quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Esboço para pregação - SINAIS DE IGREJAS QUE SE DESVIAM

A igreja contemporânea está seguindo a Palavra e os caminhos do Senhor, detestando todos os outros caminhos? O temor do Senhor, o amor à verdade e à glória de Deus e o desejo de andar de acordo com todos os mandamentos do Senhor prosperam na igreja de Deus? Diante de Deus e dos homens, temos de confessar, honestamente, que a resposta é não. Sim, ainda existe uma verdade exterior, um crescimento visível e privilégios espirituais públicos em um nível que a igreja das eras passadas dificilmente possuía. Israel podia reivindicar possuir estas coisas — verdade exterior, crescimento visível e privilégios espirituais públicos — enquanto, ao mesmo tempo, se desviava do Senhor...
Uma igreja tende a desviar-se de um fundamento seguro. Por isso, Deus convoca a sua igreja a conscientizar-se de como se inicia, floresce e termina o desvio. Temos de conhecer bem os ardis e os planos metódicos de Satanás que procuram levar a igreja a uma abominável condição de desvio. À luz da revelação do Espírito Santo, a história de Israel e da igreja mostram um padrão claro de desvio gradual, um padrão que consideraremos em detalhes.

1. Quando a igreja começa a desviar-se, o primeiro sinal visível é, comumente, um aumento do mundanismo. Na vida diária, na conversa e, inclusive, no vestir e na moda, o espírito do mundo começa a infestar a igreja. Aquilo que se introduziu com vergonha na igreja começa a andar com liberdade, sendo freqüentemente encoberto ou ignorado, em vez de exposto e admoestado. A linha nítida de separação entre a piedade e o mundanismo começa a se tornar obscura.
Em vez de andarem em direções diferentes, o mundo e a igreja começam a ter mais coisas em comum, trazendo maior detrimento para a igreja. Alguns dos membros da igreja começam a ir a lugares mundanos, tomar parte nos entretenimentos do mundo e fazer amigos das pessoas do mundo. Alguns crentes introduzem em seu lar todos os tipos de meios de comunicação sem avaliar que controle exercerão. Por conseqüência, logo se tornam habituados à mentalidade contemporânea do mundo.

Pessoas mundanas, entretenimentos mundanos, costumes mundanos, lugares mundanos — não foi sobre essas coisas que Oséias advertiu, quando o Espírito Santo o guiou a escrever: “Efraim se mistura com os povos” (Os 7.8). O pecado de mundanismo crescente é o primeiro passo da igreja em direção ao declínio e um passo trágico espiral do desvio.

2. O mundanismo inclina a igreja a desviar-se cada vez mais e a uma condição insensível de incredulidade. O próprio Senhor Jesus lamentou a respeito de sua geração: “Mas a quem hei de comparar esta geração? É semelhante a meninos que, sentados nas praças, gritam aos companheiros: Nós vos tocamos flauta, e não dançastes; entoamos lamentações, e não pranteastes” (Mt 11.16-17).
Isso não é um retrato da igreja de nossos dias? Se o tom fúnebre da lei é pregado, quantos pecadores choram? Se o tom nupcial do evangelho é proclamado, quantos pecadores infelizes são trazidos ao regozijo? Em geral, podemos dizer que a lei parece não causar tremor, e o evangelho parece não despertar anelo... Cada um de nós poderia confessar: “Tornei-me insensível à lei e ao evangelho — temo o próprio inferno”?
Até a pregação sobre a condenação do inferno está causando menos e menos impressão. E a pregação sobre o céu? Por natureza, não queremos nem uma, nem outra. Um ateísta disse certa vez: “Pode ficar com o seu céu e o seu inferno; dê-me apenas esta terra”. Não ousamos dizer tal coisa, mas será que vivemos com isso em nosso intimo? A incredulidade nos torna ateístas. O inferno não é mais inferno, o céu não é mais céu, a graça não é mais graça, Cristo não é mais Cristo, Deus não e mais Deus, e a Bíblia não é mais a eterna Palavra de Deus.
A incredulidade também nos torna insensíveis à verdade. Podemos saber a verdade em nosso intelecto, mas ela não nos mudará eternamente, se não for enxertada em nosso coração.

3. A incredulidade leva a igreja a desviar-se rumo a uma condição insensível de indiferença. A incredulidade nos leva a perder todo o interesse pela verdade. Quantas pessoas estão realmente interessadas em ouvir a verdadeira doutrina sendo proclamada do púlpito, a fim de aprenderem sobre a morte em Adão e a vida em Cristo? Estamos interessados em guardar as doutrinas fundamentais da soberania de Deus e da responsabilidade do homem? Sentimos deleite em ouvir ambas sendo pregadas por completo, à medida que fluem do texto bíblico que está sendo exposto?
Devemos ter desejo de ouvir todas as ricas doutrinas das Escrituras sendo pregadas em sua plenitude, todas elas fundamentadas no âmago do evangelho — Jesus Cristo, e este crucificado —, assim como os raios estão firmados no cubo de uma roda. Estamos interessados nas doutrinas do amor infinito de Deus e da redenção completa por meio do sangue de Cristo? Cuidamos em entender a necessidade do Espírito Santo, da justificação, da santificação, da perseverança?
Precisamos estimar a doutrina experimental, em vez de nos tornarmos indiferentes para com ela. Temos interesse em ouvir sobre a necessidade da graça salvadora, a plenitude dessa graça e os seus frutos?
Finalmente, não podemos ser indiferentes em relação a ouvir sobre as marcas da graça — marcas que fazem distinção entre a obra de Deus e a obra do homem, a fé salvadora e a fé temporária, o verdadeiro tremor (Fp 2.12) e o tremor demoníaco (Tg 2.19), as convicções inalteráveis e as convicções comuns.
Vivemos em uma época terrivelmente descuidada e indiferente. O interesse pela verdade está desaparecendo, e muitas das distinções que acabamos de mencionar estão se tornando desconhecidas, cada vez mais, até mesmo para os membros de igrejas... Alguns não podem mais ver a diferença entre as marcas bíblicas da graça manifestadas na experiência diária e as marcas da graça demonstradas na história. Não tomam tempo para ler as obras de nossos antepassados e estudar as diferenças; não ouvem sobre as distinções e se tornam apáticos.
Por natureza, não nos preocupamos com nenhuma dessas coisas. Vivemos no mesmo nível das bestas. Nossa vida parece não ser mais do que trabalhar, comer e morrer. Somos inclinados a desviar-nos, por amor à nossa reputação e à nossa vida. Colocamos o “eu” acima da doutrina, e essa é a razão por que podemos continuar vivendo sem nos convertermos.
Os filhos de Deus amam a pregação perscrutadora, experimental e discriminatória, não importando quão difícil ou estressante ela seja. Por natureza, preferimos uma falsa segurança ou uma reivindicação presunçosa, mas os filhos de Deus preferem ser mortos a serem enganados. Por experiência, eles sabem que “enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?” (Jr 17.9). Sabem que é muito mais fácil alguém ser enganado do que conhecer a verdade. Portanto, nem choro intenso, nem noites de oração a sós com Deus, nem mensagem falsificada (embora pareça-se muito com a mensagem genuína), nada disso os satisfará. Eles precisam de mais do que lágrimas, orações, arrependimento, indignidade e humildade. Precisam de algo e alguém de fora deles mesmos. Precisam de Cristo. Necessitam de Cristo e da verdadeira doutrina ardendo em sua alma por meio do Espírito Santo. E nunca experimentarão isso de modo suficiente. Eles clamarão: “Senhor, confirma essa mensagem com o Teu selo divino de aprovação, para que eu saiba que é a Tua doutrina inscrita nos recessos de minha alma, e não a minha própria doutrina —a minha própria inscrição, lágrimas e obras”.
A vida dos filhos de Deus é caracterizada por buscarem, cada vez mais, a doutrina produzida pelo Espírito Santo, experimentada na alma e abençoada pelo céu. Eles anelam pela verdade que os libertará e banirá toda dúvida com seu poder dominador — a verdade que lhes enternecerá e abençoará a alma. Esse é também o seu desejo? Ou a sua religião não passa de tradição misturada com convicções comuns e ocasionais? Um cristianismo trivial e um conhecimento diminuto satisfazem a sua consciência? E, por isso, você coloca a sua alma em segundo plano? Você está contente com a estrutura da religião, sem o conhecimento no coração?
Se você pode sinceramente responder “sim”, então está se desviando a cada dia, a cada sermão, a cada domingo. É uma verdade severa, mas autêntica: por natureza, estamos pedindo ao Senhor o caminho mais curto para a condenação. Somos inclinados a nos desviar, rumando diretamente ao inferno. Que o Senhor abra os nossos olhos, antes que seja tarde demais!

4. A indiferença produz seu companheiro mais próximo no percurso do desvio: a ignorância. Quando olhamos para trás, pensamos em Edwards, Whitefield, Owen, Bunyan e outros de nossos antepassados e consideramos que os sermões deles eram entendidos pelas pessoas comuns, precisamos temer que as palavras do Senhor ditas a Israel também são verdadeiras quanto à igreja de hoje: “O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento” (Os 4.6).

5. A ignorância intelectual e espiritual da verdade leva à praga da morte espiritual na igreja. O povo de Deus tem de começar consigo mesmo. O que aconteceu com aquelas épocas em que as pessoas eram comovidas, abaladas e convencidas pelo Senhor semanalmente? Os filhos de Deus deveriam confessar hoje: “Oh! que isso acontecesse uma vez por mês ou uma vez por ano!” Onde estão os fervorosos exercícios da vida espiritual? “Oh!”, eles confessam, “estão mortos! E o que sobra é maná deteriorado!”

6. A morte espiritual tende a desviar-se para a centralidade no homem. Se o homem é o centro da igreja, ele se torna o objeto de toda conversa, quer seja idolatrado, quer seja criticado; e Deus e sua Palavra são colocados de lado. Multiplica-se a conversa centralizada nos oficiais e ministros da igreja, e julgamos uns aos outros. Um pastor é bom; o outro, razoável; e um terceiro, não é bom de maneira alguma. Vivemos em dias em que os pastores são avaliados de acordo com escalas criadas pelo homem, e não pela escala divina da Palavra e do testemunho de Deus... A centralidade no homem é uma maldição na igreja, uma blasfêmia contra o nome de Deus, o fruto de morte espiritual e a garantia de nenhuma bênção pessoal, a menos que o Senhor a destrua! Isso é ilustrado claramente pela história de uma mulher que recebeu uma bênção no primeiro sermão que ouviu de Ebenezer Erskine... ela viajou muitos quilômetros para ouvi-lo novamente, mas não recebeu nenhuma bênção. Erskine teve graça e sabedoria para responder: “Senhora, isso é fácil de explicar. Ontem, a senhora ouviu a Palavra de Jesus Cristo; hoje, a senhora veio para ouvir as palavras de Ebenezer Erskine”.

