sexta-feira, 27 de maio de 2011

[Liturgia] A ESPIRITUALIDADE DE DEUS

JOÃO 4:1-26

Introdução: Quando falamos de Deus, da Sua natureza e atributos, referem-nos à essência de Deus e não nas maneiras que Ele tem se manifestado, e não necessariamente de uma determinada pessoa da trindade. A palavra ‘Pai’ mostra a Sua personalidade enquanto a palavra ‘Deus’ manifesta a Sua essência (Charnock, V. I, pg. 178).

Os atributos de Deus são as características distintivas da natureza divina inseparáveis da idéia de Deus e que constituem a base e apoio das suas varias manifestações às suas criaturas

Chamamo-los atributos porque somos compelidos a atribuí-los a Deus como qualidades ou poderes fundamentais ao Seu ser a fim de dar um relato racional de alguns fatos constantes nas auto-revelações de Deus. Não são existências separadas. São atributos de Deus (A. H. Strong, V.I, pg. 364, 366).

Atributo é a essência total agindo de um modo. O centro da unidade não está em qualquer atributo, mas na essência. ... A diferença entre o atributo divino e a pessoa divina é que a pessoa é um modo da existência da essência, enquanto o atributo é um modo da relação, ou da operação da essência (Shedd, Dogmatic Theology., 1.335. citado em A. H. Strong, V. I., pg.367).

QUAL É A NATUREZA DE DEUS?

“DEUS É ESPÍRITO” (JOÃO 4.24)

Dizendo que Deus é Espírito é fácil a dizer pois a Bíblia diz assim. Mas o que quer dizer por “espírito”? A palavra espírito é usada varias vezes de vários significados. Quais apontam a Deus?

Espírito aerificado (Reduzir (-se) ao estado gasoso; aerizar, Dicionário Aurélio Eletrônico), Salmos 11.6, no hebraico “vento tempestuoso” ‘espírito de tempestade

Respiração – “espírito de vida”, Gênesis 6.17.

Anjos – Salmos 104.4, “faz dos seus anjos espíritos”. Podem ser tanto os bons quanto os imundos (Marcos 1.27)

Alma/espírito - do homem (Eclesiastes 12.7); de Cristo (João 19.30); Deus é Deus “dos espíritos de toda a carne” (Números 16.22).

Sem Carne – “seus cavalos, carne, e não espírito” (Isaías 31.3); “um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho” (Lucas 24.39)

Ativo e eficaz – “Porém o meu servo Calebe, porquanto nele houve outro espírito, e perseverou em seguir-me”; Calebe manifestou uma afeição ativa e não uma índole preguiçosa. Usado ‘espírito’ pois um espírito geralmente tem uma natureza ativa (Números 13.24; Daniel 6.3).

A forte atividade do pecado - Oséias 4.12, “O meu povo consulta a sua madeira, e a sua vara lhe responde, porque o espírito da luxúria os engana, e prostituem-se, apartando-se da sujeição do seu Deus”. Esta mesma idéia é embutida em Provérbios 29.11, “O tolo revela todo o seu pensamento (Hebraico = ‘espírito’)” no sentido que ele não sabe refrear a atividade da sua mente; ação espontânea sem controle ou limite.

Quando a Bíblia diz que Deus é Espírito ela quer transmitir que Deus é a somatório de todos os significados, ou seja: substância invisível e ativa que promove ações em Si e em outros. Não tem corpo, é sem o tamanho, a figura, a bitola, ou o cumprimento de um corpo, completamente separado de algo que é carnal ou de matéria (Charnock, V. I, pg.181). “Deus é Espírito espiritíssimo, mais espiritual de todos os anjos ou almas” (Charnock, V. I., pg. 181, citando Gerhard). Como Ele excede tudo na essência do Seu ser, assim Ele excede tudo na Sua natureza de espírito: tem nada grosso, pesado, ou de matéria na Sua essência.

