sábado, 5 de fevereiro de 2011

Vida Cristã - SERÁ DEUS, REALMENTE, UM DEUS DE CONFORTO?

Muitos doentes dizem: "A última fonte onde posso procurar conforto é em Deus. Não é esse o grande Deus, pleno de poder e de majestade? Não é esse Aquele que criou os céus e a terra? por qual razão eu deveria pensar que Ele se preocuparia com coisas tão pequenas como os meus problemas pessoais?" E mesmo quando pensamos que Ele se interessa, tendemos por dizer: "Não é esse o Deus a quem tenho ofendido, cujas leis tenho desobedecido, cujos convites tenho rejeitado, que é tão puro de olhos que não pode contemplar a iniquidade? E quando me lembro daquilo que tenho sido, daquilo que continuo sendo, por certo Ele é o último em quem eu deveria buscar conforto".

Tudo isso é razoável. Eu não teria sequer uma palavra em contrário. Ao invés de tentar escrever um "livro de conforto", eu próprio teria de entregar-me ao desespero se, porventura, Deus não me tivesse revelado, em Sua Palavra, certas coisas a respeito de Sua pessoa, as quais me autorizam a escrever um livro de conforto. Ora, são essas coisas reveladas que me autorizam a afirmar, a todo aquele que ler este livro: "É tudo para você — tudo para você, meu querido amigo, sem qualquer mitigação ou reserva, é tudo para você. Deus quer que você seja confortado, Ele quer que você receba esse conforto ao escolher a Ele".

Longe de Deus não querer que você venha até Ele, em busca de conforto, Ele condena a sua busca de conforto em qualquer outra fonte. Ele sabe que cada pessoa necessita de consolo, uma por um motivo, e outra por outro (as tribulações das pés soas são diferentes; e ainda que elas sejam parecidas entre si, não atingem precisamente os mesmos particulares da vida, e nem o fazem do mesmo modo). Contudo, sem importar quais sejam essas tribulações, e sem importar como elas estejam atuando, o clamor da Bíblia inteira é que não devemos renunciar Àquele que é a fonte das águas vivas, e nem devemos escavar para nós cisternas rotas, incapazes de reter as águas.

As Escrituras dizem-nos que Deus tem ciúmes; e Ele não o sente somente quando o homem adora a outro deus, mas também quando o homem confere a Ele o segundo lugar em qualquer coisa, inclusive na questão do conforto.

Não há dúvida de que os nossos amigos têm algum conforto para dar-nos, conforto que também podemos obter de livros, das visitas de ministros do evangelho, e de muitas outras fontes; mas todas essas fontes precisam ser subordinadas a Deus. De outro modo, serão como os consoladores de Jó — "consoladores molestos" (Jó 16:2). De alguma maneira inesperada e inoportuna, elas nos deixarão sem nada, pois não tínhamos a Deus.

Examinemos na Bíblia, porém, como o próprio Deus se situa, nessa questão do conforto. Encontramos ali a posição de Deus sobre o conforto?

Paulo mostra-nos claramente como Deus cuida da questão.

Paulo acabara de invocar graça e paz — duas virtudes muito confortadoras — sobre os crentes de Corinto. Donde procediam essas virtudes? Da parte de Deus, nosso Pai, e da parte do Senhor Jesus Cristo. Em seguida, o apóstolo, como se não fosse capaz de conter as palavras, ao começar a falar dessas coisas tão boas, vindas do Pai, irrompeu em grandiosa atribuição de louvor a Deus: "Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai de misericórdias e Deus de toda consolação! É ele que nos conforta em toda a nossa tribulação..." (II Coríntios 1:2-4).

Mais adiante, no capítulo 7, versículos 4 a 6, o apóstolo dá-nos um exemplo de como o nosso Deus nos conforta. Nesse caso, o conforto veio através de agentes humanos, e na ocasião mais oportuna possível, pois então as tribulações manifestavam-se com grande intensidade. Mas o consolo procedeu de Deus, e Paulo destacou distintamente a pessoa d’Ele como a fonte de onde viera o conforto. "Sinto-me grandemente confortado e transbordante de júbilo em toda a nossa tribulação. Porque, chegando nós à Macedônia, nenhum alívio tivemos; pelo contrário, em tudo fomos atribulados: lutas por fora, temores por dentro. Porém, Deus, que conforta os abatidos [note esta expressão: é própria para você], nos consolou com a chegada de Tito".