7. Isso nos leva ao último passo de uma igreja que se desvia da verdade: a centralidade no homem produz o fruto de uma expectativa secular em relação a Deus. A expectativa secular se baseia nas atividades de homens, criadas por se vincular a elas o nome e a bênção de Deus. Nisso, não compreendemos que temos falsificado toda a expectativa de nossa parte. Nenhuma expectativa santa é fruto de uma indignidade piedosa centralizada no homem, que rebaixa a Deus ao nível do homem.
Oh! que as igrejas transbordem de pessoas que estão cheias de expectativa santa em Deus e de uma compreensão adequada de sua própria indignidade! Somente o Espírito Santo opera essa expectativa, cujo olhar se fixa muito além do “eu” e do homem. Embora nossos pecados se acumulem até aos céus, essa expectativa santa percebe que a justiça vicária e satisfatória de Cristo ascende até ao trono de Deus e recebe o selo de sua aprovação. Com base nisso, a expectativa santa recorre ao trono da graça e ali intercede — não diante de um deus insignificante, e sim diante do grande Deus trino, do céu e da terra! A expectativa santa não pode se contentar com mundanismo, incredulidade, indiferença e ignorância. Ela abomina a apostasia e busca a honra de Deus, a conversão dos pecadores e o bem-estar da igreja!
A única esperança da igreja é Deus, pois somente Ele pode reavivar sua igreja desviada. Peça-Lhe que se lembre de nós em Cristo Jesus, o único fundamento de apelo e expectativa! Que Ele envie seu Espírito e receba tanto a sua igreja como a nós mesmos... que o homem seja crucificado, Satanás, envergonhado, e multiplicados os intercessores perante o trono da graça. Que Deus receba o seu lugar legítimo entre nós, por conquista divina. “Ele, tudo em todos; nós, nada em nada”.


Extraído do livro Backsliding: Its Disease and Cure (Desviar-se: Sua Condição e Cura), publicado por Reformation Heritage Books.


Autor: Joel R. Beeke

Joel Beeke é pastor da igreja Heritage Reformed Congregation, em Grand Rapids, MI, EUA. É presidente, Deão acadêmico e catedrático de Teologia Sistemática e Homilética do Seminário Reformado Puritano. Possui Ph.D pelo seminário Westminster em Teologia Reformada e Pós-reforma. Pr. Beeke atua como preletor em diversas conferências em várias partes do mundo, inclusive o Brasil; é autor e co-autor de mais de 50 livros, alguns já em português, como o livro “Vencendo o Mundo” (Editora Fiel) e outros em processo de tradução. É casado com Mary Beeke com quem tem 3 filhos.


Esboço para pregação - HÁ ALGO PIOR DO QUE A MORTE

Nunca entenderemos a Bíblia, a missão da igreja ou a glória do evangelho, se não entendermos este aparente paradoxo: a morte é o último inimigo, mas não é o pior.

É claro que a morte é um inimigo, o último inimigo a ser destruído, Paulo nos diz (1 Co 15.26). A morte é o resultado trágico do pecado (Rm 5.12). Deve ser odiada e repudiada. Ela deve suscitar nossa ira e indignação lamentável (Jo 11.35, 38). A morte tem de ser vencida.

No entanto, por outro lado, ela não deve ser temida. Repetidas vezes, as Escrituras nos instruem a não temermos a morte. Afinal de contas, o que a carne pode fazer conosco (Sl 56.3-4)? O nome do Senhor é uma torre forte; os justos correm para ela e são salvos (Pv 18.10). Portanto, ainda que sejamos entregues aos nossos inimigos, nem um fio de cabelo cairá de nossa cabeça sem que Deus tenha ordenado (Lc 21.18). Como cristãos, vencemos pela palavra de nosso testemunho, e não por nos apegarmos à vida (Ap 12.11). De fato, não há nada mais fundamental no cristianismo do que a firme convicção de que a morte será lucro para nós (Fp 1.21).

Por isso, não tememos a morte. Antes, “estamos em plena confiança, preferindo deixar o corpo e habitar com o Senhor” (2 Co 5.8).

O testemunho consistente das Escrituras é que a morte é grave, mas não é o último desastre que pode sobrevir a uma pessoa. Na verdade, há algo pior do que a morte. Muito pior.

TEMEI ISSO

Em geral, Jesus não queira que seus discípulos ficassem temerosos. Ele lhes disse que não temessem seus perseguidores (Mt 10.26), nem temessem aqueles que matam o corpo (v. 28), nem temessem por seus preciosos cabelos em sua preciosa cabeça (v. 31). Jesus não queria que eles temessem muitas outras coisas, mas queria realmente que temessem o inferno. Jesus lhes advertiu: “Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo” (v. 28).

Muitos falam freqüentemente como se Jesus estivesse no céu intimidando as pessoas com cenas de juízo. Mas esse sentimento expõe preconceito insensato, em vez de exegese cuidadosa. Jesus proferiu várias advertências quanto ao dia do juízo (Mt 11.24; 25.31-46), falou sobre condenação (Mt 12.37; Jo 3.18) e descreveu o inferno com termos vívidos e chocantes (Mt 13.49-50; 18.9; Lc 16.24). Precisamos apenas ler as suas parábolas sobre os lavradores maus, ou sobre as bodas, ou sobre as virgens, ou sobre os talentos, para compreendermos que Jesus motivava freqüentemente os seus ouvintes a atentarem à sua mensagem por adverti-los quanto ao juízo vindouro. Não era apropriado Jesus amedrontar as pessoas.

Obviamente, seria inexato caracterizar Jesus e os apóstolos como nada mais do que fanáticos propagandistas ambulantes, de olhares inexpressivos, os quais gritavam que as pessoas deviam arrependerem-se ou perecer. Deformamos o Novo Testamento se o transformamos em um grande panfleto a respeito de como salvar almas do inferno. Retratar Jesus e os apóstolos (sem mencionar João Batista) como que rogando fervorosamente às pessoas que fugissem da ira por vir e não imaginá-los como que delineando planos para uma renovação cósmica e ajudando as pessoas em sua jornada espiritual – isso seria mais próximo da verdade. Qualquer de nós que lê os evangelhos, as epístolas e o Apocalipse, com mente aberta, tem de concluir que a vida eterna após a morte é a grande recompensa pela qual esperamos e que a destruição eterna após a morte é o terrível julgamento que devemos querer evitar a todo custo. De João 3, Romanos 1, 1 Tessalonicenses 4 e Apocalipse..., bem, de todas esses passagens, não há nenhum capítulo que não mostre a Deus como grande Salvador dos justos e reto juiz dos ímpios. Há uma morte para os filhos de Deus que não deve ser temida (Hb 2.14-15) e uma segunda morte para os ímpios que deve ser temida (Ap 20.11-15).

FIRME ENQUANTO AVANÇA

Embora seja bastante impopular e desejemos abrandar suas implicações desagradáveis, a doutrina sobre o inferno é essencial ao testemunho cristão fiel. A crença de que há algo pior do que a morte é, evocando a figura empregada por John Piper, lastro para nossos navios ministeriais.

O inferno não é a Estrela Polar. Ou seja, a ira de Deus não é a luz que nos guia. Não estabelece a direção para tudo que diz respeito à fé cristã, como, por exemplo, a glória de Deus na face de Cristo. O inferno também não é o leme de fé que guia o navio, nem o vento que nos impele ao longo da viagem, nem as velas que captam as brisas do Espírito. Contudo, o inferno não é incidental ao navio que chamamos igreja. É o nosso lastro, e o lançamos fora ao custo de grande perigo para nós mesmos e para todos os que se afogam no mar.

Para aqueles que não são familiarizados com termos de navegação (e para mim, que os acho misteriosos), lastro se refere aos pesos, colocados geralmente na parte de baixo, no meio do navio, que são usados para mantê-lo estável na água. Sem lastro, o navio não se assentará apropriadamente na água. Ele sairá do curso mais facilmente ou será lançado de um lado para outro. O lastro mantém o navio em equilíbrio.

A doutrina sobre o inferno é como lastro para a igreja. A ira divina não pode ser um mastaréu decorativo ou a bandeira que erguemos no mastro. Essa doutrina pode estar por baixo das outras doutrinas. Pode até não ser vista. Mas sua ausência sempre será sentida.

Visto que o inferno é real, temos de preparar as pessoas para morrerem bem, muito mais do que nos esforçamos para ajudá-las a viver confortavelmente. Visto que o inferno é real, nunca devemos pensar que aliviar os sofrimentos na terra é a coisa mais amável que podemos fazer. Visto que o inferno é real, a evangelização e o discipulado não devem ser marginalizados como tarefas importantes que são equivalentes a pintar uma escola ou produzir um filme.

Se perdermos a doutrina sobre o inferno, sentindo-nos tão embaraçados que não a mencionamos ou tão sensíveis à cultura que não a afirmamos, podemos ter certeza disto: o navio vagueará. A cruz será destituída da propiciação, nossa pregação perderá a urgência e o poder, e nossa obra no mundo não mais se centralizará em chamar as pessoas à fé e ao arrependimento e em edificá-las para a maturidade em Cristo. Perder o lastro do juízo divino causará, por fim, mudança em nossa mensagem, nosso ministério e nossa missão.

PERMANECENDO NO CURSO

Toda a vida deve ser vivida para a glória de Deus (1 Co 10.31). E temos de fazer o bem a todas as pessoas (Gl 6.10). Não precisamos justificar o preocupar-nos com nossas cidades, o amar o nosso próximo e o trabalhar duro em nossa vocação. Essas coisas são, também, “obrigações”. Contudo, tendo a doutrina sobre o inferno como lastro em nossos navios, nunca zombaremos dos velhos hinos que nos exortam a resgatar os que perecem, nem escarneceremos da obra de salvar almas, como se isso fosse nada mais do que um glorioso seguro contra incêndio.

Há algo pior do que a morte. E somente o evangelho de Jesus Cristo, proclamado pelos cristãos e protegido pela igreja, pode livrar-nos daquilo que devemos temer verdadeiramente. A doutrina sobre o inferno nos lembra que a maior necessidade de cada pessoa não será satisfeita por instituições como Nações Unidas, Habitat para a Humanidade ou United Way. É somente por meio do testemunho cristão, da proclamação do Cristo crucificado, que a pior coisa do mundo não recairá sobre todos os que estão no mundo.

Portanto, a todos os pastores admiráveis que se sacrificam, assumem riscos, amam a justiça, preocupam-se com os que sofrem e anelam renovar suas cidades, Jesus diz: “Muito bem, mas não esqueçam o lastro, rapazes”.



Autor: Kevin DeYoung

Kevin DeYoung é o pastor da University Reformed Church em East Lasing, MI, EUA. Obteve sua graduação pelo Hope College e seu mestrado pelo Gordon-Conwell Theological Seminary. É autor de diversos livros, preletor em conferências teológicas e pastorais, é cooperador do ministério “The Gospel Coalition” e mantém um Blog na internet “DeYoung, restless and reformed”. Kevin é casado com Trisha com quem tem 4 filhos.

Traduzido por: Wellington Ferreira.
Copyright:
© 9Marks
© Editora FIEL 2010.
Traduzido do original em inglês: There’s something worse than death.


quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Eclesiologia - O PROPÓSITO DA ORAÇÃO NA IGREJA

Mat. 6:5-13

I. A IMPORTÂNCIA DA ORAÇÃO.

A. Orar é falar com Deus.

1. Neemias 1:4-11 (2:4).
a. Não era uma palestra
b. Não era um ato ou mostra do talento de sua oratória – quem fala com grandíssimas palavras – era falar a Deus o que estava sentindo no coração.

