferentes. Ele tem uma vontade só. A vontade de Deus revelada na Escritura Sagrada é a mesma que ele manifesta através de suas cartas escritas hoje, nos corações dos crentes, através de seu Espírito Santo. E, sempre que estas duas cartas não combinarem, devemos ficar alertas. Então há algo errado, ou com nossas vistas, que talvez se tornaram fracas ou míopes e que não enxergam mais direito o que está escrito na Bíblia, ou, então, a carta de Cristo ao mundo, a carta viva, que é a sua comunidade, foi sendo borrada, manchada e tornada ilegível pela descrença. 

Vejamos o que o apóstolo Paulo diz em nosso trecho bíblico, que lemos há pouco. Talvez, leiamos mais uma vez a passagem toda, bem atentos ao que ele diz das "duas cartas" de que falamos. 

Notamos que, na primeira parte de nosso trecho, Paulo fala de si mesmo, de seu ensino, seu procedimento, sua paciência, seu amor, sua fidelidade. Fala de seus sofrimentos e da perseguição que sofreu. Diz que todos os que querem servir a Cristo sofrem contrariedades e perseguição. Quem não conhece bem as cartas do apóstolo, até poderia pensar que ele vai pregando a si mesmo, colocando a sua própria pessoa como exemplo a ser imitado. Mas isto, em realidade, não acontece. Na mesma carta aos Coríntios (2 Coríntios 4.5), da qual já falamos, Paulo diz: "Não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus como Senhor, e a nós mesmos como vossos servos por amor de Jesus." Pois é isso mesmo que nós precisamos enxergar para entendermos bem esta passagem. Paulo não se prega a si mesmo. Ele apenas descreve um servo de Jesus Cristo. Nada mais e nada menos. Ele diz a verdade. Não exalta a sua própria pessoa. Ele exalta Jesus Cristo, seu Senhor. Exalta-o com sua vida e com seu testemunho. Paulo passou a ser uma carta viva de Jesus, que podia ser lida e entendida até por analfabetos. Quem via a sua fé, sua paciência, sua firmeza na perseguição, era levado a perguntar: De onde este homem tem tudo isso? De onde recebe a sua força? Qual é o segredo de sua vida? Por que é diferente dos homens "perversos e impostores que irão de mal a pior, enganando e sendo enganados"? E se houver, na vida de Paulo, um passado escuro (e sabemos que houve mesmo), que aconteceu com ele? E então os que liam esta carta, a saber, a vida de Paulo, daquele Paulo regenerado, nascido de novo pelo Espírito de Deus, esses iam sendo atraídos, puxados realmente para junto de Jesus. Quer dizer que não ficavam agarrados ao servo de Jesus, que era Paulo. Eles não eram cegos! Viam bem que este homem era um pecador. Paulo mesmo não negava que era um homem com defeitos e fraquezas, um homem como eles mesmos. Mas eles viam o que Cristo tinha feito dele e o que ele continuava fazendo dele e por ele. E assim eles liam esta "bíblia", nesta carta manifesta de Cristo, e passavam a procurar a fonte, da qual se alimentava aquele servo de Jesus. 

E é o próprio Paulo que lhes indica esta fonte. Ele escreve a seu jovem amigo Timóteo: "Desde a infância conheces as Sagradas Letras (isto é, a Bíblia, no caso, o Antigo Testamento), que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus". 

Aqui temos a chave para a compreensão de nossa passagem bíblica. O servo de Jesus dá o testemunho de sua vida. Ele deixa que outros leiam a carta que Jesus escreveu através do trabalho, do testemunho, do amor, do serviço obediente de seu servo Paulo. Mas não fica por aí. Ele leva os seus irmãos a beberem da mesma fonte da qual ele bebeu, e da qual ainda está bebendo. Se não fizesse isso, se apenas convidasse as pessoas a beberem do copo dele, ele não iria longe. O seu copo ficaria vazio. Ele acabaria não tendo mais água nem para si mesmo. 

Os que distribuem água em tempo de seca precisam ir à fonte mais vezes do que qualquer outra pessoa. Mas não basta que eles vão para matarem a própria sede e para irem buscar água para outros. Eles precisam mostrar o caminho para a fonte a todos os sedentos. Senão eles acabam se matando de tanto correr para cá e para lá. Foi isso mesmo que Paulo fez com Timóteo. Ele lhe indicou o seu exemplo, deixou que lesse aquela carta viva de Cristo. Mas não parou nisso. Indicou-lhe a fonte, a Sagrada Escritura, e o Senhor desta Escritura, o próprio Deus, revelado em Jesus Cristo. "As Sagradas Letras podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Jesus Cristo." Entendamos bem: ele não diz que a Bíblia salva; diz que a salvação vem pela fé em Jesus Cristo. Mas a leitura da , Bíblia nos torna sábios para esta salvação. E isso realmente não é pouco. 

Tendo entendido isto, não nos vamos mais chocar com aquilo que Paulo continua dizendo: que a Escritura é "inspirada por Deus e útil para o ensino e para a educação na justiça...". Ele não nos convida a brigarmos por causa de letras e palavras da grande carta de Deus. Não nos permite jogar uma passagem contra outra, nem apoiar uma passagem com a outra, como se a Bíblia necessitasse de inspiração por parte de nós. Anuncia que Deus é o Senhor de toda a Sagrada Escritura e que importa acharmos, ouvirmos e obedecermos a ele, que nos vai falando através da mensagem que inspirou. Quer que leiamos os detalhes da Grande Carta, mas não quer que nos fixemos em detalhes, perdendo de vista o centro da Bíblia. Pois o centro da Bíblia é a comunicação de que Deus nos ama. Que ele deu o seu próprio Filho para que nós, os perdidos, pudéssemos ser salvos. Essa é a mensagem resumida da Bíblia, é o todo dela. É a mensagem inspirada que Ha contém. Mensagem que realmente é infalível. A gente pode confiar nela. É palavra de Deus. Palavra de Deus, que não engana ninguém. Porque Deus é o Deus da Verdade. 

E o que tudo isso tem comigo? Muito. Entendendo que a Bíblia é realmente a carta de Deus para o mundo todo, ela também o é para mim. Desprezando este livro, não n brindo e não lendo a carta de amor que Deus dirigiu a mim, estarei desprezando o próprio Deus. 

E a carta de Cristo, escrita pelo Espírito Santo nos corações dos cristãos? Não a poderei desprezar tampouco. Será para mim uma questão de vida ou de morte seguir ou não seguir o exemplo dos servos de Jesus, em cuja vida eu estou lendo, como se fosse uma carta aberta. Será decisivo para mim que eu aprenda a ler esta carta viva de Cristo, conferindo o resultado da leitura com o que Deus me diz na Bíblia Sagrada. 

E, afinal, o que importa é que eu mesmo me torne uma tal carta de Cristo, uma bíblia viva, que, com seu exemplo e com sua obediência, oferece orientação e apoio àqueles que estão tateando no escuro. Há pessoas que estão desejando ardentemente ler uma tal carta, não borrada, não falsificada, simples e clara, um comentário vivo da grande carta de amor de Deus, a Sagrada Escritura.

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Autor: Lindolfo Weingätner

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