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terça-feira, 23 de novembro de 2010

Práticas Devocionais - PRÁTICA DA ALEGRIA

A prática da alegria é a arte de oferecer resistência à tristeza por meio do gozo proporcionado pela presença de Deus na vida daquele que o busca honesta e continuamente. Depende da descoberta e exploração das muitas e variadas minas de alegria que estão à margem do caminho em direção à vida eterna.

A alegria não é só uma opção de vida. É uma ordem de Deus ao seu povo. Em Cristo, é uma aberração não ser alegre. É um mau testemunho. É uma contra-evangelização. É uma falta de coerência. O mandamento da alegria está espalhado nas Escrituras Sagradas: nos livros da lei (Dt 16.11), nos Salmos (Sl 32.11), nos profetas (Zc 9-9), nos Evangelhos (Lc 10.20), nas Epístolas (Fp 4.4) e no Apocalipse (Ap 19.7).

A Bíblia ensina uma alegria teimosa, aparentemente arrogante, não-científica, baseada na fé, e não na instabilidade das circunstâncias de tempo e lugar, comprometida mais com a saúde da alma do que com o bem-estar físico. Esse tipo resistente e durável de alegria pode ser visto na famosa oração de Habacuque; "Embora as figueiras tenham sido totalmente destruídas e não haja flores nem frutos; embora as colheitas de azeitonas sejam um fracasso e os campos estejam imprestáveis; embora os rebanhos morram pêlos pastos e os currais estejam vazios, eu me alegrarei no Senhor! Ficarei muito feliz no Deus da minha salvação!" (Hc 3.17, 18, BV.)

É importante lembrar que Paulo estava em um cárcere quando escreveu a Epístola aos Filipenses, na qual enfatiza a prática da alegria: "Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo, alegrai-vos" (Fp 4.4). Nessa mesma carta, o apóstolo declara ter aprendido a viver contente em toda e qualquer situação; "Tanto de fartura, como de fome; assim de abundância, como de escassez; tudo posso naquele que me fortalece" (Fp 4.12-13).

GRITOS DE ALEGRIA

A Bíblia descreve o regozijo do povo de Deus no correr dos anos e não economiza palavras para mencionar a intensidade e a qualidade dessa alegria.

Fala-se em grande alegria (Lc 24.52; At 8.8; Fm 7), em alegria completa (Jo 16.24; l Jo 1.4; 2 Jo 12), em abundância de alegria (2 Co 8.2), em alegria transbordante (Mt 13.44; At 13.52), em plenitude de alegria (Sl 16.11), em alegria indizível (l Pe 1.8), em alegria eterna (Is 35.10) ou perpétua alegria (Is 51.11), em alegria em extremo (Jn 4.6) e até em gritos de alegria (Sl 42.4). As vozes da alegria provocada pela restauração e dedicação dos muros de Jerusalém na época de Esdras e Neemias foram ouvidas a uma grande distância (Ne 12.43). Salomão descreve a alegria do coração como um banquete contínuo (Pv 15.15). E Jesus faz questão de dizer que a alegria provocada por sua ressurreição seria permanente: "A vossa alegria ninguém poderá tirar" (Jo 16.22).

A alegria propicia o louvor: "Está alguém alegre? Cante louvores" (Tg 5.13). O salmo 42 lembra com saudades da multidão em festa por ocasião das procissões à casa de Deus, "entre gritos de alegria e louvor" (w. 4, 5). O povo comemorou a renovação da aliança na época do sacerdote Joiada "com alegria e com canto, segundo a instituição de Davi" (2 Cr 23.18). É muito difícil separar a alegria do louvor, o louvor da música e a música da expressão corporal (dança): "Louvai-o [a Deus] ao som da trombeta; louvai-o com saltério e com harpa, louvai-o com adufes e danças; louvai-o com instrumentos de corda e com flautas, louvai-o com címbalos sonoros; louvai-o com címbalos retumbantes" (Sl 150.3-5). Momentos de intensa alegria foram descarregados na música e na dança: por Miriã, logo depois da travessia do mar Vermelho (Êx 15.20-21); pela filha de Jefté, logo depois da vitória do pai sobre os filhos de Amom (Jz 11.34); e por Davi, logo depois da recuperação da arca do Senhor (2 Sm 6.14-15).

A FONTE PRIMEIRA

Na verdade, a maior fonte de alegria é a presença de Deus na vida diária do homem: "Na tua presença há plenitude de alegria, na tua destra delícias perpetuamente" (Sl 16.11). Daí a oração de Moisés: "Sacia-nos de manhã com a tua benignidade, para que cantemos de júbilo e nos alegremos todos os nossos dias" (Sl 90.14).

Davi e Salomão, pai e filho, confirmam essa verdade. Porque pecou e se retirou da presença de Deus, Davi perdeu a alegria, que lhe era uma experiência comum. É por essa razão que ele pede duas vezes no famoso salmo de confissão e arrependimento o retorno desse estado de espírito: "Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que exultem os ossos que esmagaste" e "Restitui-me a alegria da tua salvação" (Sl 51.8, 12). Já Salomão, seu filho, se distanciou de Deus por causa de suas mulheres estrangeiras (l Rs 11.1-8) e peregrinou atrás de alegrias duvidosas e efêmeras, entregando-se sem reserva a todos os seus desejos (Ec 2.10), tendo chegado por fim à feliz conclusão de que, separado de Deus, "quem pode alegrar-se?" (Ec 2.25.)

Essa lição foi duramente aprendida tanto por Davi como por Salomão. O primeiro confessou: "O Senhor, tenho-o sempre à minha presença" (Sl 16.8). O segundo escreveu um dos apelos mais convincentes e bonitos das Escrituras contra a frustração e o tédio e a favor da colocação de Deus na linha de frente do pensamento humano: "Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais dirás: Não tenho neles prazer" (Ec 12.1).

Quando se fala em alegria na Bíblia, repetidas vezes refere-se à alegria no Senhor. Vejam-se os salmos de Davi (9-2; 32.11; 63.11). a oração de Habacuque (He 3.18) e a Epístola de Paulo aos Filipenses (Fp 4.4).

MINAS DE ALEGRIA

A alegria não é tão difícil quanto os pessimistas pensam Ela é provocada por coisas simples sempre relacionadas com a pessoa de Deus. Basta lembrar que a alegria é fruto do Espírito (Gl 5.22), consequência inevitável para quem está em Cristo e anda no Espírito, e não na carne. Essa verdade é reforçada por mais este texto: "Vocês receberam a mensagem com aquela alegria que vem do Espírito Santo, embora tenham sofrido muito" (l Ts 1.6, BLH).

Outra fonte de alegria é a segurança do perdão e da salvação: "Alegrai-vos, não porque os espíritos se vos submetem, e, sim, porque os vossos nomes estão arrolados nos céus" (Lc 10.20).

Todas as vezes que Deus se manifesta e aviva a sua obra no decorrer dos anos e a faz conhecida (He 3.2), há muita alegria: "Quando o Senhor restaurar a sorte do seu povo, então exultará Jacó, e Israel se alegrará" (Sl 14.7; 53.6). Talvez seja uma das mais poderosas fontes de alegria do povo de Deus (2 Cr 15.15; 29.36; 30.23-27; Ed 6.22; Ne 12.43). O crescimento quantitativo e qualitativo da igreja primitiva foi celebrado com muita alegria (At 15.3), justificando o provérbio de Salomão: "Quando se multiplicam os justos o povo se alegra, quando, porém, domina o perverso, o povo suspira" (Pv29.2).

O fruto do penoso trabalho também é fonte de alegria, até para Jesus: "Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma, e ficará satisfeito" (Is 53.11). Paulo correu risco de vida em Tessalônica (At 17.1-10), mas muito se alegrou com os resultados de seu trabalho naquela cidade e escreveu aos tessalonicenses: "Vós sois realmente a nossa glória e a nossa alegria!" (l Ts 2.20.) Na pequena epístola dirigida a Gaio, João se abre: "Não tenho maior alegria do que esta, a de ou¬vir que meus filhos [na fé] andam na verdade" (3 Jo 4).

As promessas de Deus são outra verdadeira fonte de alegria: "Alegro-me nas tuas promessas, como quem acha grandes despojos" (Sl 119.162). A esperança produz alegria antecipada e diminui sensivelmente o impacto da dor, como aconteceu com Paulo: "Para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não são para comparar com a glória por vir a ser revelada em nós" (Rm 8.18). Os heróis da fé listados na Epístola aos Hebreus não obtiveram em vida a concretização da promessa, mas viveram debaixo da alegria e do entusiasmo daquilo que Deus prometeu fazer a seu tempo (Hb 11.39, 40). Entre Zacarias e o nascimento de Jesus, há pelo menos cinco séculos, mas o profeta anunciou à sua geração: "Alegra-te muito, ó filha de Sião; exulta, ó filha de Jerusalém: eis aí te vem o teu Rei, justo e salvador, humilde, montado em jumento, num jumentinho, cria de jumenta" (Zc9-9).

Enquanto entre os secularizados a alegria depende do ter, e não do ser, de receber, e não de dar, entre os cristãos um dos segredos da alegria é a ordem inversa: "Mais bem-aventurado é dar que receber" (At 20.35). Essa palavra atribuída a Jesus é comprovada na experiência do povo de Deus tanto na época da construção do primeiro templo (l Cr 29.9) como na época da restauração da casa do Senhor, cerca de 150 anos depois (2 Cr 24.10). Em ambos os textos, se lê que o povo se alegrou por ter dado liberalmente a sua contribuição voluntária.

TEMPOS DE ALEGRIA

Por causa do pecado, por causa da depravação humana, por causa da ordem política e social injusta, por causa da incredulidade, por causa da atuação satânica, por causa do orgulho humano, por causa da fome e da miséria, por causa da enfermidade e da morte, por causa da rejeição do evangelho e por causa dos erros cometidos pela liderança civil e religiosa — nem todo tempo é tempo de alegria. A Bíblia ressalta esta verdade: "[Há] tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de saltar de alegria" (Ec 3.4).