2. Mat. 14:27-32. De acordo com as necessidades, assim fale ao Senhor. "Senhor, Salve-me".

3. Rom. 8:26, 27.
a. Falar ao Senhor, falar do nosso coração, com a ajuda do Espírito Santo.
b. Orar é falar com Deus.

B. A oração é para ser feita só no nome de Jesus.

1. João 14:13, 14 (16: 23, 24). Não a Ele, mas "em" Seu nome.

2. Heb. 4:14-16.
a. Não sabemos como devemos orar, então o Espírito nos ajuda.
b. Não temos o direto de entrar na presença de Deus fora de Cristo.
c. Temos Cristo, o Sumo Sacerdote, que pode compadecer-se das nossas fraquezas, um que, em tudo foi tentado, mas sem pecado. Por isso, as orações são feitas no nome dele.

3. I Tim. 2:5, "... um Mediador... Jesus Cristo...!".

C. Nós Precisamos de Quem é maior do que nós.

1. Salomão, I Reis 3:5-9, "... sou ainda menino pequeno; nem sei como sair, nem como entrar".

2. Davi, Sal. 55: 1-4, "... O meu coração está dorido dentro de mim."

3. Jeremias, Jer. 1:6, "... Não sei falar; porque sou uma criança".

4. Deus é quem é sábio, justo, bom, santo, poderoso e vivo. Nós precisamos dele. Dan. 4: 34-35 e 37.

D. A Oração nos conforta.

1. Fil. 4:6, 7, "em tudo conhecidas diante de Deus".

2. I Ped. 5:7, "Lançando sobre ele toda a vossa ansiedade...".

"E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus" .Fil. 4:7.

Há alguém entre nós que não precisa de Deus? É através da oração que falamos desta necessidade e recebemos o que falta.


II. A ORAÇÃO MODELO EM SEIS PETIÇÕES. MAT. 6:5-15; LUC. 11:1-3.

A. "Pai Nosso, que estás nos céus, santificado seja o Teu Nome...".

1. Aqui somos ensinados a orar para que o Nome de Deus seja honrado por nós, e por todos os homens. Sal. 72:17-19; 113:1-3; 145:21; Isa. 8:13.

2. Ele é quem deve ser honrado, e nós quem devemos honrar a Ele.
a. Ele é o Criador – Nós, os criados. Isa. 64:8; Apoc. 4:11.
b. Ele é o Deus – Nós, os homens. Rom. 11:34-36.
c. Ele é Santo – Nós, os pecadores remidos. Apoc. 4:8.
d. Ele é o Salvador – Nós, os salvos. Apoc. 5:12.

3. Importa mais a obediência do que sacrifícios. Miq. 6:6-8; Mat. 12:7; Sal. 37:4; "Deleita-se" de coração.

B. "Venha o Teu Reino...".

1. Aqui somos ensinados a orar para que o Evangelho seja pregado no mundo inteiro e que nós e todos os homens cresçamos e obedeçamos a Ele. Atos 8:12, II Tess. 3:1, Rogai para que a Palavra seja glorificada quando estiver sendo pregada.

2. É necessário que seja pregado o reino de Deus para que os homens cresçam. Rom. 10:17; 1:16; II Tim. 3:15; Atos 8:12-13; I Cor. 4:3-4.

3. É necessário que Ele reine no coração dos homens. Mar. 7:21-23, Assim as suas ações são afetadas.

C. "Seja feita a Tua vontade, assim na terra como no céu...".

1. Aqui somos ensinados a orar, para que os homens na terra sirvam ao Senhor Deus como os anjos o servem no céu. Da mesma maneira que a Sua Vontade é feita no céu com anjos, que também seja feita na terra com os homens.
a. Sal. 103:19-22, Como é que os anjos o servem, "que cumpris as suas ordens, obedecendo à voz da Sua Palavra".
(1). Pela Palavra somos santificados. João 17:17.
(2). Pela Palavra somos lavados. Efes. 5:26.
(3). Pela Palavra a fé nasce. Rom. 10:17.
(4). Pela Palavra lutamos contra o mal. Efes. 6:17.
(5). Pela Palavra os pensamentos são discernidos. Heb. 4:12.
(6). Pela Palavra o homem de Deus é perfeito. II Tim. 3:16-17.
(7). Pela Palavra conhecemos Deus por Cristo. João 1:1; 14:6.

Os anjos obedecem à voz da Sua Palavra, e ficam louvando a Deus sempre. Que os homens façam o mesmo! Sal. 67.

b. Só os que fazem a Sua vontade são abençoados por Deus.
(1). João 9:31. Quando tememos o Senhor Deus, é que fazemos a Sua Vontade, é assim que:
(a). Fazemos como os anjos no céu.
(b). Glorificamos a Deus, louvando ELE.
(c). A Sua vontade está sendo feita na terra para o bem dos nossos corações.

(2). Mat. 7:20-24 "Todo aquele... que escuta estas minhas Palavras e as pratica..." (Fé sem as obras é vã. Tiago 2:20).
(a). Não obrigamos Deus a fazer nada. Quando os nossos corações são voltados para O escutar, e O obedecer, somos mudados para podermos ter as orações que Lhe agrada.
(b). Que todos os homens na terra sejam mudados de coração. Para ouvir a Tua Palavra. Para praticar a Tua Palavra. Para ser ouvido por Deus. Para Deus ser glorificado por todos sempre.
(c). Que sejamos as primícias deste fruto na terra.
(d). Esta mudança de coração é feita através de: Arrependimento dos pecados – Perdão para com Deus. Fé no Filho de Deus – Jesus Cristo.

D. "O Pão nosso de cada dia nos dá hoje".

1. Aqui somos ensinados a pedir a Deus todas as coisas necessárias para o nosso corpo. Mat. 6:11; Luc. 11:3.

2. Deus é glorificado quando realizamos e reconhecemos que dependemos DELE para tudo.
a. Sal. 145:15-16 – Todos esperam no Senhor por tudo (mesmo não reconhecendo isto).
b. Prov. 30:8-9. – Procure de Deus o suficiente para cada dia.
(1). Não com tanta abundância para que não pense que não precise mais DELE.
(2). Não com tanta falta que o faça vir sujar o nome DELE.

c. I Tim. 4:4-5
(1). Mesmo que temos tudo, pelas orações as coisas são santificadas.
(2). Pela oração, as coisas terrestres são vistas como dadas por Deus.
(3). Deus é glorificado quando dependemos conscientemente DELE para tudo.

3. O Pão é dado diariamente.
a. Isa. 43:2 – Quando enfrentamos os problemas, as preocupações, os apertos...Quando andamos pelas águas...Aí é que ELE nos dá a medida certa para nós atravessarmos as águas. (Exemplo: Daniel não cova dos leões. Ele era fiel com Deus sempre, mas quando estava na cova, precisava de uma força a mais, e aí Deus estava, na medida que ele precisava para aquele dia).
b. Mat. 6:34, "... Basta a cada dia o seu mal.". Todos os dias têm a exigência de nós dependermos DELE para a "graça suficiente" (II Cor. 12:9), para aquele "poder que aperfeiçoa na fraqueza". Por isso somos ensinados a buscar ELE todos os dias, para Ter tudo o que precisamos todos os dias.
c. O pecador precisa agora o Salvador.

E. "E perdoa-nos as nossas dividas, assim como nós perdoamos os nossos devedores".

1. Aqui somos ensinados a orar para que Deus nos perdoe dos nossos pecados e que Ele nos ajude a perdoar os que pecam contra nos.
a. O pecado é transgressão da lei de Deus. Sal. 51; I João 3:4 (Tiago 2:9-11).
b. Conforme o nosso andar na luz, podemos ver o nosso pecado mais e mais e mais, I João 1:8-9.
(1). Então precisamos de uma limpeza diária.
(2). Só assim podemos SERVI-LO certo. Mat. 5:23-24.

2. Errar é humano, Perdoar é divino. Precisamos da graça de Deus para perdoar os outros.
a. Fil. 4:13 – Só por Cristo.
b. Perdoando os outros mostramos nossa fé no perdão de Deus para nossos próprios pecados. Ou seja, por mais que reconheçamos o perdão de Deus por nossos pecados, o mais fácil é perdoar os outros. I João 4: 20-21; Efes. 4:32. (Mat. 18:21-22).

F. "E não nos induzas à tentação, mais livra-nos do mal..." induzas: fazer cair, inspirar; incitar.

1. Aqui somos ensinados a orar para que Deus nos afaste do pecado.
2. De onde vem a tentação e o pecado?
a. Tiago 1:13-15.
(1). Não de Deus (ELE é Santo! ELE prova, e manda tribulações que purifica-nos; mas, ao pecado, ELE não nos tenta).
(2). Vem de dentro de nós. Mat. 4:3; I Tess. 3:5. Satanás é o tentador, ele usa nossa própria concupiscência para nos enganar.
(3).Por isso temos que orar a Deus, O Santo, para não nos deixar ser induzidos à tentação, e para sermos por ELE libertos do Mal, porque dentro de nós, só temos a fraqueza e a inclinação de morte. Rom. 8:6.

3. Todos nós temos tentações a pecar
a. I Cor. 10:13. Sendo humano, tem tentação.
b. Efes. 2:2-3, "... noutro tempo... todos nós também antes andávamos...".

4. A vitória sobre o pecado é com Deus e não só conosco.
a. I Cor. 10:13, Deus nos dá o escape.
b. O escape é correr a Deus. Tiago 4:7-8.
c. É uma batalha espiritual. Efes. 6:12-18. A vitória não vem senão com oração e jejum. Mat. 17:21; I Cor. 7:5 (Tiago 1:2-12).


III. A ORAÇÃO MODELO EM CONCLUSÃO. MAT. 6:13, "PORQUE TEU É O REINO, E O PODER, E A GLÓRIA, PARA SEMPRE. AMÉM".

A. A razão de orar a Deus.

1. Teu é o reino – Rei Soberano. Para sempre. Rom. 11: 3-36, "... porque DELE, e por ELE, e para ELE, são todas" as coisas..."Efes. 1:20-23", Acima de todo..."Dan. 4:35",...E segundo a Sua vontade ELE opera...Não há quem possa estorvar a Sua mão..."Sal. 115:3",...Faz tudo o que LHE apraz..."".

2. Teu é o poder, para sempre. Gên. 1:3, "E disse Deus... Heb. 1:3"; "sustentado todas as coisas, pela Palavra do Seu poder..." (Rom. 1:6) Dan. 4:37, "... pode humilhar aos que andam na soberba". Gên. 18:14, "Haveria cousa alguma difícil ao Senhor?..." (a natureza é sujeita a Deus). Apoc. 1:8, "Todo-Poderoso..." (Fil. 4: 13, Eu posso fazer o certo com ELE operando em mim. Porque ELE é Poderoso).

