sábado, 19 de fevereiro de 2011

[Discipulado] CHAMADO AO DISCIPULADO

Marcos 2.14: “Quando ia passando, viu a Levi, filho de Alfeu, sentado na coletoria, e disse-lhe: Segue-me! Ele se levantou e o seguiu”.

Esta é a única e verdadeira possibilidade de existir discipulado, a relação imediata entre chamado e obediência.
A resposta do discípulo não é uma confissão oral da fé em Jesus, mas sim um ato de obediência.
O que a gente sabe a respeito do conteúdo do discipulado? Jesus tem a resposta: “Segue-me! Vai andando atrás de mim! Isso é tudo! Isso não parece um programa de vida cheio de realização, sucesso , satisfação, não é algo que pelos padrões humanos mereça sacrifício.
O discípulo é chamado a abandonar tudo, tudo mesmo, sua própria existência anterior, o que é velho deve ficar para trás, totalmente abandonado.
Bonhoeffer diz que o discípulo é:
• arrancado de sua relativa segurança de vida, e lançado à incerteza completa (i. é na verdade, para a absoluta segurança e proteção da comunhão com Jesus);
• de uma situação previsível e calculável (i. é de uma situação totalmente imprevisível);
• para dentro do imprevisível (i. é na verdade, para dentro do que é unicamente necessário e previsível);
• do domínio das possibilidades finitas (i. é, na realidade as possibilidades infinitas);
• para o domínio das possibilidades infinitas (i. é, para a única realidade libertadora).
Qual é o conteúdo do discipulado? Não qualquer outro conteúdo, porque Jesus é o único conteúdo. O chamado ao discipulado é, portanto, comprometimento exclusivo com a pessoa de Jesus Cristo.
Concepções e ideias sobre Cristo, um sistema de doutrinas a respeito de Cristo, conhecimento religioso a respeito de Cristo, da sua graça e do seu perdão, não são necessariamente discipulado, na verdade, na maioria das vezes excluem Cristo, são contra Ele.
Saber algo sobre Cristo pode fazer você ter uma relação de conhecimento, de admiração por Ele, talvez até de fazer algo por em nome d’Ele, mas nunca uma relação de discipulado pessoal e obediente.
Cristianismo sem Jesus Cristo vivo, é cristianismo sem discipulado, e cristianismo se discipulado é cristianismo se Jesus Cristo, é uma ideia, um mito. Discipulado sem Jesus é escolha pessoal de uma caminho talvez ideal que talvez possa leva até ao sacrifício, mas discipulado sem Jesus não tem promessa, Jesus vai rejeitá-lo.
Discipulado é viver pela fé, e o caminho para a fé passa pela obediência ao chamado de Cristo. Jesus exige um passo decisivo, senão o chamado de Jesus fica no vácuo, e tudo aquilo que achamos que é discipulado, sem esse passo radical para o qual Jesus nos chama, se transforma em entusiasmo mentiroso.
Só o crente é obediente, e só o obediente é que crê. A fé só existe na obediência e jamais sem ela, e só é fé verdadeira no ato da obediência.
Quem sabe você se queixa de não conseguir crer: ninguém precisa se admirar de não poder crer enquanto se opõe ou se esquiva, em algum ponto, numa desobediência consciente, ao mandamento de Jesus.
Se você não quiser sujeitar ao mandamento de Cristo uma paixão pecaminosa, um rancor, uma mágoa, uma esperança humana, os planos da sua vida, a sua razão, não fique admirado se não receber o Espírito Santo, de não conseguir orar, de continuar a sentir dificuldade em crer.
Seja obediente, ouça o chamado de Jesus, vai reconciliar-se com seu irmão, vai e abandone o pecado do qual você é escravo e você vai poder crer novamente.
Se você rejeita o mandamento de Jesus, você não pode receber a palavra da graça. Como você pode encontrar a comunhão daquele de quem você fica se esquivando conscientemente em várias questões da sua vida? O desobediente não pode crer; somente o crente é que crê.
O desobediente não pode ouvir a Palavra de Cristo, é impossível que ele venha a crer n’Ela.
É como aquele diálogo entre o desobediente e o pastor.
Desobediente: Pastor, eu não consigo crer!
Pastor: Escuta a Palavra que está sendo anunciada à você!
Desobediente: Eu escuto, mas ela não me diz nada, continua vazia, não me atinge!
Pastor: Você não quer ouvir!
Desobediente: Quero sim!