O próprio Jesus, a fonte de toda a alegria, teve momentos de tristeza. Ele chegou a chorar ao ver Maria, irmã de Lázaro, em prantos por causa da morte do irmão (Jo 11.33-35). Chorou outra vez, na entrada triunfal em Jerusalém, ao ver, do alto do Monte das Oliveiras, a cidade impenitente e marcada para a completa ruína (Lc 19.41-44). A sua maior tristeza, porém, foi no jardim do Getsêmani, quando buscou a simpatia de Pedro, Tiago e João: "A minha alma está profundamente triste até à morte; ficai aqui e vigiai comigo" (Mt 26.38).

Em certas situações muito especiais, a tristeza torna-se virtude e a alegria torna-se pecado. Paulo se mostra virtuoso ao se preocupar com a incredulidade dos judeus, a despeito de todas as prerrogativas do povo eleito, seus irmãos e compatriotas segundo a carne: "Tenho grande tristeza e incessante dor no coração" (Rm 9.1-5). Jó também se mostra virtuoso porque não se alegrou com a desgraça daquele que lhe devotava ódio (Jó 31.29). Aliás, está escrito que "o que se alegra da calamidade não ficará impune" (Pv 17.5). Existem o "Alegra-te" (Zc 9.9) e o "Não te alegres" (Os 9.1). O "alegra-te" é para as coisas que Deus faz (Sl 118.24), e o "não te alegres" é para as coisas que o homem faz de errado (Tg 4.9). A tristeza tem de ser bem dosada. Tem de ser passageira. Tem de ser usada por Deus para provocar humildade, arre-pendimento e mudança de comportamento (2 Co 7.10). Tem de ser resolvida pela consolação das Escrituras (Rm 15.4) e pela consolação do Espírito (Jo 14.16). Tem de ser amenizada pela esperança cristã (l Ts 4.18). Tem de ser sucedida pela alegria, como se preconiza neste salmo: "Ao anoitecer pode vir o choro, mas a alegria vem pela manhã" (Sl 30.5). Tem de ser positiva como as dores da mulher que está para dar à luz, prontamente aliviadas ao nascer a criança (Jo 16.21-22). Tem de ser vencida e subjugada pela alegria do Senhor. Para tanto, é necessário recorrer a Deus: "Alegra-nos por tantos dias quantos nos tens afligido, por tantos anos quantos suportamos a adversidade" (Sl 90.15).


Autor: Elben M. L. Cesar

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Práticas Devocionais - PRÁTICA DA VONTADE

A prática da vontade é a arte de gerir o dom do livre-arbítrio com inteligência, responsabilidade e acerto, submetendo cada desejo ao crivo da exaltação do nome de Deus, na certeza de que Ele pedirá conta de todas as coisas.

O homem não se dirige apenas por instinto, mas por livre escolha. Nesse sentido, ele é imagem e semelhança de Deus. A vontade faz parte da natureza humana e é algo imprescindível: a vontade de viver, a vontade de trabalhar, a vontade de amar, a vontade de dar, a vontade de ser bem-sucedido, a vontade de agradar a Deus, e até mesmo a vontade de "deixar esta vida e estar com Cristo" (Fp 1.23, BLH). O dom da vontade, outorgado por Deus, facilita muito a vida, torna tudo agradável e transfere uma dose enorme de responsabilidade ao indivíduo.

VONTADES CONTRADITÓRIAS

O homem tem simultânea ou sucessivamente vontades opostas entre si. Ele tem uma vontade agora e outra depois, ou ambas ao mesmo tempo. Do ponto de vista teológico, ele é dominado por duas vontades igualmente fortes: a vontade de acertar e a vontade de errar.

1. A vontade de acertar

É a vontade de rejeitar o mal e abraçar o bem. É a vontade de levar a sério o Decálogo, o Sermão da Montanha e a santidade de vida. É a vontade de obedecer, de amar a Deus de todo o coração, de agradar a Deus, de negar-se a si mesmo dia a dia, de crucificar a carne, de andar no Espírito, de não arredar o pé do caminho apertado, que conduz à vida. Não obstante nobre, essa vontade encontra sérios obstáculos.

O primeiro obstáculo é a pecaminosidade latente, fruto da queda. O homem carrega consigo, no mais interior de seu ser, esse fardo incômodo, do nascimento à morte. É por essa razão que Jesus explicou: "O que sai da pessoa é o que a faz impura" (Mc 7.20, BLH). Daí a descoberta de Paulo: "O pecado que habita em mim" (Rm 7.20).

O segundo é a estrutura pecaminosa da cultura ou da sociedade no meio da qual se vive: "Tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai. mas procede do mundo" (l Jo2.l6).

O terceiro é a atuação das forças espirituais do mal: "O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar" (l Pe 5.8). Os três obstáculos aparecem juntos na Epístola de Paulo aos Efésios: o curso deste mundo, o príncipe da potestade do ar e as inclinações da carne (Ef 2.1-3).

2. A vontade de errar

É a vontade de satisfazer os desejos da carne, de andar segundo o curso deste mundo, segundo a liderança do mal. Essa vontade de errar também encontra sérios obstáculos, especialmente quando a pessoa é educada no temor do Senhor e comprometida com Jesus Cristo.

O maior de todos os obstáculos é a atuação do Espírito Santo na vida do crente: "O Espírito milita contra a carne" (Gl 5.17). Uma porção de outros elementos se juntam ao Espírito no afã de dificultar e impedir a realização da vontade de errar. Entre eles estão a noção da santidade de Deus, o não-conformismo da nova natureza implantada pela educação religiosa e em virtude da regeneração, os compromissos anteriormente assumidos com a luz, a consciência devidamente alimentada, a visão mais profunda e mais sábia da vida, a lembrança das miragens e frustrações anteriores, o patrimônio moral e espiritual até então acumulado, a repreensão da igreja e dos irmãos e o temor do castigo da desobediência.

VONTADE ALHEIA

Da infância ao fim de seus dias, o homem está sujeito à vontade alheia e dela recebe constante e forte bombardeio. A vontade alheia usa desde a propaganda subliminar até a propaganda ostensiva: a literatura e as artes, o discurso e a persuasão, a insistência e a saturação, a mentira e o engano, a chantagem e a manipulação. Todavia, a decisão final está no exercício da vontade própria.

A vontade própria é tão determinante que tanto o bem como o mal a respeitam e tentam atraí-la e dobrá-la. No Éden, tanto Deus como a serpente respeitavam a vontade da mulher. Deus não pôs uma grade em torno da árvore da ciência do bem e do mal, nem a serpente enfiou o fruto proibido na boca da mulher. Foi ela quem tomou o fruto e o comeu (Gn 3.6). A vontade própria é uma barreira tremenda ora para as forças do mal ora para as forças do bem.

A ESCOLHA FINAL

De um lado, há a vontade de provar o fruto proibido, a vontade de deitar com a mulher de Urias, a vontade de ser amada pelo marido de outra mulher, a vontade de furtar uma barra de ouro, a vontade de não levar desaforo para casa, a vontade de não repartir coisa alguma, a vontade de ajuntar tesouros exclusivamente sobre a terra, a vontade de espalhar uma informação mentirosa, a vontade de matar o desafeto. De outro lado, há a vontade de pagar o mal com o bem, a vontade de ser sal da terra e luz do mundo, a vontade de ser limpo de coração, a vontade de crucificar o eu e espancar a carne, a vontade de seguir a Jesus até à prisão ou até à morte, a vontade de evangelizar, a vontade de distribuir todos os bens com os pobres. No meio dessas vontades fortes e opostas está o dom do livre-arbítrio.

A VONTADE DE DEUS

A única maneira de não satisfazer a vontade alheia, a concupiscência da carne, o curso deste mundo que jaz no maligno e as insinuações dos demônios é fazer um alinhamento da vontade própria com "a boa, agradável e perfeita vontade de Deus" (Rm 12.2). Então o resultado será "amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio" (Gl 5.22, 23).


Autor: Elben M. L. Cesar

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Práticas Devocionais - PRÁTICA DO PODER

A prática do poder é a arte de se apropriar continuadamente, por meio da fé, do poder de Deus, colocado à disposição do crente que reconhece suas tremendas limitações e deseja permanecer fiel a Deus e servi-lo de maneira abundante na medida de seu chamamento e dons.

Existe poder aquisitivo, poder público, poder temporal, poder moderador, poder naval, poder negro, poder jovem, poder político, poder internacional, poder mental. Existe também poder espiritual, que difere substancialmente de qualquer outro poder e reúne uma porção enorme de valores relacionados com a vida em estreita e permanente comunhão com Deus. Tais valores são: aptidão, autoridade, capacidade, eficácia, energia, entusiasmo, força, influência, meios, possibilidades, recursos e vigor.

No sentido profano, o poder pode depender da posição social, das vantagens pessoais, da capacidade, do dinheiro, da propaganda, da política, do voto, da força, da tirania, da opressão, do suborno. No sentido cristão, a origem do poder é totalmente diversa e tem propósitos também diversos. Só os que se fazem pequenos têm direito ao revestimento do poder de Deus: "O poder se aperfeiçoa na fraqueza" (2 Co 12.9). Enquanto na vida secular o poder em quase todos os casos é exercido em benefício próprio, o poder ou-torgado por Deus é exercido em benefício da expansão do reino de Deus.

O PODER PERTENCE A DEUS

Aqui está o testemunho do salmista Davi: "Uma vez falou Deus, duas vezes ouvi isto: que o poder pertence a Deus" (Sl 62.12). O mesmo Davi volta a proclamar essa solene verdade na oração feita perante toda a congregação de Israel, pouco antes de morrer: "Tua, Senhor, é a grandeza, o poder, a honra, a vitória e a majestade [...] Teu, Senhor, é o reino, e Tu te exaltaste por chefe sobre todos [...] Na tua mão há força e poder; contigo está o engrandecer e a tudo dar força", (l Cr 29.11, 12.)