A afirmação que “Deus é Espírito” testifica da heresia dos Saduceus que deram a Deus um corpo somente. Atos 23:8, “Porque os saduceus dizem que não há ressurreição, nem anjo, nem espírito; mas os fariseus reconhecem uma e outra coisa”.

Afirmando “Deus é Espírito”, no contexto de João 4.24, manifesta verdades sobre a verdadeira adoração do homem à Divindade. A própria essência de Deus, e não a vontade de apenas uma Pessoa da Trindade, se agrada com adoração espiritual, espírito com Espírito. Não é isento, nessa adoração espiritual, o uso de lugares específicos e de objetos corporais, pois tudo que Ele criou, e ao homem deu-lhe um corpo, deve dá-Lo o Seu devido louvor (Salmos 150.6). O uso do corpo, com gestos cerimoniais, como os quais Jesus referia-Se no contexto, os dos fariseus e os dos samaritanos, não Si agradaram, pois eram cerimoniais mortas, feitos por tradição e não de um coração com entendimento. Os gestos cerimoniais originalmente apontavam às verdades de Deus. Deus quer que adoremos Ele de entendimento e não com cerimônias mortas. Jesus está dizendo à mulher Samaritana que ela deve se separar de todos os modos carnais (“Nossos pais adoraram neste monte”, v. 20) e prestar louvor primeiramente nas ações do coração e acondicioná-lo mais corretamente à condição do Objeto adorado, que “é Espírito” (Charnock, V. I, pg. 179).

Substâncias espirituais são mais excelentes do que as corporais, pois dão vitalidade às corporais; a alma do homem mais excelente do que outros animais; anjos mais excelentes do que os homens (Salmos 8.5; Hebreus 2.7). O superior, na sua própria natureza, contém a dignidade do inferior; Deus deve ter, portanto, uma excelência acima de todos esses e assim sendo, é inteiramente remoto das condições de um corpo (Charnock).

Alguns sugerem que no tabernáculo o ouro e os outros ornamentos do tabernáculo apontavam a uma qualidade de Cristo, mas qualquer coisa visível era inadequada representar a natureza de Deus que é puramente invisível, não podendo representar-Se à mente do homem adequadamente. Porém, sabendo que a adoração envolve a Trindade e pelo fato do tabernáculo representando a presença de Deus no meio do povo pecador, seria apto para o tabernáculo manifestar os atributos de Deus. Para representar a espiritualidade da natureza de Deus alguns apontam ao ar contido na arca da aliança. O ar é invisível e se difusa em todas as partes do mundo, flui em todas as partes das criaturas e, enche o espaço entre o céu e a terra. Ensinando assim que Deus é espírito e não há lugar onde Deus não está presente. (Charock).

“DEUS É ESPÍRITO”

– Se Deus tivesse a forma de homem, os gentios não seriam acusados de pecado por mudar a Sua glória incorruptível em semelhança de homem corruptível (Romanos 1.23) (Charnock, V. I, pg. 182).
Se “Deus é Espírito”, porque a Bíblia atribua a Ele partes corporais (? “Devem ser consideradas como antropomórficas e simbólicas. Quando se fala que Deus aparece aos patriarcas e anda com eles, tais passagens devem ser explicadas como referindo-se às manifestações temporárias do próprio Deus em forma humana – manifestações que prefiguravam o tabernácular final do Filho de Deus em carne” (A. H. Strong, V.I, pg.373). Por Deus ser Espírito puro estas passagens se tomem num sentido figurado e simbólico (T. P. Simmons, pg.84). Gênesis 32.30; Deuteronômio 34.10 somente podem ensinar que Deus se manifestou a Jacó e a Moisés numa representação que adequava à mente, ao espírito ou à vista deles, não que Ele tem um corpo (A H Strong). Estas representações aludem à Sua obra, e não à Sua natureza invisível. O olho – Sua sabedoria; braço e mão – Sua eficiência. Nelas são manifestas as Suas perfeições ao homem: os olhos e os ouvidos – onisciência; a face – Seu favor; a boca – revelação da Sua vontade; as narinas – aceitação das nossas orações; as entranhas – Sua compaixão; o coração – a Sua sinceridade das afeições; a mão – a força do Seu poder; os pés – a Sua presença. Também por elas Ele nos ensina e nos conforta: Seus olhos – a Sua vigilância sobre nós; Seus ouvidos – a Sua prontidão a ouvir as súplicas dos oprimidos, Salmos 34.15; Seu braço – Seu poder, para aliviar os Seus e para destruir os inimigos, Isaías 51.9 (Charnock, pg. 189).