O que dizer a uma pessoa assim? Somente o crente é que é obediente, e somente o obediente é que crê, portanto, o fato é que por trás de todos estes argumentos do desobediente sobre sua incapacidade de crer, se esconde a sua própria desobediência. Então aquele pastor diz ao desobediente:
Pastor: Você é desobediente, porque você se recusa a obedecer a Cristo. Você quer reservar uma parcela de domínio da sua vida para você mesmo. Você não pode ouvir a Cristo por ser desobediente, você não pode crer na graça por não obedecer; lá num cantinho do seu coração você está obstinado contra o chamado de Jesus. O seu problema é o pecado da desobediência!
A única solução de resolver nossos problemas, nossos conflitos com o pecado em nossa vida, é o mandamento de Cristo, é obedecer de uma vez por todas. E não apenas obedecer por obedecer, mas, obedecer para viver na comunhão com Cristo, porque o principal não são os mandamentos, mas Cristo que é o objetivo do mandamento.
Temos que para de se refugiar na mentira do conflito. O mandamento é claro: “Segue-me!”
Mas qual é o caminho a percorre no discipulado? Jesus diz: Eu te chamo, e isto é tudo!
O conteúdo do discipulado é Jesus Cristo, não há outro conteúdo, que não seja a ligação e a comunhão com Ele. Não somos chamados a apenas seguir o bom Mestre, mas viver na obediência ao filho de Deus.
Somos chamados a nos negar a nós mesmos no discipulado, para que Cristo seja o único objetivo do nosso existir e a autonegação consiste em conhecer apenas a Jesus e não mais a si próprio.
Somos chamados a tomar a cruz. Quem não quiser tomar a sua cruz com medo de sofrer as consequências que isto traz, de ser rejeitado pelos homens, de ser exposto ao sofrimento, esse perde a comunhão com Cristo e não é seu discípulo.
Mas quem perder a sua vida no discipulado, no carregar a cruz, este vai encontrar sua verdadeira vida no próprio discipulado, na comunhão da cruz com Cristo.
Você quer vencer? A cruz é a sua vitória!
Se você quiser se livra do fardo da cruz que te é imposto, você não vai se libertar do fardo, ao contrário, você vai levar um fardo maior ainda, pois o fardo de si mesmo é insuportável. Mas quando o discípulo leva por livre escolha a sua cruz, nessa própria cruz encontrará certeza de proximidade e comunhão com Cristo porque é a Cristo que o discípulo encontra ao tomar sobre si a sua cruz.
Somos chamados a ser sal da terra e luz do mundo, a marcar presença, a sermos vistos, a sermos misturados não com o mundo, mas entre o mundo para ser diferença. Aquele que quer fugir ficando invisível ao mundo, nega o chamado. Igreja de Jesus que quer passar despercebida, não é Igreja no discipulado.
Mas como ser discípulo se temos uma carne que luta contra o espírito? Somos tentados a alimentar a nossa carne e não a deixa-la morrer no discipulado.
Por que não consigo crer, por que não consigo orar, por que não consigo servir, alguns dizem!
Porque alimentamos a carne com a desobediência, e a carne bem alimentada não gosta de orar e nem se dispõe a crer e muito menos a servir.
O que é a vida de fé e discipulado senão a infinita luta do espírito contra a carne?
Como alguém pode querer viver na fé, quando orar é algo enfadonho, quando já perdeu o gosto pela leitura da Palavra? Como pode viver na fé e no discípulo aquele para quem o sono, a comida, a vaidade, o dinheiro, o trabalho, o desejo sexual sempre de novo roubam a alegria em Deus?
O “alimento” do mundo querem desviar o coração do discípulo. Para onde está orientado o coração do discípulo? Para a riqueza do mundo, para Cristo e as riquezas do mundo? Ou está orientado unicamente para Cristo? A luz do corpo são os olhos, a luz do discípulo é o coração. Se os olhos estiverem embotados, como deve estar o nosso coração! E se o coração estiver em trevas, que terríveis trevas existem em seu interior! O coração do discípulo, portanto, se entreva quando se apega às coisas deste mundo.
O chamado de Jesus é radical e a única resposta é a obediência! O chamado prevê um relacionamento compromissado, exclusivo, único, de comunhão com Cristo.
O discípulo não pode viver com um pé na Igreja e outro nas coisas do mundo, pois assim não é verdadeiro discípulo.
O verdadeiro discípulo é crente e obediente, e só obedece e crê quem é discípulo?
E você, quem é?