Embora a última frase da oração dominical não esteja em todos os textos gregos, os cristãos do mundo inteiro repetem há quase dois mil anos a bela doxologia, que pode ter sido tomada da oração de Davi acima citada: "Teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém." (Mt 6.13.)

É de todo saudável consagrar a declaração de que o poder pertence a Deus. E esse poder é imenso, suficiente para "subordinar a si todas as coisas" (Fp 3.21).

ESPÍRITO SANTO E PODER

Desde o Velho Testamento, o Espírito Santo é o instrumento do poder que promana de Deus. Faraó percebeu que José era um homem possuído pelo Espírito de Deus (Gn 41.39). Bezalel foi cheio do Espírito de Deus para ter habilidade e inteligência para elaborar desenhos e trabalhar na construção do tabernáculo (Êx 31.1-5; 36.1). Os juízes Otniel (Jz 3.10), Gideão (Jz 6.34), Jefté (Jz 11.29) e Sansão (Jz 13.25; 14.6, 19; 15.14) foram homens especialmente capacitados pelo Espírito de Deus para subjugar reinos e tirar força da fraqueza (Hb 11.32-35).

Essa concessão de poder torna-se mais notória e mais universal depois da ascensão de Jesus. Ele mesmo ordenou aos discípulos que não se ausentassem de Jerusalém até que do alto fossem revestidos de poder (Lc 24.49) e acrescentou: "Recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo" (At 1.8). Na oração de Paulo em favor dos efésios, o apóstolo roga a Deus que eles sejam "fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito no homem interior", isto é, no íntimo (Ef 3.16). Uma vida, pois, que não entristece (Ef 4.30) nem apaga (l Ts 5.19) o Espírito, anda no Espírito (Gl 5.16), semeia para o Espírito, e não para a carne (Gl 6.8), e busca a plenitude do Espírito (Ef 5.18) — será também cheia de poder (At 6.8).

PODER PARA QUÊ?

O poder não é dado para deleite próprio nem para promoção pessoal. Isso precisa ficar bem claro. Simão, o mago de Samaria, assustou os apóstolos Pedro e João quando revelou a sua ignorância sobre a natureza do poder do Espírito Santo, ao oferecer dinheiro para comprar o dom de Deus (At 8.9-24).

Deus nos reveste de seu poder para:

1. Fazer frente ao pecado. O pecado tem uma força tremenda e "o corpo é fraco" (Mt 26.41, BLH). Para não ter uma vida de fracasso, você precisa do auxílio sobrenatural do Espírito. É por meio do poder do Espírito que você vai mortificar os reclamos da sua natureza humana (Rm 8.13).

2. Exercer o ministério para o qual fomos chamados. No caso de Sara, ela recebeu poder para ser mãe, não obstante fosse uma mulher estéril e idosa (Hb 11.11). No caso de Maria, ela recebeu poder para ser a mãe de Jesus, não obstante fosse uma mulher virgem (Lc 1 .35). No caso dos apóstolos e dos setenta, eles receberam poder para expulsar demônios e realizar curas (Lc 9.1; 10.9). No caso de Paulo, ele recebeu poder para levar o evangelho de Jerusalém ao Ilírico (Rm 15.18-21; l Co 2.1-5).

3. Testemunhar a morte e a ressurreição de Jesus "tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra" (At 1.7, 8-, Lc24.49). O derrame espetacular e geral do Espírito Santo no dia de Pentecostes tinha esse propósito. Por essa razão, imediatamente depois da descida do Espírito, a pequena comunidade cristã de Jerusalém passou a falar em outras línguas as grandezas de Deus (At 2.11). Em apenas trinta anos de missões, a igreja primitiva alcançou os mais importantes e populosos centros urbanos do mundo de então e neles se estabeleceu.

DESGASTE E RENOVAÇÃO

A manutenção do compromisso cristão e o exercício continuado de qualquer atividade em favor da expansão do reino de Deus importam em sensíveis desgastes. Em parte porque estamos sempre nadando contra a correnteza (Ef 2.1-3). Em parte porque a seara é enorme e os trabalhadores são poucos (Mt 9.35-38). Em parte porque o sofrimento que nos rodeia é intenso e variado. O desgaste é uma experiência natural e constante, como se pode ver no caso de Paulo: "Eu de boa vontade me gastarei e ainda me deixarei gastar em prol das vossas almas" (2 Co 12.15). Ou no caso de Davi: "A tristeza tem encurtado a minha vida; as lágrimas têm diminuído a minha existência. Estou fraco por causa das minhas aflições; até mesmo os meus ossos estão se gastando!" (Si 31.10, BLH.) Qualquer ato de amor implica desgaste. O bom samaritano gastou energia, tempo e dinheiro para salvar o semimorto da morte (Lc 10.33-35). As curas operadas por Jesus provocavam nele um desgaste de poder (Lc 6.19). Embora muitos das multidões o apertassem (Lc 8.42), o caso da mulher hemorrágica foi diferente. Por isso Jesus insistiu com Pedro: "Alguém me tocou, porque senti que de mim saiu poder" (Lc 8.46).

Porque há desgaste, a renovação do poder é uma necessidade constante. Daí este conhecido texto bíblico: "Os jovens se cansam e se fatigam, e os moços de exaustos caem, mas os que esperam no Senhor renovam as suas forças, sobem com asas como águias, correm e não se cansam, caminham e não se fatigam" (40.30,31). Esta renovação de forças não tem nada a ver com a idade cronológica nem com o desgaste físico: "[Ele é] quem farta de bens a tua velhice, de sorte que a tua mocidade se renova como a da águia" (Sl 103.5). É como Paulo escreveu aos coríntios: "Ainda que o nosso corpo vá se gastando, o nosso espírito vai se renovando dia a dia" (2 Co 4.16, BLH).

Pela prática do poder, o crente se abastece outra vez de força no mesmo momento em que despende alguma energia para fazer frente à tentação, ao sofrimento, à renúncia e ao desempenho de suas obrigações de amar a Deus e ao próximo. É extremamente necessário deixar a água entrar novamente todas as vezes que o nível do reservatório começar a baixar. Ele precisa permanecer sempre cheio: "Buscai o Senhor e o seu poder; buscai perpetuamente a sua presença" (Sl 105.4).

Autor: Elben M. L. Cesar

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Práticas Devocionais - PRÁTICA DA RESISTÊNCIA

A prática da resistência é a arte de não ceder, não relaxar, não fazer concessões, não se deixar arrastar, não se dobrar, não se render. A resistência é virtude quando é dirigida a qualquer força que tem o propósito claro ou velado de remover o crente do centro da vontade soberana e particular de Deus. Mas é fraqueza e tragédia quando é dirigida aos ditames da consciência, aos impulsos do Espírito ou à instrução da Palavra de Deus (At 7.51).

Na Bíblia, encontramos exemplos de pessoas que foram resistentes. José resistiu à mulher de Potifar (Gn 39.1-23), não obstante a atrevida insistência dela na realização do adultério, não obstante a circunstância extremamente favorável (não havia ninguém em casa), não obstante a idade (entre 16 e 28 anos) e a situação de José (longe de casa e da família).

Elias resistiu aos profetas de Baal (l Rs 18.20-40), não obstante o excessivo número deles (450), não obstante o apoio total e ostensivo que a mulher de Acabe dava a eles (foi Jezabel quem os trouxe de Tiro e era ela quem os sustentava), não obstante a oposição sistemática e violenta que Jezabel movia contra os profetas do Senhor.

Jó resistiu aos seus infortúnios (Jó 1.22; 2.10; 19.25), não obstante a opulência anterior (sete mil ovelhas, três mil camelos, mil bois e quinhentas jumentas), não obstante a descarga impiedosa de desgraças que caiu sobre ele (perda dos bens, perda dos filhos e perda da saúde), não obstante o desânimo atroz da esposa, que lhe dizia: "Amaldiçoa a Deus, e morre" (Jó 2.9).

Neemias resistiu aos seus adversários (Ne 4.1-23), não obstante a pregação demolidora de Sambalá e Tobias, não obstante as ameaças de luta armada que os inimigos lhe faziam, não obstante a dificuldade e morosidade da obra empreendida (a reconstrução dos muros de Jerusalém e a recuperação do culto).

Daniel resistiu ao decreto do rei da Pérsia e não deixou de orar a Deus (Dn 6.1-28), não obstante a irrevogabilidade das leis dos medos e dos persas, não obstante o seu alto cargo no governo de Dario (um dos três presidentes dos 120 sátrapas do império), não obstante a pavorosa sentença de morte (cova de leões) a que estava sujeito se não obedecesse a ordem do rei.

Jesus resistiu ao diabo (Mt 4.1-11) e a Pedro (Mt 16.22-23), não obstante a fome gerada por um jejum de quarenta dias, não obstante a ousadia de Satanás ("Tudo isto de darei se, prostrado, me adorares"), não obstante a sutileza das tentações.

Paulo resistiu a Pedro (Gl 2.11), não obstante a posição de Pedro na liderança inicial da igreja, não obstante ser mais novo na fé do que Pedro, não obstante a pressão que estava por trás de Pedro.

EXEMPLOS DE NÃO-RESISTÊNCIA

A mulher não resistiu à serpente e o pecado entrou no mundo (Gn 3.1-7). Com o pecado, veio a morte (Rm 5.12). Davi não resistiu à concupiscência dos olhos e cometeu adultério (2 Sm 11.1-4.). Com o adultério, um abismo chamou outro abismo (Sl 42.7).

Salomão não resistiu aos clamores de suas mulheres estrangeiras e cometeu idolatria (l Rs 11.1-8). Com a idolatria, veio a desintegração do reino (IRs 11.11).

O jovem carente de juízo de que fala Salomão não resistiu à mulher adúltera e com ela prevaricou (Pv 7.6-27). Com a prevaricação, o rapaz tornou-se como o boi que vai para o matadouro ou o cervo que corre para a rede.