3. Tua é a glória, para sempre. Rom. 11:36, ". Glória, pois a ELE eternamente. Amém". Apoc. 4:11, "Digno és...".

B. A necessidade de orar a Deus.

1. Deus será honrado por nós e por todos os homens só através do Seu poder nos Homens. João 6:44, "Ninguém pode vir... se o Pai... o não trouxer..." João 1:13, "... mas de Deus..." Fil. 2:13, "Deus é o que opera..." Sal. 139:24, "... e guia-me pelo caminho eterno". João 17:17, "Santifica-os na verdade...".

2. O Evangelho será pregado no mundo inteiro, e os homens nele capacitados a obedecer e crer NELE só através do Seu poder. Heb. 4:12, "... Palavra de Deus é viva e eficaz..." Mat. 28:18, "É me dado todo o poder... por tanto..." Atos 1:8, "... recebereis a virtude do Espírito Santo... e ser-me-eis testemunhas..." João 16:7-8, "O Espírito Santo convencerá o mundo do pecado..." João 15:26, "Espírito de verdade.... ELE testificará de MIM". Efes. 6:18-20, "orando... no Espírito... para que possa falar... como me convém falar".

Este Estudo foi preparado em 1989 enquanto o Pastor Calvin G. Gardner trabalhava de missionário na Zona Leste de São Paulo. Depois dessa data a obra foi expandida para incluir outros aspectos da igreja, especialmente sobre as ordenanças.


Autor: Pastor Calvin Gardner
Fonte: www.obreiroaprovado.com

Eclesiologia - A NATUREZA DA IGREJA QUE CRISTO COMEÇOU

Mat. 16:18, "... e sobre esta pedra edificarei minha igreja..."

I. A IGREJA ESTÁ EDIFICADA SOBRE CRISTO.

A. Sobre a pessoa de CRISTO.

A palavra pedra, Mat. 16:18, (em grego, linguagem original) significa uma massa de rocha (literalmente ou simbolicamente). A palavra ‘Pedro’ (em grego) origem caldônico significa uma pedra oca (vazia); Cefas (João 1:42), vem desta palavra.

1. O ministério de Jesus começou com a pregação do "reino dos céus". Mat.4:17.

a. Depois Seu batismo por João. Mat. 3:13-17.

b. Com a autoridade de Deus, á autoridade foi vista no batismo, Mat.3:17; João 3:28-31; é vista na tentação; Mat. 4:1,7,11 "Espírito o conduziu" (v.1); "Ele se proclamou que era Deus" (v.7); "Os anjos ministravam á Ele" (v.11).

c. A pregação era de "arrependimento" por causa do "reino dos céus".Mat.4:17; Sem Cristo, a "salvação", não existe razão a arrepender-se, Mar. 1:14-15 , "Arrependei-vos, e crede no Evangelho". (Efés. 1:13 o Evangelho da nossa salvação). Mas há salvação por Cristo, por isso deve ser por arrependimento, abandone os pecados e abraça a Cristo – o Evangelho.

Nota: o que o João Batista pregou, e que Cristo pregou, e que os apóstolos pregaram – devemos também pregar agora.

2. O seu batismo era na mesma forma de João.

a. O batismo de Cristo era na mesma forma de João, mas o significado do batismo de Cristo era maior do que o de João. Luc. 3:16; 16:16; João 1:17. Cristo é esposo, João era o "amigo do esposo". João 3:28-29; Efés. 5:25-27 e 32. Cristo "vem do céu, vem de cima" João 3:31. O batismo de Cristo era para ser com "o Espírito e com fogo". Mat.3:11; Mar 1:8; Luc. 3:16. O batismo de João era só "de arrependimento e de água". Atos 19:4; 11:16.

b. Mais tarde este batismo foi dado aos discípulos, Atos 11:16. O Espírito acompanharia os discípulos como acompanhou o Senhor Jesus. Os discípulos agiram com o Espírito, Atos 11:12. Os discípulos lembraram que tal batismo era o sinal do batismo de Jesus, Atos 11:16. Para os apóstolos, o batismo por Jesus era com Espírito Santo (era completo), os sem o batismo de Jesus, no nome DELE, era sem o batismo certo, e sem o Espírito Santo na Sua plenitude (Atos 19:1-7) "era incompleto". Os discípulos tinham um batismo completo. Foi Jesus quem foi mandado por Deus após João. Jesus tinha o sinal do céu (O Espírito Santo) e portanto quem ministrava o batismo certo. Depois de João, o batismo certo era somente segundo a ordem de Cristo. O Batismo de João, depois que Cristo veio, era inválido. O Espírito Santo foi mostrado, naquela época, só com batismo verdadeiro. Atos 19:5-7.

c. Paulo, o apóstolo, falou do seu batismo, Rom.6:3-5. Depois da ressurreição de Cristo podemos entender que a formula que Jesus Cristo começou continuou.

d. Os apóstolos batizaram e isso era contado como o batismo de Jesus, João 4:1-2. O batismo dos discípulos e dos apóstolos era com a mesma autoridade como se estivesse feito pelo próprio Jesus, João 4:2. Todos reconheceram isso, João 4:1.

e. Não temos um relatório do batismo por imersão dos apóstolos, como não o temos do batismo de João o Batista. É certa que os discípulos, por nome, não estão constados como sendo batizados. Mas, João veio para preparar o caminho, veio pregando o Reino dos Céus, e batizando. Estes batizados expressaram pelo batismo a concordância de coração da mensagem de João. Quando Cristo veio, João O apontou. Os discípulos de João então seguiram Cristo. Destes discípulos de João, Jesus escolheu doze. Assim entendemos que os doze foram batizados (João 1:28-40). O que temos é que o batismo pela imersão na água pelos discípulos era reconhecido como sendo por Jesus, João 4:2. A maneira para receber a marca do batismo de Cristo é primeiramente ser um Cristão. A presença especial do Espírito Santo era a marca que este batismo era de Deus (Atos 19:2-7). Foi reconhecido assim até o dia de Pentecostes, quando a presença do Espírito Santo veio em geral sobre todos os Cristãos de todas as nações. O batismo ainda é a sua marca publica de crer em Cristo. João Batista não foi imergido, pois ele não foi membro da igreja, mas Jesus era batizado, os discípulos e apóstolos eram batizados e também os, no Novo Testamento, que vieram a Cristo com arrependimento e fé, foram batizados. Então podemos entender que Cristo, com autoridade, deu ordem de batizar aos discípulos e aos apóstolos e estes continuavam com o batismo. A Igreja verdadeira continua ainda hoje o que Cristo começou.

B. A mensagem é Cristo!

1. Primeira mensagem de João o Batizador: Mat. 3:2; "E dizendo: Arrependei-vos, porque é "chegado o reino dos céus."

2. Primeira mensagem de Cristo: Mat. 4:17, "desde então começou Jesus a pregar, e a dizer: "Arrependei-vos porque é Chegado o reino dos céus".

3. Não temos outra coisa de pregar! Mar. 16:15, "...pregai o evangelho..."; I Cor. 15: 1-18, (v.1) "o evangelho..."; (v3). "...queCristo..."; I Cor. 2:2, "...só Cristo é Este crucificado..."

4. Ai do tal que mexe com outras coisas! Gal. 1:6-9, I Cor. 16:22; Apoc 2:4.

C. A igreja é o corpo de Cristo - feito "por Cristo".

1. A igreja não é um clube social, nem mesmo um clube cristão, mas o corpo de Cristo. Efés. 1:22-23; 3:6.

2. Mesmo que gostamos de ser juntos aqui, temos comunhão porque estamos ativos nEle, (I João 1:17) não vice-versa. o gozo é o efeito de obedecer, não a causa; o obedecer é a causa do gozo, não o efeito. Quando "andamos em Espírito temos o fruto do Espírito". Gal. 5:16 e 22. Quando reunimosnoSeu nome, Ele está em nosso meio, e não vice-versa. Mat. 18:20.

3. Não é obra de homem qualquer, "É por Cristo", "nEle".

a. ELE usa meios na Sua obras como profetas, discípulos, apóstolos, bispos, professores, doutores, diáconos, músicos, evangelistas, missionários, oração, suplicas, dízimos, ofertas, e a Igreja ......mas...... "dEle, e por Ele e para Ele, são todas as coisas; glória pois a Ele eternamente. Amém". Rom. 11:36; Apoc. 4:11.

b. Devemos então ser individualmente separados do mundo, e a igreja, coletivamente separado do controle das leis civis que interfiram ou entrem em conflito com a lei maior de Deus. Rom. 13:1-7; I Pedro 2:13-17; Atos 4:17:31.

D. A Igreja tem um começo: Não temos a data exata mas a Igreja começou durante a vida de Cristo aqui na terra, antes da Sua crucificação.

1. I Cor. 12:28- "primeiramente apóstolos " A chamada dos apóstolos já era durante a Sua vida na terra. Mat.10:1-4.

2. Tinha cargos na Igreja já antes da Sua crucificação: Tesoureiro, Mar.6:37; João 12:6; 13:29, e tinha Discípulos/Apóstolos, Mat. 10:1-4; Mar. 3:13-19.

3. Observaram as duas ordenanças antes da crucificação (Veja os capítulos que tratam destas ordenanças)

4. Foi um bom numero, logo após a crucificação. Atos 1:15-20 mostra um agrupamento esperando, antes da descida do Espirito Santo. Em Atos 2:40-44 "agregaram-se" depois da descida do Espírito Santo aumentou ao que já tinha. Nota: isso era somente 50 dias após da morte de Cristo

5. Reuniram antes da Sua morte, para observar a ceia, Mat. 26:17-30 e para ouvir e pregar mensagens, Mat. 23:1; 25:46.

6. Antes do dia de pentecostes, realizaram uma reunião para tratar os negócios da igreja Atos 1:15-26.

(1). Tinha ordem. v. 17-21.
(2). Foi necessário. v. 21
(3). Seguiram as qualificações de apóstolos v. 21, 22.
(4). Foi democrática. v. 23,26.
(5). Foi com oração. v. 24.

A igreja que Cristo estabeleceu nEle, foi antes da sua crucificação. Para conhecer se uma igreja existe hoje é uma que vem da igreja que Cristo estabeleceu, pode olhar na data que ela foi estabelecida.

E. A Igreja tem localidade:

Lembre-se:

A Igreja foi estabelecida por Cristo,
A Igreja foi estabelecida sobre Cristo,
A Igreja foi estabelecida antes da Sua crucificação,
A igreja foi estabelecida em Jerusalém.

1. Jerusalém – a primeira cidade mencionada de ouvir a pregação do João o Batizador. Mat.3:1-6; Mar. 1:5; João 1:19. Alguns foram convertidos, Mar. 1:5 e alguns duvidaram, João 1:9.