Baseado no livro DISCIPULADO de Dietrich Bonhoeffer

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

[Discipulado/Evangelismo] O CICLO DO EVANGELISMO E DISCIPULADO: UM PROCESSO SEM FIM


Quando Jesus delegou a Grande Comissão para Seus discípulos, não era uma ideia nova para eles. Através de Seu ensino e exemplo, Jesus já vinha preparando seus discípulos para a tarefa.

A missão dos discípulos antes não era a de meramente agrupar outro movimento social religioso. Deveriam participar da atividade divina de Deus no mundo, redimindo a humanidade perdida para Ele. Da mesma forma que os discípulos tinham visto a multiplicação dos pães e dos peixes, deveriam agora participar perpetuando e multiplicando a mensagem para a qual Jesus os havia comissionado.

Cada um dos quatro Evangelhos conclui com uma ênfase sobre a missão para a qual Jesus comissionou Seus discípulos no final de Seu ministério terreno. As passagens sobre a Grande Comissão nos três Evangelhos Sinóticos, bem como em João, claramente apresentam uma missão abrangente que inclui evangelismo e discipulado.

Uma definição acurada e abrangente de evangelismo foi dada por William Temple, o 98º Arcebispo da Cantuária (1942-44): “Evangelismo é tão somente apresentar Jesus Cristo no poder do Espírito Santo de que os homens podem confiar n'Ele como Salvador e servi- LO como Senhor na fraternidade de Sua igreja”.

Tratar o evangelismo e o discipulado separadamente é fazer uma distinção artificial. Da mesma forma que uma linha não pode ser desenhada entre as cores de um arco-íris, o evangelismo não pode ser separado do discipulado nas Escrituras. O evangelismo e o discipulado não são duas partes de uma progressão que começa com evangelismo e culmina no discipulado. Pelo contrário, ambos compõem um ciclo. O evangelismo não deve ser empreendido com o objetivo de discipulado e o discipulado não deve preparar os crentes para o evangelismo.

Evangelismo Pré-Discipulado
Na Parábola do Semeador, Jesus ensinou que a semente — a Palavra de Deus, ou a mensagem — cairia em diferentes tipos de solo. Algumas pessoas que ouvirem a mensagem não irão responder e algumas que responderem não irão permanecer.

Alguns abordam a Parábola do Semeador a partir de uma perspectiva negativa porque três dos quatro tipos de solo falharam em produzir vida duradoura. Porém, a parábola vai além desses empecilhos ao triunfo da Palavra de Deus em produzir o Reino de Deus. Muito embora boa parte da parábola seja dedicada a enumerar os três tipos improdutivos de solo, apenas uma pequena parte da semente lançaria sobre aqueles lugares num campo real. A parábola não implica necessariamente que a maior parte do trabalho do semeador esteja perdida.