Judas não resistiu ao diabo e traiu o Senhor (Lc 22.3-6). Com a traição, veio o suicídio e outro tomou o seu encargo (At 1.15-26).

Demas não resistiu à atração mundana e abandonou a companhia de Paulo (2 Tm 4.10). Com o abandono, certamente naufragou na fé (l Tm 1.19).

A igreja em Tiatira não resistiu à influência de Jezabel e se contaminou com as suas prostituições (Ap 2.19-20). Com a contaminação, deixou de ser uma igreja irrepreensível como a igreja em Filadélfia.

O CAMPO DA RESISTÊNCIA

A resistência deve ser dirigida a qualquer tipo de pressão contrária à vontade de Deus, desde a mera sugestão (o fogo mais brando) até a tentação absurda (o fogo mais alto).

A mera sugestão é aquela tentação formulada não por pessoas do mundo nem por anjos caídos, mas por parentes, amigos e irmãos na fé, com as melhores intenções possíveis e dentro de uma lógica aparentemente aceitável. É a tentação a que Davi foi submetido, quando seus amigos lhe disseram com certeza que o Senhor lhe tinha entregado Saul para ser morto por ele (l Sm 24.1-22). É também a tentação a que foi submetido o próprio Jesus, quando Pedro lhe disse para ter compaixão de si mesmo e evitar o sofrimento e a morte em Jerusalém (Mt 16.21-23).

A tentação absurda é aquela tentação ousada, arrogante, mais descabida do que qualquer outra. É a tentação a que Jesus foi submetido por Satanás quando ele o levou a um monte muito alto, mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a glória deles, e lhe disse: "Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares" (Mt 4.9). É a tentação daquele homem casto que sentiu tremenda vontade de ir a um prostíbulo na véspera de seu casamento com uma mulher amada e bonita.

A tentação comum é aquela tentação de todo dia, situada entre a mera sugestão e a tentação absurda. É preciso oferecer resistência à incredulidade, ao egoísmo, à impaciência, ao comodismo, à vaidade, ao desânimo, à tristeza, ao ódio, à vingança, ao medo, à ansiedade, ao falso testemunho, à lascívia, ao tédio, à preguiça, e assim por diante.

O VOLUME DA RESISTÊNCIA

A resistência tem de ir até as últimas consequências, no esforço e no tempo. Não pode parar no meio do caminho, não pode sofrer interrupções, não pode ser abandonada. A demora da consumação de todas as coisas não deve enfraquecer ou interromper a prática da resistência, como aconteceu com o servo irresponsável da parábola de Jesus (Lc 12.45-46).

1. É preciso resistir "até setenta vezes sete" (Mt 18.22).

2. É preciso resistir até terminar a obra iniciada: "Assim se executou toda a obra de Salomão, desde o dia da fundação da casa do Senhor, até se acabar" (2 Cr 8.16).

3. É preciso resistir até o fim: "Aquele, porém, que preservar até o fim, esse será salvo" (Mt 24.13).

4. É preciso resistir até ao sangue: "Ora, vossa luta contra o pecado, ainda não tendes resistido até ao sangue" (Hb 12.4).

5. É preciso resistir até à morte: "Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida" (Ap 2.10).

6. É preciso resistir até a vinda do Senhor: "Sede, pois, irmãos, pacientes, até a vinda do Senhor" (Tg 5.7).

A RESISTÊNCIA NO DIA MAU

Por questões orgânicas, por questões climáticas, por questões geográficas, por questões históricas, por questões sentimentais, por questões sociológicas, por questões religiosas e outras, o tempo não é uma eterna mesmice, como lembra a Bíblia (Ec 3.1-8).

No calendário de qualquer pessoa pode surgir, de repente, o desagradável dia mau de que fala Paulo: "Tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau, e, depois de terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis" (Ef 1.3).

Esse dia mau é o dia da tentação, o dia da provação, o dia do cerco, o dia do aperto, o dia da investida satânica, o dia da tempestade, o dia da crise, o dia da frustração, o dia da depressão, o dia da dor, o dia da doença, o dia da morte, o dia da tragédia. Mas é um dia que chega e também passa. Especialmente nesse dia a capacidade da resistência precisa estar em forma, revestida de redobrada força. Daí a associação que Paulo faz do dia mau com a armadura de Deus.

De posse dessa armadura espiritual, qualquer membro do corpo de Cristo pode resistir no dia mau e dele sair são e salvo. As peças principais dessa armadura incluem o escudo da fé, o capacete da salvação e a espada do Espírito. Com o auxílio e bom uso da chamada armadura de Deus, é perfeitamente possível obter vitória no dia mau, mesmo que seja um embate envolvendo os principados, as autoridades e os dominadores deste mundo tenebroso.

Os recursos da resistência podem ser achados também na plena confiança em Deus (Sl 23.1), no exercício da piedade pessoal (l Tm 4.7-8), na prática da humildade cristã (2 Co 12.10), no poder do Espírito (At 1.8 e Rm 8.13) e na inaudita certeza de que Deus é fiel e não permitirá que sejamos tentados além das nossas forças (l Co 10.13).


Autor: Elben M. L. Cesar

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Práticas Devocionais - PRÁTICA DA OUSADIA

A prática da ousadia é a arte de portar-se corajosamente diante das obrigações, oportunidades e desafios da vida cristã e do ministério decorrente da vocação celestial, em função do poder de Deus e dos recursos que Ele coloca à disposição de todos que o cercam e de todos que o servem. O exercício da ousadia não prejudica o exercício da humildade, nem este prejudica aquele. Uma virtude não ofusca nem danifica a outra virtude. Ousadia não é esbravejar, ameaçar, bazofiar, autopromover-se, prometer mundos e fundos, mas simplesmente dar conta do recado com permanente disposição, plena confiança em Deus e com o devido acompanhamento da modéstia cristã.

Não é pequeno o número de tímidos. Por causa da timidez, o homem não faz tudo que poderia fazer, não alcança todas as vitórias que poderia alcançar. Fica parado, sonhando sempre, desejando sempre, planejando sempre, tendo sempre as mesmas boas intenções. Com o preguiçoso acontece o mesmo. Mas o mal de muitos não é exatamente a preguiça, e sim o receio, o medo, a vergonha, o acobardamento. Todavia, a timidez favorece a preguiça e a preguiça favorece a timidez.

A Bíblia trata a timidez com rigor. Entre os judeus, o soldado "medroso e de coração tímido" deveria voltar para casa: além de inapto, ele poderia contagiar os outros com a sua timidez (Dt 20.8). Jesus fez uma pergunta muito séria aos discípulos por ocasião da travessia do mar de Genezaré: "Por que sois assim tímidos?" (Mc 4.40.) O medroso precisa descobrir as razões de sua timidez e livrar-se dela.

CORAGEM!

A ordem "Sê forte e corajoso" é muito insistente nas Escrituras. Foi dirigida ao povo de Israel em ocasiões de pe¬rigo e desafio, na época de Moisés (Dt 31.6), Josué (Js 10.25) e Ezequias (2 Cr 32.7). Foi dirigida a Josué, o sucessor de Moisés, seguidas vezes (Dt31.7, 23; Js 1.6, 7, 9, 18). Mais de quinhentos anos depois, Davi achou por bem repetir as mesmas palavras a Salomão, seu filho e herdeiro do trono (l Cr 22.13; 28.10). Jesus usava com frequência uma expressão semelhante ("Tem bom ânimo"), que a Bíblia na Lingua¬gem de Hoje reduz para uma só palavra: "Coragem!" O Senhor deu esse conselho ao paralítico de Cafarnaum (Mt 9.2), à mulher hemorrágica (Mt 9.22), aos discípulos (Mt 14.27), ao cego de Jericó (Mc 10.49) e mais uma vez aos discípulos: "No mundo passais por aflições; mas tende bom ânimo, Eu venci o mundo" (Jo 16.33). À tripulação e aos passageiros do barco seriamente ameaçado de naufrágio nas proximidades da ilha de Malta, no Mediterrâneo, Paulo aconselhou com insistência: "Senhores, tende bom ânimo; pois eu confio em Deus" (At 27.22, 25). O próprio Paulo, antes dessa viagem a Roma na qualidade de prisioneiro, ouviu a oportuna advertência de Jesus Cristo: "Coragem! pois do modo porque deste testemunho a meu respeito em Jerusalém, assim importa que também o faças em Roma" (At 23.11).

OUSADIA PARA QUÊ?

Precisamos de ousadia para entrar com naturalidade no Santo dos Santos, como diz as Escrituras (Hb 10.19), certos de que Deus nos recebe e nos atende em Cristo.

Precisamos de ousadia para sair da rotina e fazer proezas: "Em Deus faremos proezas" (Si 60.12). A ousadia espiritual pode conduzir-nos à experiência de Paulo: "Tudo posso naquele que me fortalece" (Fp 4.13).

Precisamos de ousadia para seguir os caminhos do Senhor, indo contra a opinião pública, contrariando o sistema, nadando contra "o curso deste mundo" (Ef 2.2), não nos conformando com este século (Rm 12.2). Esses alvos são profundamente difíceis e exigem séria e constante intrepidez. Vejamos a experiência de Josafá: "Tornou-se-lhe ousado o coração em seguir os caminhos do Senhor" (2 Cr 17.6).

Precisamos de ousadia para confiar em Deus, ainda que andemos pelo vale da sombra da morte (Si 23.4), "ainda que a terra se transtorne, e os montes se abalem no seio dos mares" (Sl 46.2), e ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide (He 3.17-19). Apesar de maltratados e ultrajados em Filipos, Paulo e Silas tiveram ousada confiança em Deus para anunciar o evangelho aos tessalonicenses, "em meio de muita luta" (l Ts 2,2).