“Deus é Espírito” – “Eu Sou o que Sou” (Êxodo 3.14) manifesta-se a Si mesmo com tal descrição como um ser puro, simples, não criado; tão infinitamente superior do ser das criaturas quanto mais alto das concepções que elas têm dEle (Jó 37.23; Isaías 55.8,9). A Sua superioridade é percebida em que Deus é nomeado “Pai dos espíritos” (Hebreus 12.9) – Charnock.

SE DEUS NÃO FOSSE ESPÍRITO:

1. Não pode ser Criador. A sabedoria, bondade, poder, são tão infinitas, perfeitas e admiráveis que não podem ser contidas numa forma corporal. Pode uma substancia corporal por a sabedoria no íntimo, ou dar à mente o entendimento (Jó 38.36)?

2. Não pode ser invisível. Paulo adiciona invisível como parte das perfeições de Deus (I Timóteo 1,17). A Sua divindade se entende pelas Suas obras que são visíveis mas não é visível o Seu ser (João 1.18; I Timóteo 6.16).

3. Não pode ser infinito. Deus é infinito (II Crônicas 2.6; 6.18; Isaías 66.1) portanto não pode ser feito de partículas e membros; nem partes finitas, que nunca podem constituir um Ser eterno e ilimitado, nem de partes infinitas, que precisariam existir antes do Deus que elas compõem. Portanto, não tendo membros e sendo infinito, Deus é Espírito.

4. Não pode ser imutável. Por Deus ser Espírito puro e não composto, Deus é imutável (Malaquias 3.6; I Timóteo 1.17; Tiago 1.17). Tudo que é composto é mutável na sua natureza, mesmo que nunca mudava. Se Adão não pecasse nunca teria tornado ao pó, mas por ser um ser composto, poderia mudar. Mas, Deus é imutável em essência, e portanto, é Espírito.

5. Não pode ser onipresente. Um corpo não pode encher o céu e a terra de uma só vez com tudo que é pois é limitado ao tempo e espoco. Mas Deus é onipresente (Salmos 139.7-10; Jeremias. 23.23, 24), portanto Espírito.

6. Não pode ser o Ser mais perfeito. Como a alma e espírito do homem corporal faz ele ser superior de todo demais que tem corpos (animais), e como os anjos, que são espíritos sem corpos são superior dos homens, Deus é mais perfeito do que a Sua criação por ser Espírito puro. O efeito não pode superar a Causa. Cada ser composto é criado é, em essência, finito e limitado, e assim sendo, longe de perfeição.. Por Deus ser a Luz sem nenhuma trevas (I João 1.5) e sem sombra de mudança (Tiago 1.17), sabemos que Ele é perfeito. Se perfeito, é o mais sublime Espírito.

Por Deus ser Espírito, é tanto pecado (Êxodo 20.5; Deuteronômio 5.8,9) quanto tolice formar em matéria qualquer imagem ou desenho de Deus. Nossas mãos são tão incapazes de formar uma imagem dEle ou desenha-lO como são incapazes os nossos olhos de O ver. Que a proibição de fazer imagens de Deus para O adorar ou ajudar na adoração é para todos os povos e de todos os tempos é claro pois Ele julgará tanto o Seu povo quanto os pagãos de fazer tal tolice (Isaías 40.18-26; Romanos 1.21-25). Tais pessoas que fazem as imagens e desenhos, reais ou imaginativos, são tão estúpidas quanto as imagens (Salmos 115.4-8).