Muitas exposições tratam a Parábola do Semeador como tendo quatro tipos de solo: rochoso, arenoso, espinhoso e o de boa qualidade. A parábola pode, no entanto, ser vista como apresentando dois tipos de solo: o produtivo e o não produtivo. Três exemplos são dados para cada tipo de solo. Toda pessoa enfrenta um de apenas dois destinos. O resultado do evangelismo diz respeito ao solo bom — aquelas pessoas cuja vida não apenas começa, mas cresce e multiplica.

Algumas pessoas abordam o evangelismo com o objetivo único de ver um não-crente orar a oração do pecador. Mas o objetivo do evangelismo é mais que a decisão pela salvação. O objetivo do evangelismo é] uma mudança de estilo de vida — uma pessoa seguindo a Cristo em obediência aos Seus ensinos e comandos. O objetivo final é um discípulo — um seguidor de Cristo comprometido e fiel.

Infelizmente, se uma pessoa chegar à decisão pela salvação sem compreender o custo de seguir a Cristo, ela pode até começar bem, mas não logra êxito em continuar O seguindo e servindo. Esta situação é ilustrada pelos três primeiros tipos de solo mencionados na Parábola do Semeador. As pessoas recebem a mensagem, mas os pássaros levam a semente embora, o sol a queima ou os espinhos a sufocam. Jesus explicou que os pássaros, o sol e os espinhos representavam empecilhos na vida espiritual das pessoas. Isto inclui perseguição ou desejo para os ricos. Estes evitam que a mensagem tenha um efeito de longo prazo. O Ciclo do Evangelismo e Discipulado:

Da mesma forma que apaixonadamente queremos ver as pessoas tomando uma decisão por Cristo, é possível empurrá-las para decisões prematuras ao invés de cooperarmos com o Espírito Santo para que Ele as conduza primeiro, a uma decisão e, então, ao discipulado.

Entender que o discipulado precisa ser o objetivo do evangelismo irá afetar como nós partilhamos a mensagem. Jesus ensinou que Seus seguidores devem entender o custo de ser Seus discípulos: “E qualquer que não tomar a sua cruz e vier após mim não pode ser meu discípulo. Pois qual de vós, pretendendo construir uma torre, não se assenta primeiro para calcular a despesa e verificar se tem os meios para a concluir?” (Lc 14.27-28).

Uma pessoa não crente deve entender a significância da decisão de receber o perdão de Cristo e segui-lO. Os crentes devem ser cautelosos para não manipular emocionalmente as pessoas para decisões que não compreendem ou não estão prontas para tomar. Ao orar com uma pessoa para que receba Cristo, devemos assegurar que ela entende o que está fazendo. Isto requer sabedoria e mesmo comedimento.

Nós não somos responsáveis por convencer as pessoas a comprometerem suas vidas com Cristo. O evangelismo não é somente uma persuasão meramente humana; é um trabalho do Espírito Santo. Jesus prometeu que o Espírito Santo convenceria o mundo do “pecado, da justiça e do juízo” (Jo 16.8). Somos responsáveis por compartilhar a mensagem com clareza. Mas é o Espírito Santo quem convence e persuade o coração do ouvinte. Ao entendermos que Deus toma a iniciativa e permanece ativo no processo de evangelismo, somos capacitados a sermos corajosos e dependentes do Seu trabalho persuasivo. Conseguimos também ser pacientes e a confiar em Seu tempo, ao invés de tentarmos empurrar as pessoas para uma decisão prematura. Isto permite que não sejamos nem hesitantes e nem precipitados em nosso testemunho.

Discipulado Pre-Evangelismo
O ciclo de evangelismo e discipulado está completo quando os discípulos tornam- se mensageiros que evangelizam e fazem mais discípulos.