Precisamos de ousadia para tornar conhecido o evangelho do reino, para anunciar a Palavra de Deus, para ensinar, para falar, para pregar a um mundo incrédulo, corrompido, desinteressado, cego e zombador, como aconteceu com os apóstolos: "Todos ficaram cheios do Espírito Santo, e, com intrepidez, anunciavam a Palavra de Deus" (At 4.31; 9.27, 28; 13.46; 14.3; 18.26; 19.8; e 28.30, 31). Só com muita ousadia é possível alargar, alongar e firmar bem as estacas, transbor¬dando para a direita e para a esquerda, não importa sejamos fracos e poucos (Is 54.1-3).

Precisamos de ousadia para enfrentar o sofrimento, para não deixar de seguir para Jerusalém, para beber o cálice do sacrifício, para passar pela prova de escárnios e açoites, de algemas e prisões, de tortura e morte, e para, se necessário for, ser serrados pelo meio (Hb 11.35-38). Está registrado na Bíblia que, quando estava para ser morto, Jesus "manifestou no semblante a intrépida resolução de ir para Jerusalém" (Lc 9.51).

AS BASES DA OUSADIA

1. Jesus
Por meio de Cristo Jesus, nosso Senhor, "temos ousadia e acesso com confiança, mediante a fé nele" (Ef 3.12). Porque Jesus é verdadeiramente o Filho de Deus, porque Ele é o supremo sacerdote, porque Ele subiu aos céus e está à direita de Deus, porque Ele é capaz de condoer-se das nossas fraquezas, porque Ele é o Autor e Consumador da fé e porque Ele, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz — somos tomados de grande ousadia para ir até o trono de Deus e lá permanecer "para recebermos a sua mi¬sericórdia e acharmos a sua graça para nos ajudar em nossos tempos de necessidade" (Hb 4.14-16; 12.1-3, BV).

2. A esperança
A esperança da glória vindoura nos faz andar altaneiramente (He 3.19), corno filhos do Rei, como irmãos do próprio Jesus, como herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo (Rm 8.17). A esperança em si já é ousadia (Hb 3.6). Paulo explica: "Já que sabemos que esta glória nunca acabará, podemos pregar com grande ousadia" (2 Co 3.12, BV).

3. A oração
Dificilmente alguém se levanta tímido depois de orar fervorosamente: "Tendo eles orado, tremeu o lugar onde estavam reunidos; todos ficaram cheios do Espírito Santo, e, com intrepidez, anunciavam a Palavra de Deus" (At 4.31). O apóstolo solicitava as orações da igreja em seu favor, para ele fazer conhecido o mistério do Evangelho com intrepidez (Ef 6.19).

4. A comunhão com Deus
O Sinédrio reconheceu que a convivência de Pedro e João com Jesus lhes dera intrepidez (At 4.13). Os que se demoram na presença do Senhor e nele permanecem têm possi-bilidades imensas (Jo 15-5). Adquirem, entre outras virtudes, a necessária coragem para enfrentar a oposição com sabedoria e vitória.

5. Os sucessos acumulados, a experiência obtida
Foi isso que o imberbe Davi explicou ao rei Saul "O Senhor me livrou das garras do leão, e das do urso; Ele me livrará da mão deste filisteu" (l Sm 17.37). Paulo lembra que "os que desempenharem bem o diaconato alcançam para si mesmos justa preeminência e muita intrepidez na fé em Cristo Jesus" (l Tm 3.13).

6. O estímulo alheio
Veja-se a citação de Paulo: "A maioria dos irmãos, estimulados no Senhor por minhas algemas, ousam falar com mais assombro a Palavra de Deus" (Fp 1.14). Assim como o soldado tímido gera timidez, o soldado corajoso gera bravura. A ousadia é tão contagiante quanto o medo.

OUSADIA PECAMINOSA

Nem toda ousadia é virtude. Existe a ousadia pecaminosa. O ímpio também pode ser ousado. Paulo se queixa de alguns falsos irmãos "que fazem ousadas asseverações" (l Tm 1.7). O israelita que trouxe para dentro do arraial, "perante os olhos de Moisés e de toda a congregação", a mulher midianita para se deitar com ela no interior da tenda (Nm 25.6-15), foi de uma ousadia enorme. Judas foi muito ousado ao censurar Maria por motivos interesseiros (Jo 12.4-6) e mais ainda ao procurar o sumo sacerdote para ver quanto receberia se lhe entregasse Jesus (Mt 26.14-16). Aquele que é naturalmente ousado precisa tomar cuidado com a sua ousadia. Ela pode ser uma bênção, se for usada corretamente, e uma tremenda desgraça, se for usada em função do pecado. Ao mandar buscar a mulher de Urias para se deitar com ela, Davi foi muito ousado (2 Sm 11.3. 4). Mas essa ousadia foi negativa e lhe trouxe seriíssimos problemas.


Autor: Elben M. L. Cesar

sábado, 30 de outubro de 2010

Práticas Devocionais - PRÁTICA DA CONFIANÇA

A prática da confiança é a arte de colocar em Deus toda a capacidade de crer, em qualquer lugar, em qualquer tempo e em qualquer situação, mediante a negação da incredulidade própria e a afirmação da onipotência divina. É a capacidade de amarrar-se a Deus, e não aos problemas que tolhem a alegria de viver. A plena confiança ocupa todo o espaço vazio entre Deus e o homem, reduz drasticamente a taxa de ansiedade e traz benefícios incalculáveis para a saúde mental e para o bom funcionamento do corpo humano.

A plena confiança não surge de uma hora para outra. Ela é gradativa, vai crescendo aos poucos, vai se apoderando da pessoa, vai se avolumando, vai enchendo a distância entre Deus e o homem. Assim aconteceu com Abraão. Abraão saiu de sua terra e de sua parentela para uma terra que Deus lhe mostraria (Hb 11.8).

Depois de marchas e contramarchas, ele acreditou que seria o pai de uma grande nação, tão numerosa como as estrelas do céu, como o pó da terra ou como a areia da praia, mesmo tendo uma esposa estéril e avançada em anos, mesmo levando em conta o seu corpo já marcado pela morte (Rm 4.18-21; Hb 11.11, 12.)

Por fim, depois de nascido e crescido o filho da promessa, Abraão, quando posto à prova, ofereceu Isaque na certeza de que Deus era poderoso até para ressuscitá-lo de entre os mortos, caso o sacrifício do menino se consumasse (Hb 11.17-19).

Entre o chamado de Abraão e o que aconteceu na terra de Moriá, passaram-se talvez uns quarenta anos. Nesse período, a confiança de Abraão cresceu poderosamente, não sem erros (como o caso de Ismael) e alguns fracassos (como o uso de expedientes escusos para proteger-se contra Faraó e Abimeleque).

A prática da confiança se faz a partir da primeira resposta aos apelos de Deus e às promessas da sua Palavra. Ela precisa crescer ao ponto de aprender a esperar contra a esperança, isto é, a ter fé e esperança mesmo quando não há o menor motivo para crer, como aconteceu com Abraão. Este é o clímax da confiança.

CONFIANÇA FRUSTRANTE

O homem tem sido tentado a pôr a sua confiança em pessoas e coisas, que não suportam o peso dessa confiança, e em promessas que Deus nunca fez. Daí as exortações da Palavra de Deus:

1. É preciso confiar em Deus, e não em si mesmo: "Quem confia em seu bom senso é insensato" (Pv 28.26, BJ).

2. É preciso confiar em Deus, e não na carne: "Bem que eu poderia confiar também na carne [...] Mas o que para mim era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo" (Fp 3.4-11).

3. É preciso confiar em Deus, e não em homens: "Maldito o homem que confia no homem, faz da carne mortal o seu braço, e aparta o seu coração do Senhor" (Jr 17.5).

4. É preciso confiar em Deus, e não em príncipes: "Não confieis em príncipes, [...] Em quem não há salvação" (Sl 146.3).

5. É preciso confiar em Deus, e não em palavras falsas: "Eis que vós confiais em palavras falsas, que para nada vos aproveitam" (Jr 7.8).

6. É preciso confiar em Deus, e não em bens e riquezas: "Quem confia nas suas riquezas cairá, mas os justos reverdecerão como a folhagem" (Pv 11.28).

7. É preciso confiar em Deus, e não em carros e cavalos: "Ai dos que [...] confiam em carros, porque são muitos, e em cavaleiros, porque são mui fortes, mas não atentam para o Santo de Israel, nem buscam ao Senhor" (Is 31.1).

CONFIANÇA EM QUALQUER SITUAÇÃO

A confiança em Deus é especialmente válida em circunstâncias adversas e em situações difíceis.

1. E preciso confiar em Deus "ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte" (Sl 23.4).

2. É preciso confiar em Deus "ainda que um exército se acampe contra mim" (Sl 27.3).

3. É preciso confiar em Deus "ainda que as águas tumultuem e espumejem, e na sua fúria os montes se estremeçam" (Sl 46.3).

4. É preciso confiar em Deus "ainda que as figueiras não produzam frutas, e as parreiras não dêem uvas; ainda que não haja azeitonas para apanhar nem trigo para colher; ainda que não haja mais ovelhas nos campos nem gado nos currais" (Hc 3.17, BLH).

A BASE DA CONFIANÇA

A possibilidade e a obrigação do exercício da plena confi¬ança repousam nos seguintes fatos:

1. As promessas de Deus. Deus tem o hábito de fazer "santas e fiéis promessas" (At 13-34). Ele nos tem dado "suas preciosas e mui grandes promessas", para que por meio delas nos tornemos participantes da natureza divina (2 Pe 1.4). Uma dessas promessas é a efusão do Espírito, já realizada (At 1.4; 2.33). Portanto não há lugar para o vazio.

2. O caráter de Deus. O Deus que faz as promessas "não pode mentir" (Tt 1.2). Ele "não é homem, para que minta" (Nm 23.19). Portanto não há lugar para a desconfiança.

