sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Práticas Devocionais - PRÁTICA DA VIGILÂNCIA

A prática da vigilância é a arte de estar atento, estar de sobreaviso, estar de sentinela, estar apercebido contra qualquer perigo que põe em risco a perfeita comunhão com Deus. Depende primeiramente de uma avaliação pessoal nem muito otimista nem muito pessimista. Ordenada por Jesus Cristo, é um exercício de natureza preventiva, que associa a humildade com a prudência: "Aquele que julga estar em pé, tome cuidado para não cair" (l Co 10.12, BJ.) A vigilância não pode ser confundida nem com o medo nem com a ansiedade. É apenas uma dose equilibrada de cuidado com a soberana e completa vontade de Deus.

Para proteger o gado, a lavoura e os centros urbanos, os judeus construíam as chamadas torres de vigia nos pastos (Mq 4.8), nas vinhas (Is 5.2) e nas cidades (Sl 127.1). Em alguns casos, uma torre distanciava da outra apenas trinta e dois metros, para melhor segurança da população. De forma paralelepipedal ou cilíndrica, as torres eram construídas dois metros à frente do muro ou em cima dele. Na época de Esdras e Neemias, havia uma torre em Jerusalém chamada a Torre dos Cem — talvez porque tivesse cem côvados de altura, ou porque fosse alcançada por uma escada de cem degraus, ou ainda porque reunisse uma guarnição de cem homens (Ne 3.1). As torres serviam de proteção contra animais selvagens, ladrões e exércitos invasores. A vigilância era de dia e de noite e os guardas ansiavam pelo romper da manhã (Sl 130.6). A necessidade de vigilância estava tão arraigada que, ao plantar uma vinha, era costume construir não só a cerca e o lagar, mas também a torre de vigia, assegurando assim a posse dos frutos (Mt 21.33).

VIGILÂNCIA ESPIRITUAL

Jesus insiste muito na prática da vigilância. O imperativo vigiai aparece três vezes na parábola da figueira (Mc 13.33, 35, 37), uma vez na parábola das dez virgens (Mt 25.13) e duas vezes na cena do Getsêmani (Mc 14.34, 38). O texto de Mc 13.37 é muito enfático: "O que, porém, vos digo, digo a todos: Vigiai!"

A ordem para vigiar não está apenas no ensino de Jesus. Paulo dirige-se aos presbíteros de Éfeso (At 20.31) e às igre¬jas de Corinto (l Co 16.13) e Tessalônica (l Ts 5.6). Aos cristãos judeus expulsos de Jerusalém e espalhados pelo Ponto, pela Galácia. Capadócia, Ásia e Bitínia, Pedro escreve: "Sede sóbrios e vigilantes" (l Pé 5.8). A igreja em Sardes recebe a mesma exortação (Ap 3.2). Depois de glorificado, Jesus declara que é "bem-aventurado aquele que vigia e guarda as suas vestes, para não andar nu, e não se veja a sua vergonha" (Ap 16.15).

TORRES E CISTERNAS

Jesus associou o verbo vigiar com o verbo orar. "Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca" (Mt 26.41). São duas atividades que se misturam e se completam. Não basta orar: é preciso vigiar cuidadosamente. Não basta vigiar: é preciso orar para alcançar sabedoria e poder para vencer tentações e provações.

A Bíblia diz que o rei Uzias edificou torres de vigia no deserto e cavou muitas cisternas, porque tinha muito gado, tanto nos vales como nas campinas (2 Cr 26.10). Esta associação entre torres e cisternas coincide com a associação entre vigiar e orar. O gado de Uzias precisava de proteção e de água. O rebanho de Deus também precisa de vigilância e comunhão. Precisa de vigilância para não ser despedaçado por lobos vorazes (At 20.29) nem levado por ladrões que roubam, matam e destroem (Jo 10.10). Precisa de comunhão para que sua profunda sede de Deus seja saciada (Sl 130.6). Vigiar sem orar seria muito cansativo e poderia redundar em perniciosa arrogância. Orar sem vigiar seria uma temeridade.

ÁREAS DE VIGILÂNCIA

1. É preciso vigiar a passagem obrigatória da palavra: "Põe guarda, Senhor, à minha boca; vigia a porta dos meus lábios" (Sl 141.3).

2. É preciso vigiar a mente-. "Tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento" (Fp 4.8).

3. É preciso vigiar o olhar. "Não porei uma coisa vil diante dos meus olhos" (Sl 101.3, BJ).

4. É preciso vigiar o patrimônio religioso-. "Segura com firmeza o que tens, para que ninguém tome a tua coroa" (Ap 3.11,BJ).

5. É preciso vigiar o trato dispensado ao sexo oposto-. "Trate [...] as mulheres [...] mais moças como irmãs, com toda a pureza" (l Tm 5.2, BLH).

6. É preciso vigiar o tempo-, "Aproveitem bem o tempo porque os dias em que vivemos são maus" (Ef 5.16, BLH).

7. É preciso vigiar as oportunidades-. "Se você pode se tomar livre, então aproveite a oportunidade" (l Co 7.21, BLH).

8. É preciso vigiar o amor-. "Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor" (Ap 2.4).

9. É preciso vigiar a fé: "Examinem-se para verem se es¬tão firmes na fé. Façam a prova vocês mesmos". (2 Co 13.5, BLH.)

10. É preciso vigiar as intenções, os meios, a qualidade do trabalho, a correção doutrinária e o zelo-. "Procura apresentar-te a Deus, aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade" (2 Tm 2.15).

11. É preciso vigiar as coisas tidas de somenos importância-. "Peguem as raposas, apanhem as raposinhas, antes que elas estraguem a nossa plantação de uvas, que está em flor" (Ct 2.15, BLH).

12. É preciso vigiar especialmente os calcanhares de Aquiles, aquelas áreas mais vulneráveis que estão no fundo do coração humano: "O que sai do homem, isso é o que o contamina" (Mc 7.20).


Autor: Elbem M. L. Cesar

Um comentário:

  1. Muito bonito este texto sobre a vigilância. Obrigado por esta reflexão que me elevou imenso.

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