quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Práticas Devocionais - PRÁTICA DO EQUILÍBRIO

A prática do equilíbrio é a arte de se aproximar o máximo possível da medida certa no tempo certo, pelo acurado exercício do bom senso e sob a orientação da Palavra de Deus em seu todo e do Espírito Santo. O verdadeiro equilíbrio nunca é neutralidade, hesitação contínua, passividade, medo de riscos, desejo de agradar a gregos e troianos ou fuga de responsabilidade. Ao contrário do que se pensa, a prática do equilíbrio em geral é a mais trabalhosa e a mais criticada das posições, pois não conta com o apoio das multidões que se encontram num extremo e no outro.

O comportamento de Pedro na cerimônia do lava-pés exemplifica a tendência humana para o desequilíbrio. Depois de garantir a Jesus Cristo: "Nunca me lavarás os pés" (Jo 13-8), o apóstolo passou imediatamente para o outro lado: "Senhor, não somente os meus pés, mas também as mãos e a cabeça" (Jo 13.9). É a perniciosa filosofia do ou tudo ou nada, também conhecida por oito ou oitenta, transportada para a conduta religiosa.

EQUILÍBRIO E SUCESSO

O sucesso contínuo na vida e na liderança cristãs prende-se demais à prática do equilíbrio, como se vê neste recado de Deus a Josué: "Não te apartes dela [de toda a lei], nem para a direita nem para a esquerda, para que triunfes em todas as tuas realizações (Js 1.7, BJ). O rei Josias foi largamente usado por Deus porque "imitou em tudo o proceder de Davi, seu pai, sem se desviar para a direita nem para a esquerda" (2 Rs 22.2, BJ).

É preciso ter em conta que o perigo não está apenas na posição extremada de um lado, mas também na posição extremada do lado oposto. Por exemplo, um erro é sacrificar o valor da fé por causa da importância das obras, e outro é sacrificar o valor das obras por causa da importância da fé. Não se pode colocar Paulo contra Tiago nem este contra aquele. O que ambos os pilares da doutrina evangélica querem ensinar é que a salvação é pela graça "mediante a fé" (Ef 2.8) e que a fé sem obras "está morta" (Tg 2.17) ou "é morta" (Tg 2.26.)

A falta de equilíbrio cria divisões na igreja, dá à luz movimentos heréticos, gera fanatismo e pode até produzir monstros religiosos.

O MANDAMENTO DO EQUILÍBRIO

As Escrituras Sagradas estão cheias de apelos ao equilíbrio, como se pode ver a seguir:

A orientação para não se desviar nem para a direita nem para a esquerda aparece várias vezes no Velho Testamento. O apelo é dirigido insistentemente ao povo de Israel (Dt 5.32, 33; 28.14; Js 23.6; Pv 4.27) e aos seus líderes (Dt 17.20; Js 1.7).

A virtude da sobriedade é recomendada inúmeras vezes no Novo Testamento. Outra vez o apelo é dirigido tanto à igreja (l Co 15-34; Fp 4.5; l Ts 5.6; Tt 2.12; l Pé 1.13; 4.7; 5-8) como à sua liderança (l Tm 3.2; Tt l.7,8), A Timóteo a exortação é mais ampla: "Tu, porém, sê sóbrio em todas as coisas" (2 Tm 4.5). Os que criam problemas na igreja precisam de um "retorno à sensatez" (2 Tm 2.26).

ÁREAS DE EQUILÍBRIO

1. No conceito pessoal
A Bíblia ensina que ninguém deve pensar de si mesmo além do que convém (Rm 12.3). A justa estima proíbe também o outro extremo: ninguém deve pensar de si mesmo aquém do que convém. O primeiro extremo abre caminho para o sentimento de superioridade; o segundo, para o sentimento de inferioridade. Ambos são indesejáveis e desastrosos. Se alguém pensa de si mesmo além do que convém, deve recuar; se pensa aquém, deve avançar. O equilíbrio acaba com o orgulho e a jactância de um lado, e com a inveja e o ciúme do outro.

2. No estado de espírito
A Bíblia ensina que o servo de Deus precisa ser prudente como as serpentes e ao mesmo tempo símplice como as pombas (Mt 10.16). Entre o otimismo fácil e beato de alguns e o pessimismo excessivo ou doentio de outros, há um lugar intermediário. Alguém disse que "a euforia, como o desalento, também pode ser maléfica".

3. Na experiência do prazer
A Bíblia ensina que nada aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma (Mc 8.36). O prazer não é gratuito: sempre custa um preço, às vezes bem elevado. A troca de Esaú — o direito de primogenitura por um repasto — não foi boa. Mas a troca de Moisés — os prazeres transitórios do pecado pelo galardão eterno (Hb 11.24-26) — não poderia ter sido melhor.

4. No relacionamento das gerações
A Bíblia diz: "Geração vai, e geração vem; mas a terra permanece para sempre" (Ec 1.4). A geração velha entra com a tradição e a geração nova, com a contestação. Uma precisa da outra. A tradição fornece o barro e a contestação o trabalha. O equilíbrio não está em aderir à tradição ou à contestação, mas em permitir uma simbiose entre ambas.

5. No conceito de sexo
A Bíblia diz: "Bebe a água da tua própria cisterna, e das correntes do teu poço" (compare Pv 5.15 com l Co 7.2). De um lado, o ponto mais extremo diz que o sexo é pecado. De outro, o ponto mais extremo diz que nenhuma expressão sexual é pecaminosa. Se o excessivo pudor associado com a chamada atividade sexual subterrânea do passado foi um desastre, o despudor generalizado dos dias em curso é desastre também.


Autor: Elben M. L. Cesar

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