3. A graça e o amor de Deus. O Deus que faz as promessas e que não pode mentir é extremamente dadivoso (Tg 1.5). "Aquele que não poupou a seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura não nos dará graciosamente com Ele todas as coisas?" (Rm 8.32.) Portanto não há lugar para a ansiedade.

4. O poder e os recursos de Deus. O Deus que faz as promessas, que não pode mentir e que é extremamente dadivoso tem todo poder no céu e na terra, sobre tudo e sobre todos. Daí a exortação: "Aquietai-vos, e sabei que Eu sou Deus" (Sl 46.10). Portanto não há lugar para o medo.

O FORTALECIMENTO DA CONFIANÇA

A confiança precisa ser fortalecida. A Bíblia diz que Jônatas fortaleceu a confiança de Davi em Deus (l Sm 23.16). A essa altura, Davi já tinha dado mostras de uma enorme confiança em Deus ao enfrentar o gigante filisteu (l Sm 17.37). O fortalecimento da confiança dá-se:

1. Por meio da comunhão com Deus. A pessoa em contínua e profunda comunhão com Deus absorve consciente e inconscientemente muito vigor, muita energia, muita coragem, muita seiva.

2. Por meio da oração. É perfeitamente correto e válido confessar diante de Deus a pequenez de nossa confiança e suplicar uma confiança mais ousada.

3. Por meio da Palavra de Deus. A leitura e meditação da Palavra de Deus alimenta o espírito e transmite valores extraordinários.

4. Por meio de exemplos. São notáveis os exemplos de confiança plena em Deus de Abraão, Josué e Calebe (Nm 14.1-12), Davi (l Sm 17.31-40), Ezequias (Is 36 e 37) e Paulo (At 27.1-44), além de outros encontrados na história eclesiástica. Todos encorajam, desafiam e fortalecem a prática da confiança.

5. Por meio da experiência. É preciso aprender a confiar, não desanimar com as crises de falta de fé, levantar-se depois da queda, quantas vezes for necessário, e seguir adiante.

OS GALARDÕES DA CONFIANÇA

A prática da confiança não deve ser abandonada, porque ela tem "grande galardão", como diz enfaticamente a Palavra de Deus (Hb 10.35).

1. Ela produz uma sensação de felicidade: "Bem-aventurado o homem que põe no Senhor a sua confiança, e não pende para os arrogantes, nem para os afeiçoados à mentira" (Sl 40.4).

2. Ela produz paz de espírito: "Tu, Senhor, conservarás em perfeita paz aquele cujo propósito é firme; porque ele confia em ti" (Is 26.3).

3. Ela produz firmeza: "Os que confiam no Senhor são como o monte de Sião, que não se abala, firme para sempre" (Sl 125.1).

4. Ela produz ausência de temor: "Em Deus, cuja palavra eu exalto, neste Deus ponho a minha confiança e nada temerei" (Sl 56.4).

5. Ela realiza proezas: "Em Deus faremos proezas" (Sl 60.12).


Autor: Elben M. L. Cesar

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Práticas Devocionais - PRÁTICA DA DESCOMPLEXAÇÃO

A prática da descomplexação é a arte da soltura consciente e progressiva de amarras relacionadas originalmente ao pecado e a certos problemas pessoais decorrentes da educação e de experiências frustrantes, por intermédio dos multiformes benefícios do evangelho e das terapias do Espírito.

O homem é por demais complicado. Há muitas razões para isso. Os motivos são profundos e intrincados, mas devem ser descobertos e analisados. Sem dúvida, a causa mais remota de toda complicação emocional e mental é esclarecida pelo capítulo da Teologia que trata da queda do homem. Neste ponto, há uma declaração de Salomão muito oportuna: "Deus fez o homem reto, este, porém, procura complicações sem conta" (Ec 7.29, BJ).

O distúrbio individual e coletivo começou quando o homem teve medo de Deus e dele se escondeu por causa da primeira desobediência. Foi quando se viu e se sentiu estranhamente nu e precisou de cintas para se cobrir. Foi quando perdeu para sempre a naturalidade e passou a conhecer o bem e o mal. Foi quando desconfiou do caráter de Deus e rompeu com Ele. Este é o problema básico. Todos os outros problemas têm relação com o chamado pecado original. É extremamente necessário que o homem se liberte de suas complicações ou aprenda a lidar com elas. Se usados correta e equilibradamente, os exercícios religiosos são de grande valia.

NEM VERME NEM PORTENTO

Os inimigos de Jesus trataram-no como verme, e não como homem (Sl 22.6). O pior é quando algumas pessoas se acham vermes. Elas são muito infelizes e difíceis de trato. Elas se dizem miseráveis, incapazes de tudo, reduzidas em extremo. Não se sentem valorizadas. Elas mesmas se diminuem e são diminuídas pêlos demais. Então se escondem. E, às vezes, como reação natural, agridem os outros.

Outros, no entanto, vão para o lado oposto. Se dizem portentos. Contam numerosas histórias de sucesso: fecharam bocas de leões, puseram em fuga exércitos de estrangeiros, escaparam ao fio da espada. Andam empertigados. São acentuadamente arrogantes. Julgam possuir todos os dons e todas as vantagens. Eles mesmos se exaltam e provocam a exaltação alheia.

Nos dois casos há erros grosseiros. Na verdade, ninguém é verme e ninguém é portento. Como pode ser verme, se você é "por um pouco, menor do que Deus" (Sl 8.5), se Ele lhe deu o domínio sobre as obras de suas mãos e de glória o coroou? Não, você não é verme; é nova criatura em Cristo (2 Co 5.17), é santuário do Espírito Santo (l Co 6.19), é filho de Deus (Jo l. 12), é herdeiro de Deus e co-herdeiro com Cristo (Rm 8.17), é mais que vencedor por meio de Cristo (Rm 8.37) e é candidato certo à glória de Deus (Rm 8.18). Acabe com essa bobagem, com essa mentira, com esse complexo. Você não é verme, e assunto encerrado.

Mas também não é portento, super-homem nem semideus. Como pode ser portento, se você "não passa de um caco de barro entre outros cacos" (Is 45.9), se você ainda depende totalmente da misericórdia de Deus? Você precisa de Deus para viver, para ser salvo, para vencer a tentação e a provocação, para enfrentar a tristeza e a dor, para chegar à imortalidade, ao novo corpo, aos novos céus e nova terra e à "glória por vir a ser revelada em nós" (Rm 8.18). Você é um vaso de barro, isto é, você é quebrável (2 Co 4.7). Portanto, acabe com esse outro complexo.

NEM ALÉM NEM AQUÉM

A Bíblia ensina que ninguém deve pensar de si mesmo além do que convém, "mas uma justa estima, ditada pela sabedoria, de acordo com a medida da fé que Deus dispensou a cada um" (Rm 12.3, BJ). Essa justa estima proíbe também o outro extremo: ninguém deve pensar de si mesmo aquém do que convém. Se você se exalta sem medida, o seu problema é de superioridade. Se você se diminui sem medida, o seu problema é de inferioridade. Ambos são igualmente indesejáveis e desastrosos. É preciso haver honestidade na avaliação de si mesmo. Se você está além da medida, terá de recuar; se você está aquém da medida, terá de avançar. Desse modo você se livrará de muitos sentimentos pecaminosos, desgastantes e feios; orgulho e jactância, no caso de uma avaliação exagerada para mais; e inveja e ciúmes, no caso de uma avaliação exagerada para menos.

NEM TUDO NEM NADA

A vida de Moisés está dividida em três períodos iguais de quarenta anos; quarenta anos na corte de Faraó, quarenta anos na terra de Midiã e quarenta anos nos desertos da Arábia. No primeiro período, Moisés foi educado em toda a ciência dos egípcios e tornou-se poderoso em palavras e obras (At 7.22). Ao final do segundo período, encontramos um Moisés complicado, que não quer aceitar a tarefa de retirar o povo de Deus do Egito, sob a alegação de que nunca foi homem eloquente, nem outrora, nem agora, pois é pesado de boca e de língua (Êx 4.10; 6.12, 30.) No terceiro período, Moisés é aquele líder extraordinário que liberta Israel do jugo dos faraós e o conduz às portas de Canaã, não obstante a obstinação do Egito, a cerviz dura do próprio povo e de todas as circunstâncias especiais do êxodo. Foi o pregador inglês Frederick B. Meyer, morto em 1929, quem melhor definiu o pensamento de Moisés nesses três períodos distintos: nos primeiros quarenta anos, Moisés pensava que era tudo; nos segundos quarenta anos, foi para o outro extremo e dizia que não era coisa alguma; e nos últimos quarenta anos, descobriu que Deus é tudo.

O caminho certo não é passar de toda auto-suficiência para nenhuma auto-suficiência, nem vice-versa, mas passar para a suficiência de Deus. É essa importante verdade que Paulo quer transmitir quando afirma; "A nossa suficiência vem de Deus" (2 Co 3.5). Deus provê tudo: as ideias, a força, o poder, os recursos, o livramento, a proteção e a perseverança. E ainda cobre tudo com a sua bênção. Você precisa abrir mão tanto da soberba como da timidez. Para vencer a soberba, você conta com o auxílio da humildade; para vencer a timidez, você conta com o auxílio da ousadia. Essas duas virtudes — a humildade e a ousadia — são fundamentais para a expansão do reino de Deus. Não são opostas. Completam-se.

O CAMINHO DA DESCOMPLEXAÇÃO

Porque o sentimento de inferioridade pode descambar no complexo de inferioridade, que é algo doentio, e porque o sentimento de superioridade é uma forma de supercompensação do complexo de inferioridade — é de todo imprescindível que você seja livre e curado de ambos os problemas o mais depressa possível. A seguir, algumas providências que podem ajudar.

1. Oração
Abra o seu coração diante de Deus em oração perseverante. Ore sobre o assunto até superar o problema. Lembre-se da disposição de Paulo de enfrentar a questão do espinho na carne; "Por causa disto três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim" (2 Co 12.18).