Deus tem Suas ocasiões oportunas e Suas maneiras de confortar-nos. Por enquanto, quero apenas chamar sua atenção para o fato que o apóstolo mostra Deus como Aquele que tem o hábito de confortar aos abatidos. Ora, esse conforto nos chega como algo bem natural, e não como algo estranho, surpreendente e extraordinário, que possa ter ocorrido em uma ocasião para nunca mais se repetir.

Alguns referem-se a Deus como se n’Ele não houvesse qualquer conforto, e também como se Jesus nos confortasse capacitando-nos a escapar de Deus. Porém, o apóstolo via a ambos, ao Pai e ao Filho, igualmente ativos nessa bendita obra de conforto. Ainda que não houvesse outro versículo para consolar a uma pobre alma, os versículos 16 e 17 do capítulo 2 de II Tessalonicenses deveriam ser capazes de consolar-nos. Esses versículos deveriam conduzir uma pessoa à presença do próprio Deus, a fim de receber consolação da parte d’Ele. "Ora, nosso Senhor Jesus Cristo mesmo, e Deus nosso Pai, que nos amou e nos deu eterna consolação e boa esperança, pela graça, console os vossos corações e os confirme em toda boa obra e boa palavra".

O salmista, conforme você deve saber, foi um homem que passou por muitas tribulações, e encontrava seu conforto no próprio Deus. Não fugindo d’Ele, mas achegando-se a Ele. Davi firmava-se naquilo que Deus havia declarado. Se essas declarações não fossem consoladoras, não teriam tido qualquer utilidade para Davi. "Lembra-te da promessa que fizeste ao teu servo, na qual me tens feito esperar. O que me consola na minha angústia é isto: que a tua palavra me vivifica" (Salmos 119:49,50). Outra vez, diz ele no versículo 76: "Venha, pois, a tua bondade consolar-me, segundo a palavra que deste ao teu servo".

O Salmo 86 consiste em uma mistura de luzes e trevas. Nele há profundíssimas verdades. A alma é referida, nesse salmo, como uma entidade que pode ser livrada do mais negro inferno, pois Deus está à altura de todas as necessidades da alma. Davi roga que a sua alma seja levada a regozijar-se. E para quem ele olha, a fim de receber tal regozijo? Para Deus. E, por ter feito isso, achou a ajuda e o conforto que buscava. "Mas tu, Senhor, és Deus compassivo e cheio de graça, paciente e grande em misericórdia e em verdade. Volta-te para mim, e compadece-te de mim; concede a tua força ao teu servo, e salva o filho da tua serva. Mostra-me um sinal do teu favor, para que o vejam e se envergonhem os que me aborrecem; pois tu, Senhor, me ajudas e me consolas" (Salmos 86:15-17).

Quando Davi se sentiu perplexo, então exclamou: "Nos mui¬tos cuidados que dentro em mim se multiplicam, as tuas consolações me alegram a alma" (Salmos 94:19). E quando se tornasse mais oportuna a necessidade de conforto, então Deus, como o Deus de todo o conforto, estaria bem próximo. "Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo: a tua vara e o teu cajado me consolam" (Salmos 23:4).

Examinemos agora, por alguns momentos, os escritos dos profetas, pois ser-nos-á de grande ajuda se tivermos fixada em nossas mentes a verdade que o próprio Deus dos profetas é Aquele em quem devemos buscar conforto.

Sião havia transgredido amargamente contra o Senhor, e, segundo a regra normalmente aplicada por Deus, após o pecado vem a punição. Jamais Sião deveria ter experimentado "lugares assolados", e nem o "deserto" ou a "solidão". Considerando o que Jerusalém fizera contra Deus, é claro que se poderia supor que Deus fosse o último recurso onde Sião poderia buscar conforto. Todavia, a palavra que o Senhor determinou que o profeta dissesse foi talhada segundo a natureza divina, e não segundo a natureza humana. "Porque o Senhor tem piedade de Sião; terá piedade de todos os lugares assolados dela, e fará o seu deserto como o Éden, e a sua solidão como o jardim do Senhor; regozijo e alegria se acharão nela, ações de graça e som de música" (Isaías 51:3). No-temos como Deus dispôs-se a agir com aquela largueza que Lhe é peculiar. Sempre que a bênção é ampla e abundante, podemos estar certos que Deus está ali operando. Pois a ação divina reveste-se de notável plenitude de bênção, como se fosse um certo número e variedade de pedras preciosas, todas elas engastadas em um único anel valiosíssimo, presenteado a uma só pessoa. É assim que Deus nos conforta.