A Igreja na América e em outros lugares no Ocidente podem aprender com a Igreja em outras partes do mundo nesse sentido. Nos últimos cinquenta anos, o crescimento em número de membros nas igrejas Assembleias de Deus em muitos países ultrapassou o do Ocidente. Isto é especialmente verdadeiro na América Latina, na África e partes da Ásia. Uma razão para este crescimento explosivo e exponencial é que em muitos países do Terceiro Mundo os crentes são ensinados e espera-se que evangelizem. Países em não dispõem de um número significativo de equipes de colaboradores remunerados, as congregações são muitos mais ativas em matéria de evangelismo.

Ser uma testemunha eficaz não necessariamente depende de quanto tempo a pessoa segue a Cristo ou quão madura esteja. Pesquisas extensas em milhares de igrejas mostram que muito do evangelismo pessoal em qualquer congregação é feito por aqueles que se tornaram cristãos há menos de um ano.

O evangelismo pessoal é uma parte essencial no seguir a Cristo. Precisa ser parte do estilo de vida de cada crente causar impacto sobre os não crentes a seu redor.

O Objetivo
O objetivo do evangelismo e do discipulado é claramente descrito na carta de Paulo aos colossenses: “agora, porém, vos reconciliou no corpo da sua carne, mediante a sua morte, para apresentar-vos perante ele santos, inculpáveis e irrepreensíveis, se é que permaneceis na fé, alicerçados e firmes, não vos deixando afastar da esperança do evangelho” (Cl Ciclo do Evangelismo e Discipulado:l 1.22-23). Paulo prossegue, descrevendo o objetivo de se proclamar o Evangelho: “o qual nós anunciamos, advertindo a todo homem e ensinando a todo homem em toda a sabedoria, a fim de que apresentemos todo homem perfeito em Cristo” (Cl 1.28, ênfase nossa). Observe que o objetivo é para que cada discípulo seja apresentado diante do Senhor santo, inculpável e sem mácula — completo em Cristo — no fim da vida na terra.

À medida que conduzirem as igrejas locais ao evangelismo, os pastores muito frequentemente precisarão tomar decisões no que diz respeito ao quanto de tempo e de recursos serão investidos. Nós, assim como Paulo, precisamos nos comprometer em evangelizar “por todos os modos” (1Co 9.22, ênfase nossa). Porém, devemos priorizar aqueles meios que resultem no objetivo final estabelecido pela Palavra de Deus — discípulos que são “perfeito em Cristo” (Cl 1.28). Às vezes, isto significará optar por métodos que não produzam muitas decisões iniciais, mas que resultem em mais discípulos. 

O enfoque de Jesus está nas consequências eternas do pecado e do destino eterno de cada pessoa. O Evangelho chama cada ouvinte para decidir e responder à proclamação da Palavra de Deus. O foco do Evangelho está na salvação dos indivíduos que irão compor a noiva de Cristo. A missão da igreja é participar
da missão de Cristo de conduzir “muitos filhos à Glória” (Hb 2.10). 

O ciclo de evangelismo e discipulado é processo sem fim de alcançar e reter as pessoas que se tornam cidadãs do reino eterno de Cristo.

Autor: RANDY HURST

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Vida Cristã - SERÁ DEUS, REALMENTE, UM DEUS DE CONFORTO?

Muitos doentes dizem: "A última fonte onde posso procurar conforto é em Deus. Não é esse o grande Deus, pleno de poder e de majestade? Não é esse Aquele que criou os céus e a terra? por qual razão eu deveria pensar que Ele se preocuparia com coisas tão pequenas como os meus problemas pessoais?" E mesmo quando pensamos que Ele se interessa, tendemos por dizer: "Não é esse o Deus a quem tenho ofendido, cujas leis tenho desobedecido, cujos convites tenho rejeitado, que é tão puro de olhos que não pode contemplar a iniquidade? E quando me lembro daquilo que tenho sido, daquilo que continuo sendo, por certo Ele é o último em quem eu deveria buscar conforto".