2. Espírito de luta
No que depender de você para remover a dificuldade, esforce-se ao máximo. Veja o conselho de Paulo: "Você era escravo quando Deus o chamou? Não se preocupe com isso. Mas, se você pode se tornar livre, então aproveite a oportunidade" (l Co 7.21, BLH). Não fique parado. Não fique se queixando e se amargurando. Reaja. Faça alguma coisa. Lute.

3. Aceitação
Se Deus disser não a você, como disse á Paulo a respeito do espinho na carne e a Davi a respeito da vida da criancinha, aceite a situação com paciência e alegria. Há certas coisas inevitáveis, irreparáveis, irremovíveis e irreversíveis por causa da desordem geral provocada pelo próprio homem, desde as gerações passadas até agora. Mas isso não é motivo suficiente para destruí-lo. Aprenda a dizer "seja feita a vontade do Senhor" na hora certa e no caso certo, não levianamente, para se desculpar da preguiça, do medo e da acomodação. A não-aceitação significa rebelião contra Deus, que é loucura e só agrava o problema. Não se obrigue a ter necessariamente os mesmos dons, a mesma inteligência, a mesma capacidade, os mesmos recursos ou a mesma história de seus semelhantes. Todos eles também têm as suas limitações e sérios problemas. É Deus quem reparte os dons com os homens a seu bel-prazer. Afaste-se da inveja. Existe sempre a mesma compensação para todos: "A minha graça te basta" (2 Co 12.9).

4. Aproveitamento
Aprenda a transformar a desvantagem em vantagem. Aqueles que estão acostumados a fazer do Senhor a sua força "são capazes de transformar lugares secos em fontes, transformar tristezas e sofrimentos em alegrias e bênçãos, em lugares cobertos de flores e frutos com a chuva da primavera. Sempre que surge uma dificuldade, eles recebem a força de Deus, vão sempre ao templo em Sião para adorar o Senhor". (Sl 84.5-7, BV.) As mais notáveis obras sociais foram realizadas por pessoas que tinham desvantagens e, por causa delas, se aplicaram ao estudo e ao trabalho para diminuir o sofrimento alheio. Lembre-se também de que muitos de seus problemas e complexos são mero resultado de convenções e modismos de uma sociedade divorciada de Deus, que jaz no maligno e não tem autoridade para impor usos e costumes. São coisas banais, mas capazes de transtornar a auto-imagem e a liberdade com que Cristo nos libertou.


Autor: Elben M. L. Cesar

sábado, 16 de outubro de 2010

Práticas Devocionais - PRÁTICA DA ESPERA

A prática da espera é a arte de aguardar tranquilamente a hora de Deus, sem deixar de fazer o que é de nossa competência e sem fazer o que é da competência de Deus, deixando de lado toda impaciência e todo esmorecimento.

Um dos maiores transtornos do homem é não saber nem querer esperar alguma coisa ou algum acontecimento desejado ou necessário. Assim como "a substância ainda informe" (Sl 139.16) gasta nove meses para se transformar em uma criancinha apta para sair do ventre materno e sobreviver fora dele, muitas de nossas carências não são nem podem ser satisfeitas imediatamente, ao toque de uma varinha de condão, como muitos querem. Jesus esperou trinta anos para iniciar seu ministério público (Mt 4.17; Lc 3.23), três dias para ressuscitar de entre os mortos (Mt 16.21) e quarenta dias para ser assunto aos céus (At 1.3).

A DIFÍCIL ARTE DE ESPERAR

A prática da espera é difícil por causa da impaciência, por causa da pressa, por causa da ansiedade, por causa do imediatismo e por causa da curiosidade. É preciso aprender a lidar com todos esses elementos que tornam a espera dolorosa demais, senão impossível. Um erro é não esperar nada, outro é não saber esperar.

O MÉTODO CERTO

É preciso esperar numa atitude de confiança. "Esperei confiantemente pelo Senhor; Ele se inclinou para mim e me ouviu quando clamei por socorro". (Sl 40.1.)

É preciso esperar numa atitude de paciência. "Depois de esperar com paciência, obteve Abraão a promessa". (Hb 6.15.)

É preciso esperar numa atitude de tranquilidade. "Vou esperar, tranquilo, o dia em que Deus castigará aqueles que nos atacam". (He 3.16, BLH.)

AS TENTAÇÕES DA ESPERA

Na prática da espera, uma tentação é deixar de esperar, abandonar a esperança, cansar-se de uma espera que parece longa demais. Outra é intrometer-se, resolver a questão de qualquer modo, assumir a responsabilidade de providenciar o que estava nas mãos de Deus. As duas tentações se entrelaçam e só causam aborrecimentos. É o caso de Abraão e Sara, que lançaram mão do expediente de Hagar (Gn 16.1-16). É também o caso de Saul, que adiantou-se a Samuel e fez o que não lhe era permitido (l Sm 13.8-15).

ESPERAS COMUNS

A espera é muito mais frequente do que se pensa. E esta longa lista de espera envolve tanto o crente como o descrente. Paulo lidava com as mesmas esperas com as quais lidamos hoje: a espera de alguém (At 17.16; l Co 16.10, 11), a espera de notícias (l Ts 3.5), a espera de uma oportunidade para viajar (l Tm 3.14; Rm 15.23. 24) etc. Em certas circunstâncias, a espera é desgastante. Em uma de suas epístolas, Paulo confessa; "Já não me sendo possível continuar esperando, mandei indagar o estado da vossa fé, temendo que o tentador vos provasse, e se tornasse inútil o nosso labor" (l Ts 3.5).

ESPERAS MUITO ESPECIAIS

1. É preciso aprender a esperar o fim da tempestade, isto é, o fim da provação, o fim da tentação, o fim do período de vacas magras, o fim do infortúnio, como o de Jó ou o de Davi (quando era perseguido por Saul) etc. No caso da tempestade propriamente dita, que caiu sobre o Mediterrâneo na altura de Creta e provocou o naufrágio do navio em que Paulo viajava, a tormenta durou quatorze dias sem sol nem estrelas (At 27.33).

2. É preciso aprender a esperar a hora de Deus. Ele enfeixou em suas mãos os tempos e as épocas e exerce autoridade sobre eles (At 1.7). O relógio humano não é o relógio de Deus.

3. É preciso aprender a esperar a evolução dos acontecimentos. Todos os acontecimentos relacionados com a vida de José, por mais estranhos e injustos que pareçam, tinham ligação com a posição que ele assumiu como governador do Egito (Gn 45.5). Deus está acima da história.

4. É preciso aprender a esperar a resposta à oração. Isaque e Rebeca esperaram vinte anos de oração para finalmente se tornarem pais de Esaú e Jacó (Gn 25.19-26). Jesus diz que Deus apenas parece demorado em responder às orações (Lc 18.7).

5. É preciso aprendera esperar a direção do Senhor. Nem sempre a direção que parece lógica e certa é a direção de Deus. Paulo queria continuar na Ásia, mas Deus o queria na Europa. Daí a atuação do Espírito impedindo a viagem para Bitínia e o apelo macedônio (At 16.6-10).

6. É preciso aprender a esperar a morte. Há pessoas que estão doentes e "amarguradas de ânimo" (caso de Jó), que estão cansadas de tanto ver prosperar o mal (caso de Elias) ou que estão ansiosas para estar com Cristo (caso de Paulo). Embora já não queiram viver (Jó 3.20-22; l Rs 19.4; Fp 1.23), elas estão proibidas de provocar a própria morte.

ESPERAS ESCATOLÓGICAS

1. É preciso esperar o desenvolvimento da salvação. A salvação é mais do que o perdão de pecados. Daí a palavra de Paulo: "A nossa salvação está agora mais perto do que quando no princípio cremos" (Rm 13.11).

2. É preciso esperara volta de Jesus. A espera é contínua, pois "não sabeis em que dia vem o vosso Senhor" (Mt 24.42; At 1.11).

3. É preciso esperara redenção do corpo, seja pela ressurreição, seja pela súbita transformação do corpo atual. Na verdade, "gememos em nosso íntimo, aguardando [...] a redenção do nosso corpo" (Rm 8.23).

4. É preciso esperar a glória total. "Os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória que deverá revelar-se em nós". (Rm 8.18, BJ.)

5. É preciso esperar novos céus e nova terra. Esta é uma das promessas de Deus (2 Pe 3.13).

6. É preciso esperar a plenitude do reino de Deus. A oração duas vezes milenar "Venha o teu reino" (Mt 6.10) ainda não foi respondida na sua amplitude. Daí a espera daquele dia quando se dirá: "O reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e Ele reinará pelos séculos dos séculos" (Ap 11.15).

ESPERAS INDEVIDAS

1. Já não é preciso esperara vinda do Messias. Este foi o erro da mulher samaritana quando disse a Jesus: "Eu sei [...] que há de vir o Messias, chamado Cristo" (Jo 4.25).

2. Já não é preciso esperara efusão do Espírito. Tal derrame já se deu no dia de Pentecostes, pouco depois da ascensão de Jesus (At 2.1-4).

3. Já não é preciso esperar a proclamação do evangelho. Aplica-se a nós o que os quatro leprosos disseram na época de Eliseu: "Não fazemos bem: este dia é dia de boas novas, e nós nos calamos; se esperarmos até à luz da manhã, seremos tidos por culpados; agora, pois, vamos, e o anunciemos à casa do rei" (2 Rs 7.9).


Autor: Elben M. L. Cesar 

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Práticas Devocionais - PRÁTICA DO EQUILÍBRIO

A prática do equilíbrio é a arte de se aproximar o máximo possível da medida certa no tempo certo, pelo acurado exercício do bom senso e sob a orientação da Palavra de Deus em seu todo e do Espírito Santo. O verdadeiro equilíbrio nunca é neutralidade, hesitação contínua, passividade, medo de riscos, desejo de agradar a gregos e troianos ou fuga de responsabilidade. Ao contrário do que se pensa, a prática do equilíbrio em geral é a mais trabalhosa e a mais criticada das posições, pois não conta com o apoio das multidões que se encontram num extremo e no outro.