APLICAÇÕES:

1. Por Deus ser Espírito, o homem só pode conversar com Ele pelo espírito vivificado por Cristo (I João 1.3). Ele não é um corpo, portanto a beleza de templos, o valor ou o tamanho dos sacrifícios, o perfume doce da fumaça de incenso ou o esforço de qualquer ação externa, não são aceitáveis a Ele. Deus olha no coração, aos sacrifícios de um espírito quebrantado. Isto é o que é agradável a Ele. Disso Ele não desprezará (Salmos 34.18; Salmos 51.16, 17). Para termos comunhão mantida com Ele devemos ter o espírito da nossa mente renovado (João 3.5; Efésios 4.23). Nunca podemos ser unidos a Deus senão no espírito vivificado em Cristo. Não podemos manter comunhão com Ele se não mantemo-nos limpos espirituais. Tanto mais espirituais, mais comunhão temos com Ele.

2. Se Deus é Espírito, o Cristão só pode ser satisfeito verdadeiramente com Ele. Como somos feitos na Sua imagem pela natureza espiritual da nossa alma, assim podemos ter nenhuma satisfação verdadeira senão nEle. Não temos inter-relacionamento com anjos. A influencia que eles têm conosco, a proteção que nos dão, é oculta e não discernida; mas Deus, o Espírito mais sublime, vem a nós por Seu Filho. A Ele devemos buscar; nEle devemos descansar, com Ele podemos comungar (Salmo 90.1; Salmos 63.1). Deus, sendo Espírito, nos fez na Sua imagem espiritual, devemos, portanto somente nos satisfazer nEle.

3. Se Deus é Espírito, devemos ter cuidado naquilo que mais somos na Sua imagem. O espírito é mais nobre que o corpo, portanto devemos pôr valor em nosso espírito mais no que no corpo. A nossa alma, através do espírito tem mais comunhão com a natureza divina e, portanto, merece o nosso maior cuidado. Aquilo que tem a imagem do Espírito em nós deve ser valioso. Davi, entendendo esse valor, chama a sua alma a sua predileta (Salmos 35.17). Manifestamos pouca reverencia para Deus Espírito quando não cuidamos do nosso espírito.

4. Se Deus é Espírito, devemos desviar-nos especialmente daqueles pecados que são espirituais. O Apóstolo Paulo fez diferença entre a imundícia da carne e a do espírito. Devemos nos purificar de todo pecado, tanto da carne quanto do espírito para sermos aperfeiçoados em santificação (II Coríntios 7.1). Pela imundícia da carne corrompamos o corpo, aquilo que o homem vê e usa para servir Deus diante do homem. Pela imundícia do espírito corrompamos aquilo que, na sua natureza, tem parentesco ao Criador, e é pelo qual intimamente servimos a Deus e qual Ele vê particularmente. Quando fazemos o nosso espírito o anfitrião de imaginações vãs, desejos imundos, e afeições torpes, pecamos contra a excelência de Deus em nós; contaminamo-nos naquilo pelo qual temos comunicação e vida com Ele, o nosso espírito. Pecados espirituais são os piores pecados, pois como a graça em nossos espíritos nos conforma ao fruto do Espírito Santo, assim os pecados espirituais nos contamina com semelhanças ao espírito depravado, o dos anjos caídos (Efésios 2.2,3). Pecado na carne transforma homens em brutos; pecados espirituais conformam-nos á imagem de Satanás. De maneira nenhuma devemos fazer dos nossos espíritos um monturo, mas, pela renovação dos entendimentos, por pensar no que é puro, justo e divino, seremos transformados para saber e realizar qual é a perfeita vontade de Deus (Filipenses 4.8,9; Romanos 12.1,2).

Essa transformação é espiritual (João 3.3, 5-8). É por Cristo (Efésios 1.3, 7, 13; 2.13-18). Já se arrependeu dos pecados e creu pela fé em Cristo Jesus? Já está a hora!



Autor: Pastor Calvin Gardner
Fonte: www.obreiroaprovado.com

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