Tudo isso é razoável. Eu não teria sequer uma palavra em contrário. Ao invés de tentar escrever um "livro de conforto", eu próprio teria de entregar-me ao desespero se, porventura, Deus não me tivesse revelado, em Sua Palavra, certas coisas a respeito de Sua pessoa, as quais me autorizam a escrever um livro de conforto. Ora, são essas coisas reveladas que me autorizam a afirmar, a todo aquele que ler este livro: "É tudo para você — tudo para você, meu querido amigo, sem qualquer mitigação ou reserva, é tudo para você. Deus quer que você seja confortado, Ele quer que você receba esse conforto ao escolher a Ele".

Longe de Deus não querer que você venha até Ele, em busca de conforto, Ele condena a sua busca de conforto em qualquer outra fonte. Ele sabe que cada pessoa necessita de consolo, uma por um motivo, e outra por outro (as tribulações das pés soas são diferentes; e ainda que elas sejam parecidas entre si, não atingem precisamente os mesmos particulares da vida, e nem o fazem do mesmo modo). Contudo, sem importar quais sejam essas tribulações, e sem importar como elas estejam atuando, o clamor da Bíblia inteira é que não devemos renunciar Àquele que é a fonte das águas vivas, e nem devemos escavar para nós cisternas rotas, incapazes de reter as águas.

As Escrituras dizem-nos que Deus tem ciúmes; e Ele não o sente somente quando o homem adora a outro deus, mas também quando o homem confere a Ele o segundo lugar em qualquer coisa, inclusive na questão do conforto.

Não há dúvida de que os nossos amigos têm algum conforto para dar-nos, conforto que também podemos obter de livros, das visitas de ministros do evangelho, e de muitas outras fontes; mas todas essas fontes precisam ser subordinadas a Deus. De outro modo, serão como os consoladores de Jó — "consoladores molestos" (Jó 16:2). De alguma maneira inesperada e inoportuna, elas nos deixarão sem nada, pois não tínhamos a Deus.

Examinemos na Bíblia, porém, como o próprio Deus se situa, nessa questão do conforto. Encontramos ali a posição de Deus sobre o conforto?

Paulo mostra-nos claramente como Deus cuida da questão.

Paulo acabara de invocar graça e paz — duas virtudes muito confortadoras — sobre os crentes de Corinto. Donde procediam essas virtudes? Da parte de Deus, nosso Pai, e da parte do Senhor Jesus Cristo. Em seguida, o apóstolo, como se não fosse capaz de conter as palavras, ao começar a falar dessas coisas tão boas, vindas do Pai, irrompeu em grandiosa atribuição de louvor a Deus: "Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai de misericórdias e Deus de toda consolação! É ele que nos conforta em toda a nossa tribulação..." (II Coríntios 1:2-4).

Mais adiante, no capítulo 7, versículos 4 a 6, o apóstolo dá-nos um exemplo de como o nosso Deus nos conforta. Nesse caso, o conforto veio através de agentes humanos, e na ocasião mais oportuna possível, pois então as tribulações manifestavam-se com grande intensidade. Mas o consolo procedeu de Deus, e Paulo destacou distintamente a pessoa d’Ele como a fonte de onde viera o conforto. "Sinto-me grandemente confortado e transbordante de júbilo em toda a nossa tribulação. Porque, chegando nós à Macedônia, nenhum alívio tivemos; pelo contrário, em tudo fomos atribulados: lutas por fora, temores por dentro. Porém, Deus, que conforta os abatidos [note esta expressão: é própria para você], nos consolou com a chegada de Tito".

Deus tem Suas ocasiões oportunas e Suas maneiras de confortar-nos. Por enquanto, quero apenas chamar sua atenção para o fato que o apóstolo mostra Deus como Aquele que tem o hábito de confortar aos abatidos. Ora, esse conforto nos chega como algo bem natural, e não como algo estranho, surpreendente e extraordinário, que possa ter ocorrido em uma ocasião para nunca mais se repetir.