O comportamento de Pedro na cerimônia do lava-pés exemplifica a tendência humana para o desequilíbrio. Depois de garantir a Jesus Cristo: "Nunca me lavarás os pés" (Jo 13-8), o apóstolo passou imediatamente para o outro lado: "Senhor, não somente os meus pés, mas também as mãos e a cabeça" (Jo 13.9). É a perniciosa filosofia do ou tudo ou nada, também conhecida por oito ou oitenta, transportada para a conduta religiosa.

EQUILÍBRIO E SUCESSO

O sucesso contínuo na vida e na liderança cristãs prende-se demais à prática do equilíbrio, como se vê neste recado de Deus a Josué: "Não te apartes dela [de toda a lei], nem para a direita nem para a esquerda, para que triunfes em todas as tuas realizações (Js 1.7, BJ). O rei Josias foi largamente usado por Deus porque "imitou em tudo o proceder de Davi, seu pai, sem se desviar para a direita nem para a esquerda" (2 Rs 22.2, BJ).

É preciso ter em conta que o perigo não está apenas na posição extremada de um lado, mas também na posição extremada do lado oposto. Por exemplo, um erro é sacrificar o valor da fé por causa da importância das obras, e outro é sacrificar o valor das obras por causa da importância da fé. Não se pode colocar Paulo contra Tiago nem este contra aquele. O que ambos os pilares da doutrina evangélica querem ensinar é que a salvação é pela graça "mediante a fé" (Ef 2.8) e que a fé sem obras "está morta" (Tg 2.17) ou "é morta" (Tg 2.26.)

A falta de equilíbrio cria divisões na igreja, dá à luz movimentos heréticos, gera fanatismo e pode até produzir monstros religiosos.

O MANDAMENTO DO EQUILÍBRIO

As Escrituras Sagradas estão cheias de apelos ao equilíbrio, como se pode ver a seguir:

A orientação para não se desviar nem para a direita nem para a esquerda aparece várias vezes no Velho Testamento. O apelo é dirigido insistentemente ao povo de Israel (Dt 5.32, 33; 28.14; Js 23.6; Pv 4.27) e aos seus líderes (Dt 17.20; Js 1.7).

A virtude da sobriedade é recomendada inúmeras vezes no Novo Testamento. Outra vez o apelo é dirigido tanto à igreja (l Co 15-34; Fp 4.5; l Ts 5.6; Tt 2.12; l Pé 1.13; 4.7; 5-8) como à sua liderança (l Tm 3.2; Tt l.7,8), A Timóteo a exortação é mais ampla: "Tu, porém, sê sóbrio em todas as coisas" (2 Tm 4.5). Os que criam problemas na igreja precisam de um "retorno à sensatez" (2 Tm 2.26).

ÁREAS DE EQUILÍBRIO

1. No conceito pessoal
A Bíblia ensina que ninguém deve pensar de si mesmo além do que convém (Rm 12.3). A justa estima proíbe também o outro extremo: ninguém deve pensar de si mesmo aquém do que convém. O primeiro extremo abre caminho para o sentimento de superioridade; o segundo, para o sentimento de inferioridade. Ambos são indesejáveis e desastrosos. Se alguém pensa de si mesmo além do que convém, deve recuar; se pensa aquém, deve avançar. O equilíbrio acaba com o orgulho e a jactância de um lado, e com a inveja e o ciúme do outro.

2. No estado de espírito
A Bíblia ensina que o servo de Deus precisa ser prudente como as serpentes e ao mesmo tempo símplice como as pombas (Mt 10.16). Entre o otimismo fácil e beato de alguns e o pessimismo excessivo ou doentio de outros, há um lugar intermediário. Alguém disse que "a euforia, como o desalento, também pode ser maléfica".

3. Na experiência do prazer
A Bíblia ensina que nada aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma (Mc 8.36). O prazer não é gratuito: sempre custa um preço, às vezes bem elevado. A troca de Esaú — o direito de primogenitura por um repasto — não foi boa. Mas a troca de Moisés — os prazeres transitórios do pecado pelo galardão eterno (Hb 11.24-26) — não poderia ter sido melhor.

4. No relacionamento das gerações
A Bíblia diz: "Geração vai, e geração vem; mas a terra permanece para sempre" (Ec 1.4). A geração velha entra com a tradição e a geração nova, com a contestação. Uma precisa da outra. A tradição fornece o barro e a contestação o trabalha. O equilíbrio não está em aderir à tradição ou à contestação, mas em permitir uma simbiose entre ambas.

5. No conceito de sexo
A Bíblia diz: "Bebe a água da tua própria cisterna, e das correntes do teu poço" (compare Pv 5.15 com l Co 7.2). De um lado, o ponto mais extremo diz que o sexo é pecado. De outro, o ponto mais extremo diz que nenhuma expressão sexual é pecaminosa. Se o excessivo pudor associado com a chamada atividade sexual subterrânea do passado foi um desastre, o despudor generalizado dos dias em curso é desastre também.


Autor: Elben M. L. Cesar

sábado, 9 de outubro de 2010

Práticas Devocionais - PRÁTICA DO DISCERNIMENTO

A prática do discernimento é a arte de distinguir com a maior precisão possível entre duas ou mais coisas, cujas diferenças nem sempre aparecem à primeira vista. Sem a prática do discernimento, é possível chamar o mal de bem e o bem de mal, a escuridão de claridade e a claridade de escuridão, o amargo de doce e o doce de amargo (Is 5.20).

O assunto é de tanta complexidade e importância que Salomão, logo que assumiu o trono de Israel, levou-o em oração a Deus: "Dá, pois, ao teu servo coração compreensivo para julgar a teu povo, para que prudentemente discirna entre o bem e o mal" (l Rs 3.9).

ÁREAS DE DISCERNIMENTO

1. É preciso discernir entre o bem e o mal
Nem sempre o mal parece mal, nem sempre o bem parece bem. Uma das tarefas dos sacerdotes na história do povo de Israel era ensinar-lhe a distinguir entre o santo e o profano, entre o imundo e o limpo (Ez 44.23). Mas em época de decadência, até os sacerdotes tinham dificuldade de enxergar a diferença entre uma coisa e outra (Ez 22.26).

2. É preciso discernir entre o falso e o verdadeiro
O falso é falso. Não é verdadeiro. Mas sempre tem semelhanças com o verdadeiro, para passar por verdadeiro. Aqui está uma área de muito risco: agarrar-se ao falso e deixar escapar o verdadeiro. Há uma porção de coisas falsas, desde falso testemunho (Êx 20.16) até espírito falso (l Rs 22.20-23; l Jo 4.1). Entre um e outro, há notícias falsas (Êx 23.1), falsa acusação (Êx 23.7), falso juramento (Lv 6.3), língua falsa (Pv 21.6), falsa pena (Jr 8.8), visão falsa (Jr 14.14), falsa circuncisão (Fp 3.2), falsa humildade (Cl 2.23), falsos irmãos (2 Co 11.26), falsos profetas (Mt 7.15; 24.11), falsos mestres (2 Pe 2.1), falsos apóstolos (2 Co 11.13) e falsos cristos (Mt 24.24).

3. É preciso discernir entre a vontade própria e a vontade de Deus
Nem sempre a vontade própria expressa a vontade de Deus. Muitas vezes uma é contrária à outra. Mas, para justificar-se e acalmar a consciência, é fácil chamar a vontade própria de vontade de Deus. José soube discernir perfeitamente a vontade própria, despertada pela sedução da mulher de Potifar, da vontade de Deus e realizou esta, e não aquela (Gn 39.7-12). Talvez fosse da vontade própria de Davi vingar-se de Saul e tirar-lhe a vida, mas a vontade de Deus era outra (l Sm 24.1-7). Quando não se faz a distinção entre a vontade pessoal e a vontade de Deus, a desobediência é certa.

4. É preciso discernir entre a falta alheia e a falta própria
Com muita facilidade e com muito risco, enxerga-se a falta alheia, enquanto a falta própria passa despercebida (Sl 19.12). Foi o que aconteceu com Davi quando ele foi confrontado por Nata. Com incrível rapidez, o salmista discerniu a injustiça do homem rico da parábola do profeta e nem passou por sua cabeça que a dura acusação se referia a ele próprio (2 Sm 12.1-6). Judá, um dos doze filhos de Jacó, discerniu claramente o pecado de sua nora Tamar e chegou a condená-la à morte, mas não enxergou o seu próprio pecado, senão depois de acusado (Gn 38.12-26).

5. É preciso discernir entre os acontecimentos comuns e os grandes momentos de Deus
A destruição de Jerusalém aconteceu porque os judeus "não reconheceram a oportunidade da sua visitação" (Lc 19.44). O Verbo, que estava com Deus e era Deus, fez-se carne e "veio para o que era seu", mas "os seus não o receberam" (Jo 1.11). Há dias especiais no calendário de Deus, que devem ser conhecidos e distinguidos dos dias comuns. A importância daqueles dias é que eles são "o dia dos humildes começos" (Zc 4.10).

O TRIGO E O JOIO

Há dois elementos que tornam a prática do discernimento bastante difícil. Um é o pecado, que confunde, cega e cauteriza. O outro é a atuação satânica, que ilude, engana e torna o mal parecido com o bem. O ímpio é capaz de abjurar "o discernimento e a prática do bem" (Si 36.3) e Satanás é capaz de se transformar em anjo de luz (2 Co 11.14). A parábola do joio explica realisticamente esse drama terrível da parecença dos filhos do maligno com os filhos do reino, pelo menos no início. A semelhança do joio com o trigo é tão grande que qualquer providência para separar um do outro antes da colheita é barrada pelo dono das terras. Até a consumação do século, é preciso aprender a lidar com essa situação confusa, criada pelo maligno (Mt 13.24-30, 36-43).


Autor: Elben M. L. Cesar

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