2. Jerusalém – na história de Israel era a cidade dos profetas, a cidade dos reis que eram descendentes do Rei Davi e, I Reis 14:21, "a cidade que o Senhor elegera de todas as tribos de Israel para por ali o Seu nome...". Nomes na bíblia que se refere a esta cidade: ( Jerusalém usada 600 vezes no Velho Testamento ).

a. Salém – Gên. 14:18; Ageu 2:9; Sal. 122:6, Isa. 66:12.
b. Sião – II Reis 19:21; Mat. 21:5; João 12:15; Romanos 9:33; 11:26; I Pedro 2:6; Apoc.14:1;
c. A Cidade de Davi – II Sam.5:7-9; 6:10-16; Neemias 3:15; 12:37; Isaías 22:9 (a cidade de Davi usada uma vez para referir á Belém, Luc.2:4-11 ).
d. A Cidade de Deus – Sal. 46:4; 48:1-8; 87:3; Heb. 12:22; Apoc.3:12.
e. A Cidade de Jeová – Isa. 60:14.
f. O monte do Senhor – Isa. 2:3; 30:29.
g. O monte do Senhor dos Exércitos – Zac. 8:3.
h. Meu Santo Monte – Isa. 66:20.
i. A cidade do Senhor, a Sião do Santo de Israel – Isa. 60:14.
j. "Minha Cidade" – Isa. 45:13 ( só em referencia á Jerusalém).
k. O monte da Minha Santidade – Isa.11:9; 65:25.
l. Santa cidade – Isa. 48:2; Mat. 4,5; Apoc. 11:2; 21:2; 22:19.
m, A nova Jerusalém-Apoc.21:2.
n. Hefzibá – O Senhor se agrada de ti; Beulá – a tuas terra, Isaías 62:4
o. Ariel – Talvez significa: "O Leão de Deus " Isa.29:1,2,7
p. Isa.1:10,26. Jerusalém sendo referida como sendo igual ao Sodoma e a Gomorra, e também sendo chamada, de justiça, cidade fiel. Nota: Antes da salvação somos como povo de Sodoma e como os de Gomorra: depravados, perversos, contra Deus, Rom. 3:10-18. Depois da salvação somos feitos a ser fiel, II Cor. 5:21, e como o povo na sua Jerusalém. Se Jerusalém é cidade Santade Deus, você tem direito a ir a Nova Jerusalém?

3. Jerusalém – Na história da Igreja .

a. Primeira cidade mencionada de ouvir a pregação do João o Batizador e ter os primeiros convertidos. Mat. 3:1-6 ( Mar.1:5; João 1:19).
b. A cidade onde uma grande parte das obras de Deus foi feita.
c. A apresentação de Jesus. Luc. 2:21-24.
d. Jesus com doze anos foi a festa da Páscoa em Jerusalém. Luc.2:41-52.
e. Jesus purificou o tempo pela primeira vez. João 2:13-15.
f. Cura dum paralítico. João 5:1-5.
g. Parábolas e dizeres sobre Jerusalém – Luc.10:30; 31-35.
h. Crucificação, Julgamento, Ressurreição, Mat.27:1-66, João 12:12-19:42.
i. Depois crucificação, o lugar para a Igreja esperar. Atos 1:4 e 12-13
j. Onde a Igreja foi empossada com o Espírito Santo. Atos 1:4; 2:1-6.

F. A Igreja tem Membros atuais, é visível e local. A igreja foi estabelecida por Cristo, nEle, com pessoas num lugar atual. A Igreja, desde começo era num Local e Visível. Ela tinha reuniões e pessoas atuais num lugar real. Quando essa Igreja estabeleceu outras, aquela outra era chamada "Igreja", e as duas chamadas "Igrejas" (I Cor. 7:17) significado que cada uma era uma igreja independente num Local e feita de pessoas Visíveis.

1. É local pois tinha um lugar exato (Romanos 16:1; Col. 4:15; Apoc 1:11 e as sete igrejas na Ásia; Atos 13:1); podia ouvir um assunto por completo (Mat. 18:17; Atos 15:4); tem o seu próprio pastor (Atos 20:28; Apoc 1:20; I Tim 3:5); era chamada por termos que distinguem uma soma de muitos num lugar só (rebanho – Atos 20:28; irmãos – Atos 15:36; corpo – Col. 1:18; castiçal – Apoc 1:20) e pode fazer ações diferentes em tempos diferentes bem como Atos 13:3, uma igreja pus as mãos sobre Barnabé e Saulo sem que todas elas fizeram isso no mesmo tempo e Atos 15:22, uma igreja elegeu irmãos para uma obra sem que todas delas fizeram isso na mesma hora.

2. É Visível pois a palavra "igreja" no grego é igual à palavra hebraica traduzida "congregação"(Sal. 22:22; Hebreus 2:12) e tem membros em particular com nomes (Atos 13:1; 5:1,11) e com pessoas particulares (Atos 8:3). Quando os membros são juntos é a "igreja" (I Cor. 11:18,22) e um membro pode ser cortado da assembléia (Mat. 18:17; III João 1:10). A igreja é visível por ter os seus ministrantes particulares (Apoc 1:20) e por ser chamada por termos de algo visível: corpo (Col. 1:18); rebanho (Atos 20:28), irmãos (Atos 15:36); castiçal (Apoc 1:20); vos (Romanos 16:16; I Cor. 1:1-3) uns aos outros (Romanos 16:16); esposa (Apoc 22:17); casa (I Tim 3:5,15); inscritos (I Tim 5:9,16), um relacionamento de marido e esposa (Efés. 5:23-25); deu assistência financeira (Atos 15:3; Fil. 4:15,16) em qual uma deu e a outra recebeu (Romanos 16:5).

3. Existem casos na Bíblia em quais a palavra igreja é determinada como uma instituição. Estes casos são poucas e são definidos em particular: Mat. 16:18; Efés. 1:22; 3:10; I Cor. 10:32; II Cor. 8:18,19,23). Mas mesmo como instituição se ajuntaram num local e eram visíveis.

Nota: Pode conhecer a Igreja de Cristo existente hoje pela sua doutrina, sim, pela doutrina se a Igreja é Local e Visível.

G. A Igreja é evangelistica - quer dizer que ela tem o propósito de levar as verdades da palavra de Deus às outras pessoas no mundo: Atos 13:3; Mat. 28:19-20; Mar. 16:15; Luc. 24:47; João 20:21; Atos 1:8. Para ser as testemunhas corretas, só pode ser com o Espírito Santo.

H. A Igreja é Independente – I Cor. 6:4. A igreja não é um corpo legislativo mas somente é livre de executar a vontade de Deus como ela é revelada na Palavra de Deus. Cristo é a cabeça, então Ele que governa ela. Uma outra organização humana ou angélica não tem esse direito.

II. COMO AGIR NA IGREJAS QUE CRISTO ESTABELECEU?

A. Sua presença – Heb. 10:25.

1. Preparada:

Corpo pronto. Sal. 122:1.
Família pronta. Deut. 11:18-21.
Coração pronto. Sal. 139:23.

2. Testemunhando:
Atos 1:8; João 4:39.

B. Seu dinheiro:

O Deus Soberano, Todo Poderoso, Uniciente, não precisa de nós; mas, ELE nos usa e até ordenou que a manutenção da Sua casa e as despesas de proclamar o Evangelho seja feita com os dízimos e ofertas da Igreja. Mal. 3:10; Fil. 4:10 e 15-19.

É a maneira também de Ter as bençãos. Mal. 3:10-12.

C. Suas orações:

Em prol do Pastor. II Cor. 11:28; Heb. 13:17.
Em prol membros. I Ped. 4:8; Heb. 10:25.
Em prol de você mesmo. Mat. 26:41; I Ped. 4:7.
Em prol dos outros. Mat. 9:35-38.

Deus usa as orações como um instrumento para fazer a Sua Obra aqui na terra. Quando você ora, você está sendo usado por Deus na Sua Obra. Seja disposto a ser usado na mão de Deus nessa Obra Grande DELE aqui na terra, usando a sua presença, bens e orações para o desenvolvimento dela.

Isso nos dá o sentimento de servo, pois dar glória a Deus é a razão de estarmos aqui.

Este Estudo foi preparado em 1989 enquanto o Pastor Calvin G. Gardner trabalhava de missionário na Zona Leste de São Paulo. Depois a obra foi expandida para incluir outros aspectos da igreja, especialmente sobre as ordenanças.


Autor: Pastor Calvin Gardner
Fonte: www.obreiroaprovado.com

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Estudo Bíblico - O JEJUM BÍBLICO

INTRODUÇÃO

Numa época em que os restaurantes e churrascarias se multiplicam, o jejum parece estar, a cada dia, mais fora de moda. Por esta razão e por ignorar o que as Escrituras ensinam sobre o assunto, muitos cristãos tornaram-se cépticos com relação ao jejum. Decorrente dessa onda de ceticismo, com frequência surgem as seguintes perguntas: É bíblico jejuar? O jejum é uma prática recomendada ao cristão em nossos dias? O que é jejuar?

I. O ENSINO BÍBLICO SOBRE O JEJUM

1. Muitas das pessoas mencionadas na Bíblia jejuaram. Dentre essas, destacam-se Moisés (Êx 34.28), Ana (l Sm 1.7), Davi (2 Sm 1.12; 12.22), a nação de Israel (Lv 23.27), Jesus (Mt 4.2), os discípulos de João Batista (Mc 2.18; Lc 5.33), Paulo (At 9.9) e tantos outros.

2. Por toda a história da Igreja, grandes homens de Deus buscaram seu poder e bênção através do jejum. Dentre esses, destacam-se Lutero, Calvino, João Knox, João Wesley, João Nelson Hyde, João Bunyan, Daniel Berg e Gunnar Vingren. Jonathan Edwards jejuou 24 horas antes de pregar o seu famoso sermão Pecadores nas mãos de um Deus irado, cuja influência é sentida ainda hoje.

3. Carlos Finney, famoso evangelista americano do começo do séc. XVIII, muitas vezes interrompia os cultos de avivamentos quando percebia que os seus ouvintes se mostravam indiferentes à sua pregação, e imediatamente proclamava um período de jejum e oração. Quando notava que Deus começava a despertar os corações, reiniciava as suas reuniões.

II. TIPOS DE JEJUM BÍBLICO

De acordo com o estudo das Escrituras, existem pelo menos três tipos de jejum: o típico, o completo e o parcial.

1. O jejum típico. Não implica em abstinência de líquidos, mas apenas de alimentos sólidos. Após o jejum de 40 dias e 40 noites no deserto, lemos que Jesus "teve fome" (Mt 4.2). Como seria fisicamente impossí¬vel uma pessoa normal jejuar por tanto tempo sem ingerir líquidos, grande número de estudiosos da Bí¬blia acredita que Jesus bebeu água; absteve-se apenas de alimento sólido.

2. O jejum completo. Também chamado de jejum absoluto, consiste na abstinência de alimento sólido e líquido (At 9.9). Deve ser praticado cercado de cautela, e não pode ser muito prolongado, devido aos riscos para a saúde.

3. O jejum parcial. É caracterizado pelo que se come e pela frequência com que se ingere. Em primeiro lugar, o jejum parcial significa abster-se de certos alimentos. Alguns estudiosos das Escrituras interpretam a atitu-de de Daniel de não comer do manjar do rei (Dn 1), como jejum parcial. Em segundo lugar, implica em abster-se de certos alimentos durante um período de tempo.

III. A DURAÇÃO DO JEJUM

1. Na maioria das vezes, o jejum bíblico durava apenas um dia. Ia de um pôr-do-sol a outro. Isto é, a pessoa não comia algo desde o anoitecer até o fim da tarde do dia seguinte. Só então ela podia ingerir algum tipo de alimento (Jz 20.26; l Sm 14.24; 2 Sm 1.12; 3.35). Apenas Moisés, Elias e o Senhor Jesus são indicados na Bíblia como os que jejuaram 40 dias seguidos.

