A prática do discernimento é a arte de distinguir com a maior precisão possível entre duas ou mais coisas, cujas diferenças nem sempre aparecem à primeira vista. Sem a prática do discernimento, é possível chamar o mal de bem e o bem de mal, a escuridão de claridade e a claridade de escuridão, o amargo de doce e o doce de amargo (Is 5.20).
O assunto é de tanta complexidade e importância que Salomão, logo que assumiu o trono de Israel, levou-o em oração a Deus: "Dá, pois, ao teu servo coração compreensivo para julgar a teu povo, para que prudentemente discirna entre o bem e o mal" (l Rs 3.9).
ÁREAS DE DISCERNIMENTO
1. É preciso discernir entre o bem e o mal
Nem sempre o mal parece mal, nem sempre o bem parece bem. Uma das tarefas dos sacerdotes na história do povo de Israel era ensinar-lhe a distinguir entre o santo e o profano, entre o imundo e o limpo (Ez 44.23). Mas em época de decadência, até os sacerdotes tinham dificuldade de enxergar a diferença entre uma coisa e outra (Ez 22.26).
2. É preciso discernir entre o falso e o verdadeiro
O falso é falso. Não é verdadeiro. Mas sempre tem semelhanças com o verdadeiro, para passar por verdadeiro. Aqui está uma área de muito risco: agarrar-se ao falso e deixar escapar o verdadeiro. Há uma porção de coisas falsas, desde falso testemunho (Êx 20.16) até espírito falso (l Rs 22.20-23; l Jo 4.1). Entre um e outro, há notícias falsas (Êx 23.1), falsa acusação (Êx 23.7), falso juramento (Lv 6.3), língua falsa (Pv 21.6), falsa pena (Jr 8.8), visão falsa (Jr 14.14), falsa circuncisão (Fp 3.2), falsa humildade (Cl 2.23), falsos irmãos (2 Co 11.26), falsos profetas (Mt 7.15; 24.11), falsos mestres (2 Pe 2.1), falsos apóstolos (2 Co 11.13) e falsos cristos (Mt 24.24).
3. É preciso discernir entre a vontade própria e a vontade de Deus
Nem sempre a vontade própria expressa a vontade de Deus. Muitas vezes uma é contrária à outra. Mas, para justificar-se e acalmar a consciência, é fácil chamar a vontade própria de vontade de Deus. José soube discernir perfeitamente a vontade própria, despertada pela sedução da mulher de Potifar, da vontade de Deus e realizou esta, e não aquela (Gn 39.7-12). Talvez fosse da vontade própria de Davi vingar-se de Saul e tirar-lhe a vida, mas a vontade de Deus era outra (l Sm 24.1-7). Quando não se faz a distinção entre a vontade pessoal e a vontade de Deus, a desobediência é certa.
4. É preciso discernir entre a falta alheia e a falta própria
Com muita facilidade e com muito risco, enxerga-se a falta alheia, enquanto a falta própria passa despercebida (Sl 19.12). Foi o que aconteceu com Davi quando ele foi confrontado por Nata. Com incrível rapidez, o salmista discerniu a injustiça do homem rico da parábola do profeta e nem passou por sua cabeça que a dura acusação se referia a ele próprio (2 Sm 12.1-6). Judá, um dos doze filhos de Jacó, discerniu claramente o pecado de sua nora Tamar e chegou a condená-la à morte, mas não enxergou o seu próprio pecado, senão depois de acusado (Gn 38.12-26).
5. É preciso discernir entre os acontecimentos comuns e os grandes momentos de Deus
A destruição de Jerusalém aconteceu porque os judeus "não reconheceram a oportunidade da sua visitação" (Lc 19.44). O Verbo, que estava com Deus e era Deus, fez-se carne e "veio para o que era seu", mas "os seus não o receberam" (Jo 1.11). Há dias especiais no calendário de Deus, que devem ser conhecidos e distinguidos dos dias comuns. A importância daqueles dias é que eles são "o dia dos humildes começos" (Zc 4.10).
O TRIGO E O JOIO
Há dois elementos que tornam a prática do discernimento bastante difícil. Um é o pecado, que confunde, cega e cauteriza. O outro é a atuação satânica, que ilude, engana e torna o mal parecido com o bem. O ímpio é capaz de abjurar "o discernimento e a prática do bem" (Si 36.3) e Satanás é capaz de se transformar em anjo de luz (2 Co 11.14). A parábola do joio explica realisticamente esse drama terrível da parecença dos filhos do maligno com os filhos do reino, pelo menos no início. A semelhança do joio com o trigo é tão grande que qualquer providência para separar um do outro antes da colheita é barrada pelo dono das terras. Até a consumação do século, é preciso aprender a lidar com essa situação confusa, criada pelo maligno (Mt 13.24-30, 36-43).
Autor: Elben M. L. Cesar
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