A prática da espera é a arte de aguardar tranquilamente a hora de Deus, sem deixar de fazer o que é de nossa competência e sem fazer o que é da competência de Deus, deixando de lado toda impaciência e todo esmorecimento.
Um dos maiores transtornos do homem é não saber nem querer esperar alguma coisa ou algum acontecimento desejado ou necessário. Assim como "a substância ainda informe" (Sl 139.16) gasta nove meses para se transformar em uma criancinha apta para sair do ventre materno e sobreviver fora dele, muitas de nossas carências não são nem podem ser satisfeitas imediatamente, ao toque de uma varinha de condão, como muitos querem. Jesus esperou trinta anos para iniciar seu ministério público (Mt 4.17; Lc 3.23), três dias para ressuscitar de entre os mortos (Mt 16.21) e quarenta dias para ser assunto aos céus (At 1.3).
A DIFÍCIL ARTE DE ESPERAR
A prática da espera é difícil por causa da impaciência, por causa da pressa, por causa da ansiedade, por causa do imediatismo e por causa da curiosidade. É preciso aprender a lidar com todos esses elementos que tornam a espera dolorosa demais, senão impossível. Um erro é não esperar nada, outro é não saber esperar.
O MÉTODO CERTO
É preciso esperar numa atitude de confiança. "Esperei confiantemente pelo Senhor; Ele se inclinou para mim e me ouviu quando clamei por socorro". (Sl 40.1.)
É preciso esperar numa atitude de paciência. "Depois de esperar com paciência, obteve Abraão a promessa". (Hb 6.15.)
É preciso esperar numa atitude de tranquilidade. "Vou esperar, tranquilo, o dia em que Deus castigará aqueles que nos atacam". (He 3.16, BLH.)
AS TENTAÇÕES DA ESPERA
Na prática da espera, uma tentação é deixar de esperar, abandonar a esperança, cansar-se de uma espera que parece longa demais. Outra é intrometer-se, resolver a questão de qualquer modo, assumir a responsabilidade de providenciar o que estava nas mãos de Deus. As duas tentações se entrelaçam e só causam aborrecimentos. É o caso de Abraão e Sara, que lançaram mão do expediente de Hagar (Gn 16.1-16). É também o caso de Saul, que adiantou-se a Samuel e fez o que não lhe era permitido (l Sm 13.8-15).
ESPERAS COMUNS
A espera é muito mais frequente do que se pensa. E esta longa lista de espera envolve tanto o crente como o descrente. Paulo lidava com as mesmas esperas com as quais lidamos hoje: a espera de alguém (At 17.16; l Co 16.10, 11), a espera de notícias (l Ts 3.5), a espera de uma oportunidade para viajar (l Tm 3.14; Rm 15.23. 24) etc. Em certas circunstâncias, a espera é desgastante. Em uma de suas epístolas, Paulo confessa; "Já não me sendo possível continuar esperando, mandei indagar o estado da vossa fé, temendo que o tentador vos provasse, e se tornasse inútil o nosso labor" (l Ts 3.5).
ESPERAS MUITO ESPECIAIS
1. É preciso aprender a esperar o fim da tempestade, isto é, o fim da provação, o fim da tentação, o fim do período de vacas magras, o fim do infortúnio, como o de Jó ou o de Davi (quando era perseguido por Saul) etc. No caso da tempestade propriamente dita, que caiu sobre o Mediterrâneo na altura de Creta e provocou o naufrágio do navio em que Paulo viajava, a tormenta durou quatorze dias sem sol nem estrelas (At 27.33).
2. É preciso aprender a esperar a hora de Deus. Ele enfeixou em suas mãos os tempos e as épocas e exerce autoridade sobre eles (At 1.7). O relógio humano não é o relógio de Deus.
3. É preciso aprender a esperar a evolução dos acontecimentos. Todos os acontecimentos relacionados com a vida de José, por mais estranhos e injustos que pareçam, tinham ligação com a posição que ele assumiu como governador do Egito (Gn 45.5). Deus está acima da história.
4. É preciso aprender a esperar a resposta à oração. Isaque e Rebeca esperaram vinte anos de oração para finalmente se tornarem pais de Esaú e Jacó (Gn 25.19-26). Jesus diz que Deus apenas parece demorado em responder às orações (Lc 18.7).
5. É preciso aprendera esperar a direção do Senhor. Nem sempre a direção que parece lógica e certa é a direção de Deus. Paulo queria continuar na Ásia, mas Deus o queria na Europa. Daí a atuação do Espírito impedindo a viagem para Bitínia e o apelo macedônio (At 16.6-10).
6. É preciso aprender a esperar a morte. Há pessoas que estão doentes e "amarguradas de ânimo" (caso de Jó), que estão cansadas de tanto ver prosperar o mal (caso de Elias) ou que estão ansiosas para estar com Cristo (caso de Paulo). Embora já não queiram viver (Jó 3.20-22; l Rs 19.4; Fp 1.23), elas estão proibidas de provocar a própria morte.
ESPERAS ESCATOLÓGICAS
1. É preciso esperar o desenvolvimento da salvação. A salvação é mais do que o perdão de pecados. Daí a palavra de Paulo: "A nossa salvação está agora mais perto do que quando no princípio cremos" (Rm 13.11).
2. É preciso esperara volta de Jesus. A espera é contínua, pois "não sabeis em que dia vem o vosso Senhor" (Mt 24.42; At 1.11).
3. É preciso esperara redenção do corpo, seja pela ressurreição, seja pela súbita transformação do corpo atual. Na verdade, "gememos em nosso íntimo, aguardando [...] a redenção do nosso corpo" (Rm 8.23).
4. É preciso esperar a glória total. "Os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória que deverá revelar-se em nós". (Rm 8.18, BJ.)
5. É preciso esperar novos céus e nova terra. Esta é uma das promessas de Deus (2 Pe 3.13).
6. É preciso esperar a plenitude do reino de Deus. A oração duas vezes milenar "Venha o teu reino" (Mt 6.10) ainda não foi respondida na sua amplitude. Daí a espera daquele dia quando se dirá: "O reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e Ele reinará pelos séculos dos séculos" (Ap 11.15).
ESPERAS INDEVIDAS
1. Já não é preciso esperara vinda do Messias. Este foi o erro da mulher samaritana quando disse a Jesus: "Eu sei [...] que há de vir o Messias, chamado Cristo" (Jo 4.25).
2. Já não é preciso esperara efusão do Espírito. Tal derrame já se deu no dia de Pentecostes, pouco depois da ascensão de Jesus (At 2.1-4).
3. Já não é preciso esperar a proclamação do evangelho. Aplica-se a nós o que os quatro leprosos disseram na época de Eliseu: "Não fazemos bem: este dia é dia de boas novas, e nós nos calamos; se esperarmos até à luz da manhã, seremos tidos por culpados; agora, pois, vamos, e o anunciemos à casa do rei" (2 Rs 7.9).
Autor: Elben M. L. Cesar
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