2. Independentemente de qualquer determinação normativa quanto à duração do jejum, o interessante é que cada um busque a orientação divina neste sentido.

IV. OS PERIGOS DO JEJUM

Talvez lhe cause estranheza a afirmação de que existem alguns perigos na prática indiscriminada do jejum. Talvez seja por isso que a Bíblia não tenha um mandamento explícito com respeito à melhor ocasião para o jejum e a duração dele. Dentre os principais perigos que cercam a sua prática, destacam-se os seguintes:

1. Perigos de natureza física, quando praticado abusivamente e sem orientação específica.

2. Jejum sem oração é mera privação de alimento, e não terá qualquer valor perante Deus.

3. Um dos grandes perigos do jejum é o problema da hipocrisia que às vezes cerca essa questão (Mt 6.16; Lc 18.12).

4. O legalismo é outro grande perigo relacionado com o jejum.

• A credibilidade do jejum não está na abstinência pura e simples de alimentos, mas na sinceridade da pessoa que manifesta sua fé, ao privar-se de alimentos. O fato de algumas pessoas o praticarem apenas por legalismo, não invalida o jejum. Quando alguém crê que Deus será louvado pela consagração de seu corpo pelo tempo passado em oração e pela abstinência de alimentos, seu jejum torna-se um ato de fé.

V. POR QUE JEJUAR?

O jejum distingue-se da greve de fome, cujo propósito é adquirir poder político ou atrair a atenção para uma boa causa. Distingue-se também da dieta de saúde, que acentua a abstinência de alimento para propósitos físicos e não espirituais.

1. Devemos jejuar pela nossa nação. É público e notório que a nossa pátria vive uma crise política, social e espiritual sem precedente. Os meios de comunicação de massa transformam os lares brasileiros em verdadeiras lixeiras, com suas programações recheadas pelo feiticismo, espiritismo e demais formas de ocultismo, que têm feito do Brasil um centro de ação das forças do Inferno. Urge, pois, jejuarmos e orarmos a Deus e pedir que Ele sare a nossa nação (2 Cr 7.14).

Quando um número suficiente de pessoas entende corretamente do que se trata, as convocações nacionais à oração e jejum podem ter resultados benéficos. Em 1756 o rei da Inglaterra convocou um dia solene de oração e jejum por causa da ameaça de invasão por parte dos franceses. João Wesley registrou este fato em seu diário, no dia 6 de fevereiro: "O dia de jejum foi um dia glorioso, tal como Londres raramente tem visto desde a Restauração. Cada igreja na cidade estava mais do que lotada, e uma solene gravidade estampa-se em cada rosto. Certamente Deus ouve a oração, e haverá um alongamento da nossa tranquilidade".

Em uma nota ao pé da página, Wesley escreveu: "A humildade transformou-se em regozijo nacional e a ameaça da invasão francesa foi impedida".

2. Devemos jejuar pêlos nossos próprios problemas. Certamente a Igreja no Brasil perdeu muito da força do seu testemunho. A sua presença hoje quase não é notada como uma influência positiva junto à comunidade da qual é parte. É o sal que perde o seu sabor e é pisado pêlos homens (Mt 5.13). Por que isso acontece? Devido à ausência do poder espiritual na vida do cristão como indivíduo.

Deveríamos agir como Daniel que, quando se achava diante de obstáculos espirituais aparentemente intransponíveis, jejuava e orava (Dn 10.2,3). Por isso o Senhor atendia-lhe a petição (Dn 10.12).

O jejum disciplina o corpo e torna-o um instrumento útil para Deus e seu serviço na Terra (l Co 9.27). Quando jejuamos, afirmamos que o estômago não é o nosso deus (Fp 3.19).

3. Devemos jejuar em tempos de aflição. Israel fez isso muitas vezes. Jejuou face a uma iminente guerra com os benjamitas (Jz 20.26), bem como antes duma terrível batalha contra os filisteus (l Sm 7.6). Na sua aflição, quando em busca de um filho, Ana "chorava e não comia" (l Sm 1.7). Davi demonstrou a sua intensa dor face à trágica morte de Abner, pelo jejum (2 Sm 3.32-35).

• Evitemos jejuar na aflição apenas como forma de dar atestado de compaixão por nós mesmos. O mérito do jejum em período de grande aflição consiste em que ele fere de morte o ego, torna a nossa oração mais eficaz e aciona o livramento divino.

4. Devemos jejuar antes de tomarmos grandes decisões. Antes de começar o seu ministério público, Jesus jejuou 40 dias e 40 noites (Mt 4.2). O envio de Saulo e Barnabé como missionários da igreja em Antioquia, foi precedido dum período de jejum e oração (At 13.2).

Quando jejuamos antes de tomarmos grandes decisões, testificamos das nossas limitações pessoais, bem como demonstramos a nossa firme decisão de confiar nas possibilidades e promessas de Deus. Esta é uma forma humilde e dependente de chamar o Senhor a intervir em nosso favor. Devemos jejuar na esperança da vinda de Cristo. Face à pergunta dos discípulos de João Batista: "Por que jejuamos nós e os fariseus muitas vezes, e os teus discípulos não jejuam?", Jesus respondeu: "Podem porventura andar tristes os filhos das bodas, enquanto o esposo está com eles? Dias, porém, virão em que lhe será tirado o esposo e então jejuarão" (Mt 9.14,15). Noutras palavras: enquanto Jesus estivesse com os seus discípulos, era compreensível que eles não jejuassem; porém, tão logo Ele (o esposo) voltasse ao Céu, os seus discípulos jejuariam.

A mais natural interpretação dos dias em que os discípulos de Jesus jejuariam é a presente época da Igreja, especialmente à luz de sua intrincada conexão com a afirmativa de Cristo sobre os novos odres do Reino de Deus, que vem logo em seguida (Mt 9.16-18). Arthur Willis argumenta que Cristo se refere ao momento presente da Igreja, e não apenas ao período de três dias antes de sua morte e ressurreição. Ele conclui seu argumento com estas palavras: "Somos, portanto, compelidos a relacionar os dias de sua ausência com o período desta época, desde o tem-po em que Ele ascendeu ao Pai até que volte do Céu. Foi assim, evidentemente, que os apóstolos entenderam suas palavras, pois somente após a sua ascensão ao Pai é que lemos que eles jejuaram (At 13.2,3). Antes do Noivo deixar a Igreja, Ele prometeu que voltaria de novo para recebê-la. Ela ainda aguarda o grito da meia-noite: 'Eis o noivo! Saí ao seu encontro' (Mt 25.6). Esta época da Igreja foi que nosso Mestre se referiu quando disse: 'e nesses dias hão de jejuar'. O tempo é agora!"

Contemporâneos dessa ausência física temporária do Esposo, devemos jejuar na esperança e na expectativa de sua manifestação triunfal, orando ansiosamente: "Vem depressa, amado meu..." (Ct 8.14). "O Espírito e a esposa dizem: Vem..." (Ap 22.17).

VI. COMO JEJUAR?

Já dissemos que jejuar é muito mais que abster-se de alimentos. O Antigo Testamento define-o como "afligir a alma" (Is 58.3). Desse modo, para que o jejum tenha algum valor perante Deus, é necessário que tenha um objetivo espiritual específico.

Quanto à maneira correta de jejuar, atente para as seguintes recomendações práticas, algumas extraídas do ensino do próprio Senhor Jesus.

1. Determine previamente o tempo de duração do jejum. Não é bom iniciá-lo sem a decisão prévia quanto ao tempo de duração. Para o crente que não tem o costume de jejuar, o melhor é começá-lo em espaços menores, e aumentar o tempo de duração à medida que tenha experiência no jejum.

2. Comece abstendo-se de alimentos apenas sólidos. Já mostramos o risco do corpo permanecer por muito tempo sem ingerir líquidos, principalmente nas primeiras experiências do jejum. Porém, à medida que você adquire o hábito de jejuar, deve abster-se de líquido também.

3. Planeje algum tempo de oração durante o jejum. Como dificilmente podemos nos dar à meditação e à oração enquanto trabalhamos, seria pouco recomendável jejuar durante o exercício de nossas ativi-dades diárias. Jejum e oração estão interligados.

4. Dê lugar ao arrependimento no seu coração. Em Davi temos o exemplo dum homem humilde dian te de Deus. Ele mesmo diz: "Chorei, em jejum está a minha alma, e isso se me tornou em afrontas" (SI 69.10). O jejum que não torna o nosso coração manso e humilde, acessível ao arrependimento, tem menos valor que uma greve de fome.

5. Escolha alguns versículos bíblicos para meditação. Dentre outros, o jejum tem a propriedade de aprofundar a meditação. Portanto, nada melhor para meditar do que na Palavra de Deus. Devemos meditar nos versículos que se tornam ponto de apoio para nossas petições durante o jejum.

6. Jejue com um propósito específico. Ester e as suas companheiras jejuaram para que os filhos de Israel fossem poupados da tirania de Hamã (Et 4.16,17). Jesus jejuou 40 dias e 40 noites com o propósito de vencer o adversário e inaugurar o seu ministério terreno de forma triunfal (Lc 4.1-21). De igual modo nós devemos ter um propósito especificamente em mente ao tomarmos a decisão de jejuar.

7. Jejue com uma atitude de perdão. Ira, amargura, ciúme, discórdia e medo - se estiverem dentro de nós, aflorarão durante o jejum. A princípio racionalizaremos que a ira é devido à fome; depois descobriremos que estamos irados por causa do espírito de ira e a ausência duma atitude de perdão, que há dentro de nós.

8. Jejue, não como os hipócritas (Mt 6.16). Como jejuam os hipócritas? Nos dias de Jesus eles o praticavam contristados, com rostos desfigurados, como forma de dar a entender aos homens que jejuavam. Uma prática frequente dos fariseus era jejuar nas segundas e quintas-feiras, porque estes eram os dias de merca-do e assim haveria maior audiência para ver e admirar a piedade deles.

9. Jejue divorciado da falsa piedade (Mt 6.17,18). Ao contrário dos fariseus hipócritas que revestidos duma piedade superficial jejuavam para chamar a atenção dos homens, Jesus recomenda-nos: "Porém tu, quando jejuares, unge a tua cabeça e lava o teu rosto. Para não pareceres aos homens que jejuas, mas a teu Pai, que está em oculto; e teu Pai, que vê em oculto, te recompensará" (Mt 6.17,18).

Embora os aspectos físicos do jejum deixem-nos tantas vezes curiosos, jamais devemos nos esquecer de que a principal obra do jejum bíblico está no reino espiritual.


Autor: Raimundo de Oliveira

sábado, 18 de setembro de 2010

Esboço para pregação - A GRANDEZA DE CRISTO E O AMPLO CONVITE DO EVANGELHO - Mateus 11.25-30

Poucas passagens existem, nos quatro evangelhos, que sejam mais importantes do que esta. Há poucos trechos bíblicos que contenham, em tão poucos versículos, tantas e tão preciosas verdades. Que Deus nos dê olhos para ver e coração para apreciar o grande valor destas verdades!