Alguns referem-se a Deus como se n’Ele não houvesse qualquer conforto, e também como se Jesus nos confortasse capacitando-nos a escapar de Deus. Porém, o apóstolo via a ambos, ao Pai e ao Filho, igualmente ativos nessa bendita obra de conforto. Ainda que não houvesse outro versículo para consolar a uma pobre alma, os versículos 16 e 17 do capítulo 2 de II Tessalonicenses deveriam ser capazes de consolar-nos. Esses versículos deveriam conduzir uma pessoa à presença do próprio Deus, a fim de receber consolação da parte d’Ele. "Ora, nosso Senhor Jesus Cristo mesmo, e Deus nosso Pai, que nos amou e nos deu eterna consolação e boa esperança, pela graça, console os vossos corações e os confirme em toda boa obra e boa palavra".

O salmista, conforme você deve saber, foi um homem que passou por muitas tribulações, e encontrava seu conforto no próprio Deus. Não fugindo d’Ele, mas achegando-se a Ele. Davi firmava-se naquilo que Deus havia declarado. Se essas declarações não fossem consoladoras, não teriam tido qualquer utilidade para Davi. "Lembra-te da promessa que fizeste ao teu servo, na qual me tens feito esperar. O que me consola na minha angústia é isto: que a tua palavra me vivifica" (Salmos 119:49,50). Outra vez, diz ele no versículo 76: "Venha, pois, a tua bondade consolar-me, segundo a palavra que deste ao teu servo".

O Salmo 86 consiste em uma mistura de luzes e trevas. Nele há profundíssimas verdades. A alma é referida, nesse salmo, como uma entidade que pode ser livrada do mais negro inferno, pois Deus está à altura de todas as necessidades da alma. Davi roga que a sua alma seja levada a regozijar-se. E para quem ele olha, a fim de receber tal regozijo? Para Deus. E, por ter feito isso, achou a ajuda e o conforto que buscava. "Mas tu, Senhor, és Deus compassivo e cheio de graça, paciente e grande em misericórdia e em verdade. Volta-te para mim, e compadece-te de mim; concede a tua força ao teu servo, e salva o filho da tua serva. Mostra-me um sinal do teu favor, para que o vejam e se envergonhem os que me aborrecem; pois tu, Senhor, me ajudas e me consolas" (Salmos 86:15-17).

Quando Davi se sentiu perplexo, então exclamou: "Nos mui¬tos cuidados que dentro em mim se multiplicam, as tuas consolações me alegram a alma" (Salmos 94:19). E quando se tornasse mais oportuna a necessidade de conforto, então Deus, como o Deus de todo o conforto, estaria bem próximo. "Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo: a tua vara e o teu cajado me consolam" (Salmos 23:4).

Examinemos agora, por alguns momentos, os escritos dos profetas, pois ser-nos-á de grande ajuda se tivermos fixada em nossas mentes a verdade que o próprio Deus dos profetas é Aquele em quem devemos buscar conforto.

Sião havia transgredido amargamente contra o Senhor, e, segundo a regra normalmente aplicada por Deus, após o pecado vem a punição. Jamais Sião deveria ter experimentado "lugares assolados", e nem o "deserto" ou a "solidão". Considerando o que Jerusalém fizera contra Deus, é claro que se poderia supor que Deus fosse o último recurso onde Sião poderia buscar conforto. Todavia, a palavra que o Senhor determinou que o profeta dissesse foi talhada segundo a natureza divina, e não segundo a natureza humana. "Porque o Senhor tem piedade de Sião; terá piedade de todos os lugares assolados dela, e fará o seu deserto como o Éden, e a sua solidão como o jardim do Senhor; regozijo e alegria se acharão nela, ações de graça e som de música" (Isaías 51:3). No-temos como Deus dispôs-se a agir com aquela largueza que Lhe é peculiar. Sempre que a bênção é ampla e abundante, podemos estar certos que Deus está ali operando. Pois a ação divina reveste-se de notável plenitude de bênção, como se fosse um certo número e variedade de pedras preciosas, todas elas engastadas em um único anel valiosíssimo, presenteado a uma só pessoa. É assim que Deus nos conforta.