O anjo do Senhor, no primeiro capítulo de Zacarias, clamou diante de Deus em prol de Jerusalém, dizendo: "Ó Senhor dos Exércitos, até quando não terás compaixão de Jerusalém e das cidades de Judá, contra as quais estás indignado faz já setenta anos?" (v. 12). O anjo não ocultou que Aquele a quem clamava era Aquele que, em justo juízo, permitira aquela tribulação. Porém, foi da parte do Senhor que procedeu o conforto. "Respondeu o Senhor com palavras boas, palavras consoladoras, ao anjo que falava comigo". Na ocasião, tal como naquela outra, vê-se a profusão da misericórdia divina: "Portanto, assim diz o Senhor: Voltei-me para Jerusalém com misericórdia; a minha casa nela será edificada, diz o Senhor dos Exércitos". "Assim diz o Senhor dos Exércitos: As minhas cidades ainda se transbordarão de bens; o Senhor ainda consolará a Sião e ainda escolherá a Jerusalém" (Zacarias 1:13-17).

Por igual modo, no livro de Jeremias, diz Deus acerca de Si mesmo: "...tornarei o seu pranto em júbilo e os consolarei; transformarei em regozijo a sua tristeza" (31:13). E em Oséias 2:14: "Portanto, eis que eu a atrairei, e a levarei para o deserto, e lhe falarei ao coração". E diz em Isaías 51:12: "Eu, eu sou aquele que vos consola..." No dia de ação de graças, este é o cântico: "Graças te dou, ó Senhor, porque, ainda que te iraste contra mim, a tua ira se retirou, e tu me consolas" (Isaías 12:1). "Por causa da indignidade da sua cobiça eu me indignei e feri o povo; escondi a face, e indignei-me, mas rebelde, seguiu ele o caminho da sua escolha. Tenho visto os seus caminhos e o sararei; também o guiarei, e lhe tornarei a dar consolação, a saber, aos que dele choram" (Isaías 57:17,18).

Reencontramos esses versículos noutras ocasiões. No momento, desejo que eles sejam úteis nesse sagrado pormenor de levar-nos a nos aproximar um pouco mais de Deus. De início, quero destacar estes três pontos:

(1) Esteja convicto de que Deus, o próprio Deus, Deus Pai, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, Aquele que também é o nosso Pai, é um Deus de conforto. Leia repetidas vezes as muitas declarações que Ele nos tem dado sobre Si mesmo, até que a ideia lance raízes em seu coração. Creia que o conforto é algo sobre o que Deus pensa e valoriza, sabendo que d’Ele precisamos.

(2) Não busque o seu consolo primário e mais importante em outra fonte. Não nego que se pode encontrar muito conforto nos amigos, nos sentimentos de felicidade, nos livros e em muitas das nossas circunstâncias, e que esses consolos podem aliviar-nos os sofrimentos quando adoecemos. Porém, quero que você chegue a essa conclusão em sua mente, sentindo que o único conforto seguro vem da parte de Deus.

(3) Espere o conforto da parte de Deus. A expectativa humana geralmente é um prelúdio da atividade divina. Primeiro, cumpre-nos abrir a boca, e então Ele a encherá. Convém que enchamos as talhas até à borda, e então Ele transformará toda a água em excelente vinho.

Que esses textos bíblicos o tenham levado a ter aquela apropriada atitude de expectação. Diga para Deus: "Fala, Senhor, pois o Teu servo ouve". Que Deus fique sabendo que há alguém que d’Ele está esperando o conforto, algum de Seus pobres filhos insatisfeitos e necessitados, e que esse filho é você.


Autor: P. B. Power

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