Em primeiro lugar, aprendemos quão excelente é a atitude mental de ser simples e despretensioso como uma criança, e estar pronto a receber a instrução. Em oração, nosso Senhor disse a Deus Pai: "Ocultaste estas cousas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos".

Não nos compete tentar explicar por que razão alguns recebem e crêem no evangelho, enquanto outros não o fazem. A soberania de Deus quanto a isso é um profundo mistério, de maneira que não somos capazes de sondá-la. Mas, seja como for, há algo na Bíblia que se destaca como uma grande verdade prática, e da qual jamais nos deveríamos esquecer. O evangelho geralmente está oculto daqueles que são "sábios a seus próprios olhos, e prudentes em seu próprio conceito" (Is 5.21). O evangelho geralmente é revelado aos humildes e despretensiosos, que estão dispostos a aprender. As palavras da virgem Maria estão se cumprindo constantemente: "Encheu de bens os famintos, e despediu vazios os ricos" (Lc 1.53).

Vigiemos nosso coração quanto ao orgulho, em todas as suas manifestações — o orgulho intelectual, o orgulho das riquezas, o orgulho em face de nossa própria bondade, o orgulho de nossos próprios méritos. Coisa alguma tende por manter um homem fora do céu, impedindo-o de ver a Cristo, mais do que o orgulho. Enquanto imaginarmos que somos alguma coisa, jamais seremos salvos. Oremos pedindo humildade, e então a cultivemos. Procuremos conhecer a nós mesmos de maneira correia, descobrindo a nossa verdadeira condição diante de um Deus santo. O início do caminho para o céu é quando sentimos que estamos no caminho do inferno, e então nos dispomos a ser ensinados pelo Espírito Santo. Um dos primeiros passos no caminho da salvação é perguntar, como fez Saulo de Tarso: "Que farei, Senhor?" (At 22.10). Dificilmente há outra afirmação de nosso Senhor que seja tão frequentemente repetida quanto esta: "...o que se exalta, será humilhado; mas o que se humilha, será exaltado" (Lc 18.14).

Em segundo lugar, aprendamos, com base nestes versículos, a grandiosidade e a majestade de nosso Senhor Jesus Cristo. A linguagem de nosso Senhor quanto a este assunto é profunda e maravilhosa. Disse Ele: "Tudo me foi entregue por meu Pai. Ninguém conhece o Filho senão o Pai; e ninguém conhece o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar". Ao ler estes versículos, bem podemos dizer: "Tal conhecimento é maravilhoso demais para mim: é sobremodo elevado, não o posso atingir". Podemos vislumbrar um pouco da perfeita união existente entre a primeira e a segunda pessoa da Trindade. Vemos algo da incomensurável superioridade do Senhor Jesus, sobre todos os que não passam de meros homens. Não obstante, depois de havermos dito tudo isso, devemos confessar que existem alturas e profundidades neste versículo, que estão muito além da nossa débil compreensão. Podemos apenas admirá-las no espírito de crianças pequenas. Contudo, ainda assim, sentimos que metade dessas coisas jamais se contou ao mortal.

Entretanto, que nós vejamos nestas palavras de Jesus a grande verdade prática de que todo poder e autoridade, em tudo quanto diz respeito à salvação de nossas almas, está nas mãos de nosso Senhor Jesus Cristo. "Tudo me foi entregue por meu Pai." Ele tem a chave. Para ir ao céu, precisamos ir até Ele. Ele é a porta: precisamos entrar por intermédio dEle. Ele é o pastor das ovelhas: precisamos ouvir a Sua voz e segui-Lo, se não quisermos perecer no deserto. Ele é o médico das almas: precisamos consultá-lo, se quisermos ser curados da praga do pecado. Ele é o pão da vida: precisamos nos alimentar dEle, se quisermos que as nossas almas sejam satisfeitas. Ele é a luz: devemos andar após Ele, se não nos quisermos desviar para as trevas. Ele é a fonte da vida: precisamos lavar-nos no seu sangue, se quisermos ser purificados e preparados para o grande dia da prestação de contas. Benditas e gloriosas são estas verdades! Se temos a Cristo, temos todas as coisas (l Co 3.22).

Em terceiro lugar, com base nesta passagem, aprendemos como é amplo e pleno o convite do evangelho de Cristo. Os últimos três versículos do capítulo, que encerram essa lição, são realmente preciosos. Eles vêm ao encontro do trêmulo pecador, que indaga: "Cristo revela o amor do Pai para alguém como eu?" Estes versos são um precioso encorajamento, e merecem ser lidos com especial atenção. Por quase dois mil anos eles têm sido uma bênção para o mundo, e têm beneficiado a milhões de pessoas. Não há uma única sentença, nestes versículos, que não contenha preciosos pensamentos.

Observe quem são aqueles a quem Jesus convida. Ele não se dirige àqueles que se sentem justos e dignos em si mesmos. Ao contrário, dirige-se a "todos os que estais cansados e sobrecarregados". Essa é uma descrição bastante ampla. Abrange multidões neste mundo cansativo. Todos os que sentem um peso no coração, todos quantos desejam tornar-se livres de alguma carga do pecado, de alguma carga de tristeza, de alguma carga de ansiedade ou de remorso — todos estão convidados a virem a Cristo, não importa quem sejam ou o que já tenham sido na vida.

Note, em seguida, a graciosa oferta que Jesus faz. "Eu vos aliviarei... e achareis descanso para as vossas almas." Quão animadoras e confortantes são tais palavras! A falta de tranquilidade é uma das grandes características do mundo. A pressa, o vexame, o fracasso e os desapontamentos nos confrontam por todos os lados. Mas há esperança. Existe uma arca de refúgio para o cansado, tal como houve para a pomba solta por Noé. Em Cristo encontramos descanso — descanso para a consciência e para o coração, descanso fundamentado no perdão de todo pecado, descanso que é resultado da paz com Deus.

Veja quão simples é o pedido que Jesus faz aos que estão cansados e sobrecarregados. "Vinde a mim... tomai sobre vós o meu jugo... aprendei de mim..." Jesus não interpôs nenhuma condição difícil de ser atendida. Ele nada fala sobre obras a serem realizadas, ou de merecimentos, para que alguém possa receber os seus dons. Ele somente nos pede para irmos até Ele como estamos, com todos os nossos pecados, entregando-nos aos seus cuidados, como criancinhas dispostas a receber o seu ensino. É como se Jesus dissesse: "Não busqueis alívio nos homens. Não espereis que vos apareça alguma ajuda, vinda de outra direção. Tais e quais sois, neste mesmo dia, vinde a mim".

Observe, igualmente, quão encorajadora descrição Jesus faz de si mesmo. Ele diz: "Sou manso e humilde de coração". Quão verazes são essas palavras é algo que todos os santos de Deus têm frequente-mente experimentado. Maria e Marta, em Betânia, Pedro após a sua queda, os discípulos após a ressurreição, Tomé depois de sua fria incredulidade — todos eles provaram da "humildade e gentileza de Cristo". Este é o único lugar em toda a Escritura, onde se faz menção ao "coração” de Jesus. Esta é uma declaração que nunca deveríamos esquecer.

Em último lugar, observe a encorajadora consideração que Jesus dá ao serviço prestado a Ele. Ele diz: "O meu jugo é suave e o meu fardo é leve". Sem dúvida que existe uma cruz para ser carregada se seguimos a Cristo. Indubitavelmente existem provações e testes a serem enfrentados, e batalhas a serem travadas. Mas, os consolos do evangelho ultrapassam em muito o peso da cruz. Comparado com o serviço ao mundo e ao pecado, comparado com o jugo das cerimônias judaicas e com a escravidão às superstições humanas, o serviço prestado a Cristo é muitas vezes mais leve e fácil. O jugo de Cristo não é carga maior do que as penas o são para a ave que as possui. Os mandamentos de Cristo "não são penosos" (1 Jo 5.3). "Os seus caminhos são caminhos deliciosos,e todas as suas veredas paz" (Pv 3.17).

Agora vem a solene pergunta: Já aceitamos, pessoalmente, esse convite? Acaso, não temos pecados a serem perdoados e nem tristezas a serem removidas? nem feridas de consciência a serem saradas? Se temos, ouçamos atentamente a voz de Jesus Cristo. Ele fala conosco como falou aos judeus. "Vinde a mim..." Esta é a chave para a verdadeira felicidade. Eis o segredo de ter um coração leve. Tudo depende e gira em torno da aceitação desta oferta que Cristo faz.

Que jamais estejamos satisfeitos, enquanto não soubermos e sentirmos que já fomos a Cristo pela fé, buscando nEle o descanso, e que cada dia estamos indo até Ele em busca de novos suprimentos da graça divina! Se fomos até Ele, aprendamos a nos apegar a Ele ainda mais intimamente. Mas, se ainda não fomos até Ele, então que o façamos agora mesmo. A palavra de Cristo jamais falhará: "O que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora" (Jo 6.37).


Autor: J. C. Ryle

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Práticas Devocionais - PRÁTICA DA RESTAURAÇÃO

A prática da restauração é a arte de se colocar contritamente nas mãos do divino Oleiro para que ele refaça o vaso quebrado e lhe dê a forma e a beleza anteriores, depois de qualquer crise ou desastre de ordem religiosa. A restauração depende da submissão ao tratamento dispensado soberanamente por Deus e baseia-se na sua imensa misericórdia.

São os vasos quebrados que precisam parar nas mãos do Oleiro para serem outra vez modelados. Embora igualmente desintegrados e esvaziados de seu resplendor antigo, nem todos os vasos partidos têm a mesma história. Certamente eles se enquadrarão em um ou mais de um dos seguintes danos ou ocorrências:

1. Perda do primeiro amor
Você está no fundo do poço porque perdeu gradativamente o entusiasmo, perdeu o gosto pela leitura da Bíblia, perdeu a vontade de orar, perdeu o gozo da comunhão com Deus, perdeu a força da esperança cristã, perdeu a capacidade de crer, perdeu o poder da fé. Tornou-se frio, insensível, incrédulo e apático. Você trocou a Casa do Senhor (Sl 122.1) pela sua casa.

2. Perda das obrigações morais
Você está no fundo do poço porque se desobrigou gradativamente dos mandamentos de Deus. Você se soltou. Fez concessões à carne, ao mundo e ao diabo. Em vez de não se conformar com este mundo (Rm 12.2), você passou a não se conformar com a obrigação imposta por Jesus de negar-se a si mesmo (Lc 9.23). Você trocou o fruto do Espírito pelas obras da carne (Gl 5.16-24).

3. Perda da pureza doutrinária
Você está no fundo do poço porque foi se distanciando gradativamente do compromisso doutrinário. Tudo começou quando você perdeu a noção da autoridade da Palavra de Deus. A partir daí você passou a crer no Jesus histórico, e não no Verbo que se fez carne (Jo 1.14). Você passou a crer na reencarnação dos vivos, e não na ressurreição dos mortos. Você passou a sobrecarregar cada vez mais os homens e a dispensar cada vez mais o concurso de Deus. Você trocou a glória de Deus pela glória dos homens, trocou a fé pelas obras.

