segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Práticas Devocionais - PRÁTICA DA DESCOMPLEXAÇÃO

A prática da descomplexação é a arte da soltura consciente e progressiva de amarras relacionadas originalmente ao pecado e a certos problemas pessoais decorrentes da educação e de experiências frustrantes, por intermédio dos multiformes benefícios do evangelho e das terapias do Espírito.

O homem é por demais complicado. Há muitas razões para isso. Os motivos são profundos e intrincados, mas devem ser descobertos e analisados. Sem dúvida, a causa mais remota de toda complicação emocional e mental é esclarecida pelo capítulo da Teologia que trata da queda do homem. Neste ponto, há uma declaração de Salomão muito oportuna: "Deus fez o homem reto, este, porém, procura complicações sem conta" (Ec 7.29, BJ).

O distúrbio individual e coletivo começou quando o homem teve medo de Deus e dele se escondeu por causa da primeira desobediência. Foi quando se viu e se sentiu estranhamente nu e precisou de cintas para se cobrir. Foi quando perdeu para sempre a naturalidade e passou a conhecer o bem e o mal. Foi quando desconfiou do caráter de Deus e rompeu com Ele. Este é o problema básico. Todos os outros problemas têm relação com o chamado pecado original. É extremamente necessário que o homem se liberte de suas complicações ou aprenda a lidar com elas. Se usados correta e equilibradamente, os exercícios religiosos são de grande valia.

NEM VERME NEM PORTENTO

Os inimigos de Jesus trataram-no como verme, e não como homem (Sl 22.6). O pior é quando algumas pessoas se acham vermes. Elas são muito infelizes e difíceis de trato. Elas se dizem miseráveis, incapazes de tudo, reduzidas em extremo. Não se sentem valorizadas. Elas mesmas se diminuem e são diminuídas pêlos demais. Então se escondem. E, às vezes, como reação natural, agridem os outros.

Outros, no entanto, vão para o lado oposto. Se dizem portentos. Contam numerosas histórias de sucesso: fecharam bocas de leões, puseram em fuga exércitos de estrangeiros, escaparam ao fio da espada. Andam empertigados. São acentuadamente arrogantes. Julgam possuir todos os dons e todas as vantagens. Eles mesmos se exaltam e provocam a exaltação alheia.

Nos dois casos há erros grosseiros. Na verdade, ninguém é verme e ninguém é portento. Como pode ser verme, se você é "por um pouco, menor do que Deus" (Sl 8.5), se Ele lhe deu o domínio sobre as obras de suas mãos e de glória o coroou? Não, você não é verme; é nova criatura em Cristo (2 Co 5.17), é santuário do Espírito Santo (l Co 6.19), é filho de Deus (Jo l. 12), é herdeiro de Deus e co-herdeiro com Cristo (Rm 8.17), é mais que vencedor por meio de Cristo (Rm 8.37) e é candidato certo à glória de Deus (Rm 8.18). Acabe com essa bobagem, com essa mentira, com esse complexo. Você não é verme, e assunto encerrado.

Mas também não é portento, super-homem nem semideus. Como pode ser portento, se você "não passa de um caco de barro entre outros cacos" (Is 45.9), se você ainda depende totalmente da misericórdia de Deus? Você precisa de Deus para viver, para ser salvo, para vencer a tentação e a provocação, para enfrentar a tristeza e a dor, para chegar à imortalidade, ao novo corpo, aos novos céus e nova terra e à "glória por vir a ser revelada em nós" (Rm 8.18). Você é um vaso de barro, isto é, você é quebrável (2 Co 4.7). Portanto, acabe com esse outro complexo.

NEM ALÉM NEM AQUÉM

A Bíblia ensina que ninguém deve pensar de si mesmo além do que convém, "mas uma justa estima, ditada pela sabedoria, de acordo com a medida da fé que Deus dispensou a cada um" (Rm 12.3, BJ). Essa justa estima proíbe também o outro extremo: ninguém deve pensar de si mesmo aquém do que convém. Se você se exalta sem medida, o seu problema é de superioridade. Se você se diminui sem medida, o seu problema é de inferioridade. Ambos são igualmente indesejáveis e desastrosos. É preciso haver honestidade na avaliação de si mesmo. Se você está além da medida, terá de recuar; se você está aquém da medida, terá de avançar. Desse modo você se livrará de muitos sentimentos pecaminosos, desgastantes e feios; orgulho e jactância, no caso de uma avaliação exagerada para mais; e inveja e ciúmes, no caso de uma avaliação exagerada para menos.