O anjo do Senhor, no primeiro capítulo de Zacarias, clamou diante de Deus em prol de Jerusalém, dizendo: "Ó Senhor dos Exércitos, até quando não terás compaixão de Jerusalém e das cidades de Judá, contra as quais estás indignado faz já setenta anos?" (v. 12). O anjo não ocultou que Aquele a quem clamava era Aquele que, em justo juízo, permitira aquela tribulação. Porém, foi da parte do Senhor que procedeu o conforto. "Respondeu o Senhor com palavras boas, palavras consoladoras, ao anjo que falava comigo". Na ocasião, tal como naquela outra, vê-se a profusão da misericórdia divina: "Portanto, assim diz o Senhor: Voltei-me para Jerusalém com misericórdia; a minha casa nela será edificada, diz o Senhor dos Exércitos". "Assim diz o Senhor dos Exércitos: As minhas cidades ainda se transbordarão de bens; o Senhor ainda consolará a Sião e ainda escolherá a Jerusalém" (Zacarias 1:13-17).

Por igual modo, no livro de Jeremias, diz Deus acerca de Si mesmo: "...tornarei o seu pranto em júbilo e os consolarei; transformarei em regozijo a sua tristeza" (31:13). E em Oséias 2:14: "Portanto, eis que eu a atrairei, e a levarei para o deserto, e lhe falarei ao coração". E diz em Isaías 51:12: "Eu, eu sou aquele que vos consola..." No dia de ação de graças, este é o cântico: "Graças te dou, ó Senhor, porque, ainda que te iraste contra mim, a tua ira se retirou, e tu me consolas" (Isaías 12:1). "Por causa da indignidade da sua cobiça eu me indignei e feri o povo; escondi a face, e indignei-me, mas rebelde, seguiu ele o caminho da sua escolha. Tenho visto os seus caminhos e o sararei; também o guiarei, e lhe tornarei a dar consolação, a saber, aos que dele choram" (Isaías 57:17,18).

Reencontramos esses versículos noutras ocasiões. No momento, desejo que eles sejam úteis nesse sagrado pormenor de levar-nos a nos aproximar um pouco mais de Deus. De início, quero destacar estes três pontos:

(1) Esteja convicto de que Deus, o próprio Deus, Deus Pai, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, Aquele que também é o nosso Pai, é um Deus de conforto. Leia repetidas vezes as muitas declarações que Ele nos tem dado sobre Si mesmo, até que a ideia lance raízes em seu coração. Creia que o conforto é algo sobre o que Deus pensa e valoriza, sabendo que d’Ele precisamos.

(2) Não busque o seu consolo primário e mais importante em outra fonte. Não nego que se pode encontrar muito conforto nos amigos, nos sentimentos de felicidade, nos livros e em muitas das nossas circunstâncias, e que esses consolos podem aliviar-nos os sofrimentos quando adoecemos. Porém, quero que você chegue a essa conclusão em sua mente, sentindo que o único conforto seguro vem da parte de Deus.

(3) Espere o conforto da parte de Deus. A expectativa humana geralmente é um prelúdio da atividade divina. Primeiro, cumpre-nos abrir a boca, e então Ele a encherá. Convém que enchamos as talhas até à borda, e então Ele transformará toda a água em excelente vinho.

Que esses textos bíblicos o tenham levado a ter aquela apropriada atitude de expectação. Diga para Deus: "Fala, Senhor, pois o Teu servo ouve". Que Deus fique sabendo que há alguém que d’Ele está esperando o conforto, algum de Seus pobres filhos insatisfeitos e necessitados, e que esse filho é você.


Autor: P. B. Power

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