4. Perda do senso de dependência
Você está no fundo do poço porque se envaideceu gradativamente até ao ponto de acreditar que não precisa mais da sabedoria de Deus, da sua graça, do seu poder, da sua presença. Você pode tudo, você dá conta de tudo, você está sempre certo, a última palavra é sua. Você não é a vara, mas a própria videira (Jo 15-5). Você trocou a plenitude de Deus pela plenitude do seu próprio eu.

A CAPACIDADE DO RESTAURADOR

Basta passar os olhos na história da redenção para você descobrir ou redescobrir a capacidade sem medida do Restaurador. Não importa o tamanho dos estragos. Nem as diferentes áreas em que se deram os estragos.

1. Restauração física
Deus restaura a saúde ao doente (Is 38.16), a vista ao cego (Lc 18.42), a fala ao mudo (Mc 7.35) e o juízo ao endemoninhado (Mc 5.15.) Devolve à posição ereta a mulher por dezoito anos encurvada (Lc 13.13). Restaura a mão até então ressequida (Lc 6.10.).

2. Restauração espiritual
Deus restaura o homem da queda e do pecado, justificando-o, santificando-o e glorificando-o. Ressuscita-o de entre os mortos. Dá-lhe corpo novo, revestido de incorruptibilidade e de imortalidade (1 Co 15.53). Torna-o igual a Jesus Cristo (Rm 8.29-30; 2 Co 3.18; Fp 3.20-21; 1 Jo 3.2).

3. Restauração do culto
Deus restaura o altar, o tabernáculo, o templo, os muros e a cidade de Jerusalém, as tribos de Israel e a glória de Jacó (Ne 2.2). Restaura a sorte de Judá e de Israel, edificando-os como no princípio (Jr 33.7).

4. Restauração ecológica
Deus restaura o planeta que o homem poluiu e estragou. Estende outra vez a camada de ozônio. Despolui rios, lagos, mares, praias e oceanos. Replanta a flora e recria a fauna. Cria novos céus e nova terra (2 Pe 3.13). Redime a criação do cativeiro da corrupção "para a liberdade da glória dos filhos de Deus" (Rm 8.21).

5. Restauração final
Deus em Cristo tira o pecado do mundo, refaz o que o homem fez de errado. A história não termina com a notícia de que "por um só homem entrou o pecado no mundo" (Rm 5.12), mas com a notícia de que Jesus é "o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo" (Jo 1.29).

A RESTAURAÇÃO DE DAVI

É quase inacreditável que um homem como Davi, a quem se atribui a autoria de 73 dos 150 salmos e que possuía certos traços de caráter muito especiais (1 Sm 24.6; 26.8-11; 2 Sm 23.13-17: 1 Cr 21.18-27), tenha descido tanto e cometido pecados tão grosseiros depois de uma carreira acentuadamente bem-sucedida e depois de conquistar a admiração de todo o povo. Os pecados desse "mavioso salmista de Israel" (2 Sm 23.1) não foram banais. Davi cometeu adultério com Bate-Seba, cujo esposo não era judeu, mas teria abraçado o judaísmo. Nessa ocasião, Urias, o heteu, mencionado como um dos trinta e sete valentes de Davi (2 Sm 23.39), achava-se ausente do lar por estar a serviço do exército de Israel no assédio à Rabá (2 Sm 11.1). O segundo grande pecado de Davi foi o assassinato de Urias, "com a espada dos filhos de Amom" (2 Sm 12.9). Ele matou um homem virtuoso, que não aceitava privilégios se outros estivessem privados deles (2 Sm 11.6-13). Curiosamente, neste sentido, Urias era muito parecido com o rei — Davi também não quis beber a água do poço de Belém porque ela quase custou a vida de seus amigos (2 Sm 23.13-17). O terceiro grande pecado de Davi foi a conexão dos dois primeiros pecados com a hipocrisia. Ele não estava interessado no bem-estar de Urias quando mandou buscá-lo na frente da batalha e trazê-lo para Jerusalém. O rei queria apenas que ele se deitasse com a mulher para que a gravidez dela fosse atribuída ao esposo. O presente que Davi lhe deu era um instrumento para beneficiar o rei, e não o valente oficial do exército. Mais grave ainda foi a encenação de Joabe e de Davi para justificar a morte de Urias perante a opinião pública. Foi um caso de extrema corrupção, da qual Bate-Seba não parece estar isenta (2 Sm 11.6-27).

Ora, depois de tanta miséria, o autor do salmo que descreve a onisciência e a onipotência de Deus (Sl 139) ficou em pandarecos (Sl 6.2, 3), sob o peso esmagador da mão de Deus (Sl 32.4) e dentro de um tremedal de lama (Sl 40.2). Ele gastou pelo menos nove meses para reconhecer e confessar tudo de errado que havia feito (2 Sm 12.13, 14; Sl 32.5). Suplicou a misericórdia de Deus na forma de perdão para o pecado (Sl 6. 1-7) e na forma de purificação para a injustiça (Sl 51. 1-12). Aceitou a morte da criança, o incesto de Amnon, as trapalhadas de Absalão, a provocação de Simei, a maldade de Aitofel, a morte de Absalão e a sedição de Seba — como consequências diretas ou indiretas de seu mau exemplo. (2 Sm 12.10-12.)

O processo de restauração tinha de incluir todos esses acontecimentos e demorou mais de dez anos. Ao cabo de tudo, Davi recuperou o prestígio, a autoridade, o trono, a comunhão com Deus, a delicadeza de seu caráter, as bênçãos de Deus e a experiência de que "onde abundou o pecado, superabundou a graça" (Rm 5.20). É ele mesmo quem conta; "De todos os meus filhos, porque muitos filhos me deu o Senhor, escolheu Ele a Salomão para se assentar no trono do reino do Senhor sobre Israel" (1 Cr 28.5). Ora, esse Salomão era filho "da que fora mulher de Urias" (Mt 1.6). Criado pelo profeta Nata (2 Sm 12.25), o mesmo que acusou Davi de adultério, Salomão foi também escolhido por Deus para edificar o Templo do Senhor em Jerusalém (1 Cr 28.6). O ponto mais alto da graça de Deus, porém, está na presença de Davi e Bate-Seba na árvore genealógica de Jesus Cristo, ao lado da virtuosa Maria e de algumas mulheres (Tamar, Raabe e Rute), que jamais estariam ali se não fosse a maravilhosa e soberana graça de Deus (Mt 1. 1-17). A Bíblia registra também que Davi "morreu em ditosa velhice, cheio de dias, riquezas e glória" (1 Cr 29.28). Talvez este seja o mais extraordinário exemplo de restauração de toda a Escritura!

A RESTAURAÇÃO DE PEDRO

A maneira como Jesus restaurou a vida de Pedro é uma verdadeira aula de psicologia e terapia pastoral. O apóstolo havia cometido vários erros: não levou a sério o aviso de Jesus de que o negaria por três vezes consecutivas, não se lembrou de que a temperatura do ambiente espiritual não é obrigatoriamente a mesma em circunstâncias diferentes (a diferença era enorme entre o Cenáculo e o Getsêmani) e emitiu cheques de valores muito altos sem o necessário suprimento: "Ainda que me seja necessário morrer contigo, de nenhum modo te negarei" (Mt 26.35). Por causa dessa falta de avaliação adequada e justa, Pedro negou o Senhor as três vezes consecutivas e ficou arrasado: "E, caindo em si, desatou a chorar" (Mc 14.72). Logo ele, a quem Jesus havia dito na presença de todos: "Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja" (Mt 16.18).
A pública restauração de Pedro se deu a menos de quarenta dias depois da ressurreição de Jesus, num cenário idên¬tico ao de sua chamada para ser pescador de homens, cerca de três anos antes (compare Lc 5.1-11 com Jo 21.1-23). Depois da pesca maravilhosa e da refeição, ali mesmo na praia, estando todos reunidos em torno do Senhor ressuscitado, sem mais nem menos, Jesus perguntou três vezes consecutivas a Pedro se ele o amava, dando ao apóstolo a oportunidade de declarar também por três vezes consecutivas em voz alta o seu amor por Jesus. A cada resposta de Pedro, o Senhor lhe dizia: "Apascenta as minhas ovelhas". No final daquele encontro, a tríplice indagação, a tríplice declaração de amor e a tríplice comissão haviam cancelado emocionalmente a tríplice negação de Pedro, livrando-o da "excessiva tristeza" (2 Co 2.7), curando-o de qualquer complexo e tirando-o outra vez da pesca para o apostolado (Jo 21.15-23).

O CAMINHO DA RESTAURAÇÃO

Para sair do fundo do poço, é preciso fazer alguma coisa. Não o impossível. Apenas o possível. O impossível corre por conta de Deus. São coisas simples, mas fundamentais:

1. Entre com o desejo
Esse é o início de todo o processo. O "eu não quero" (Sl 81.11; Ap 2.21) atrapalha tudo. Lembre-se do lamento de Jesus sobre Jerusalém: "Quantas vezes quis Eu reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vós não o quisestes!" (Mt 23-37.) Mas até para querer é possível contar com o auxílio do Senhor: "Deus está operando em vocês, ajudando-os a desejar obedecer-lhe, e depois ajudando-os a fazer aquilo que Ele quer" (Fp 2.13, BV).

2. Entre com o pedido
Comece a orar perseverantemente para Deus o tirar "de um poço de perdição, dum tremedal de lama" (Sl 40.2). Veja o tríplice pedido de restauração de Israel no Salmo 80: "Restaura-nos, ó Deus" (v. 3); "Restaura-nos, ó Deus dos Exércitos" (v. 7); "Restaura-nos, ó Senhor Deus dos Exércitos" (v. 19).

3. Lembre-se de onde, quando e como começou a crise que o deixou no fundo do poço
Você precisa pegar o fio da meada outra vez. Foi este o conselho de Jesus àquele que havia abandonado o seu primeiro amor: "Lembra-te, pois, de onde caíste" (Ap 2.5). Em outras palavras, Ele está dizendo: "assuma o que você fez de errado". Note bem, é preciso lembrar para confessar.

4. Confesse o iceberg todo
Não é para confessar apenas o pecado mais grosseiro ou apenas os pecados mais leves. É preciso confessar tudo: a segurança demasiada, as brincadeiras "inocentes", as pequenas e grandes concessões, a falta de vigilância, a negligência devocional e o pecado de rebelião. Note bem, é preciso confessar para não mais lembrar.

5. Renove a aliança
Você precisa voltar "à prática das primeiras obras" (Ap 2.5), aquelas que você observava com zelo e com alegria no passado. Comprometa-se outra vez. Faça uma nova profissão de fé. Enfie de novo o pescoço debaixo do jugo libertador de Cristo: "Tomai sobre vós o meu jugo" (Mt 11.29).

6. Deixe o resto com Deus
Este resto é o mais difícil, mas Deus o fará. Ele vai curar as feridas, cuidar das cicatrizes, consertar os traumas, recuperar o tempo perdido, acabar com os complexos, comissionar outra vez, devolver a alegria perdida e acalmar o seu coração. Fique certo disso: "Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nele, e o mais Ele fará" (Sl 37.5).


Autor: Elben M. Lenz César

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