NEM TUDO NEM NADA

A vida de Moisés está dividida em três períodos iguais de quarenta anos; quarenta anos na corte de Faraó, quarenta anos na terra de Midiã e quarenta anos nos desertos da Arábia. No primeiro período, Moisés foi educado em toda a ciência dos egípcios e tornou-se poderoso em palavras e obras (At 7.22). Ao final do segundo período, encontramos um Moisés complicado, que não quer aceitar a tarefa de retirar o povo de Deus do Egito, sob a alegação de que nunca foi homem eloquente, nem outrora, nem agora, pois é pesado de boca e de língua (Êx 4.10; 6.12, 30.) No terceiro período, Moisés é aquele líder extraordinário que liberta Israel do jugo dos faraós e o conduz às portas de Canaã, não obstante a obstinação do Egito, a cerviz dura do próprio povo e de todas as circunstâncias especiais do êxodo. Foi o pregador inglês Frederick B. Meyer, morto em 1929, quem melhor definiu o pensamento de Moisés nesses três períodos distintos: nos primeiros quarenta anos, Moisés pensava que era tudo; nos segundos quarenta anos, foi para o outro extremo e dizia que não era coisa alguma; e nos últimos quarenta anos, descobriu que Deus é tudo.

O caminho certo não é passar de toda auto-suficiência para nenhuma auto-suficiência, nem vice-versa, mas passar para a suficiência de Deus. É essa importante verdade que Paulo quer transmitir quando afirma; "A nossa suficiência vem de Deus" (2 Co 3.5). Deus provê tudo: as ideias, a força, o poder, os recursos, o livramento, a proteção e a perseverança. E ainda cobre tudo com a sua bênção. Você precisa abrir mão tanto da soberba como da timidez. Para vencer a soberba, você conta com o auxílio da humildade; para vencer a timidez, você conta com o auxílio da ousadia. Essas duas virtudes — a humildade e a ousadia — são fundamentais para a expansão do reino de Deus. Não são opostas. Completam-se.

O CAMINHO DA DESCOMPLEXAÇÃO

Porque o sentimento de inferioridade pode descambar no complexo de inferioridade, que é algo doentio, e porque o sentimento de superioridade é uma forma de supercompensação do complexo de inferioridade — é de todo imprescindível que você seja livre e curado de ambos os problemas o mais depressa possível. A seguir, algumas providências que podem ajudar.

1. Oração
Abra o seu coração diante de Deus em oração perseverante. Ore sobre o assunto até superar o problema. Lembre-se da disposição de Paulo de enfrentar a questão do espinho na carne; "Por causa disto três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim" (2 Co 12.18).

2. Espírito de luta
No que depender de você para remover a dificuldade, esforce-se ao máximo. Veja o conselho de Paulo: "Você era escravo quando Deus o chamou? Não se preocupe com isso. Mas, se você pode se tornar livre, então aproveite a oportunidade" (l Co 7.21, BLH). Não fique parado. Não fique se queixando e se amargurando. Reaja. Faça alguma coisa. Lute.

3. Aceitação
Se Deus disser não a você, como disse á Paulo a respeito do espinho na carne e a Davi a respeito da vida da criancinha, aceite a situação com paciência e alegria. Há certas coisas inevitáveis, irreparáveis, irremovíveis e irreversíveis por causa da desordem geral provocada pelo próprio homem, desde as gerações passadas até agora. Mas isso não é motivo suficiente para destruí-lo. Aprenda a dizer "seja feita a vontade do Senhor" na hora certa e no caso certo, não levianamente, para se desculpar da preguiça, do medo e da acomodação. A não-aceitação significa rebelião contra Deus, que é loucura e só agrava o problema. Não se obrigue a ter necessariamente os mesmos dons, a mesma inteligência, a mesma capacidade, os mesmos recursos ou a mesma história de seus semelhantes. Todos eles também têm as suas limitações e sérios problemas. É Deus quem reparte os dons com os homens a seu bel-prazer. Afaste-se da inveja. Existe sempre a mesma compensação para todos: "A minha graça te basta" (2 Co 12.9).

4. Aproveitamento
Aprenda a transformar a desvantagem em vantagem. Aqueles que estão acostumados a fazer do Senhor a sua força "são capazes de transformar lugares secos em fontes, transformar tristezas e sofrimentos em alegrias e bênçãos, em lugares cobertos de flores e frutos com a chuva da primavera. Sempre que surge uma dificuldade, eles recebem a força de Deus, vão sempre ao templo em Sião para adorar o Senhor". (Sl 84.5-7, BV.) As mais notáveis obras sociais foram realizadas por pessoas que tinham desvantagens e, por causa delas, se aplicaram ao estudo e ao trabalho para diminuir o sofrimento alheio. Lembre-se também de que muitos de seus problemas e complexos são mero resultado de convenções e modismos de uma sociedade divorciada de Deus, que jaz no maligno e não tem autoridade para impor usos e costumes. São coisas banais, mas capazes de transtornar a auto-imagem e a liberdade com que Cristo nos libertou.


Autor: Elben M. L. Cesar

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