Texto Áureo: Salmo 24:1
Leitura Devocional: 1 Pedro 2:18-25
1. SIGNIFICADO DA PALAVRA
1. Definição
A palavra mordomo tem um significado profundo para a vida cristã. Dizer a um crente, entretanto, que ele é mordomo de Deus, nem sempre desperta o seu coração para os incontáveis privilégios e responsabilidades dessa função, por ser pouco conhecido o significado da palavra.
Mordomo quer dizer, literalmente, ecônomo, isto é, aquele que é incumbido da direção da casa, o administrador. É aquela pessoa a quem é entregue tudo quanto o senhor possui para ser cuidado e desenvolvido. É aquele a quem o senhor incumbe o governo daquilo que lhe é mais precioso. Em linguagem bíblica isto quer dizer não só terras, dinheiro, jóias e os bens materiais em geral, mas também o cuidado da esposa e dos filhos, a reputação do senhor e até sua própria vida. Daí se depreende o que o Senhor exige de nós quando nos constitui mordomos seus. É com temor e tremor que devemos assumir nossa responsabilidade mas, de outro lado, com regozijo em nossos corações, por ele nos ter confiado um lugar de tantas oportunidades para glorificar seu santo nome.
2. Exemplos
Há dois incidentes bíblicos que nos ajudam a esclarecer os misteres do um mordomo.
O primeiro encontramos em Eliézer, servo de Abraão. "E disse Abraão ao seu servo, o mais velho da casa, que tinha o governo sobre tudo o que possuía...", Gn. 24:2. No caso presente, Eliézer é incumbido de procurar uma esposa para Isaque, o que representava um encargo difícil; sabemos, porém, que ele o desempenhou com grande sabedoria, de modo a alegrar o coração do seu velho senhor. Poderá o Senhor depender de nós, como Abraão do seu mordomo? Lembremo-nos de que a qualidade distintiva de Eliézer era seu espírito de oração. Se soubermos dobrar os joelhos perante o Senhor, ele nos ensinará essa arte difícil, mas gloriosa sobre todas, de sermos mordomos seus, para anunciarmos "as virtudes daquele que nos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz", I Pe. 2:9.
O segundo exemplo bíblico é José. Em Gênesis 39:4 e 6 lemos que José achou graça aos olhos de Potifar, assistente do rei, "e ele o pôs sobre a sua casa, e entregou na sua mão tudo o que tinha. E deixou tudo o que tinha na mão de José, de maneira que de nada sabia do que estava com ele, a não ser do pão que comia". Tal pessoa devia, portanto, ser alguém de confiança, capaz de administrar os bens entregues. Não era um lugar insignificante, mas o serviço de maior relevância na casa. 0 mordomo só era inferior ao seu senhor. Que responsabilidade a nossa!
2. BASE BÍBLICA DA DOUTRINA
A Bíblia ensina, por preceitos e exemplos, que somos mordomos de Deus. Ele nos confiou a administração de bens e poderes que lhe pertencem, e a ele tão somente.
Causa-nos estranheza verificar que cristãos, através dos séculos, passado o período apostólico, tenham aberto o Livro Sagrado milhares de vezes e tenham procurado viver suas verdades, sem que a doutrina da mordomia viesse a ocupar em seus escritos e em suas vidas o lugar que merecia. Só nos últimos decênios é que se vem dando maior ênfase ao estudo da mordomia.
Daremos, em resumo, o que a Escritura tem a dizer sobre mordomia, na certeza de que as passagens indicadas hão de merecer um estudo cuidadoso.
Vale a pena que o aluno tome tempo para ler cada uma das passagens e meditar em suas verdades.
1. O universo pertence a Deus
Gn. 1:1; 14:22; Dt. 10:14; I Crn. 29:13-16; Sl. 24:1; 50:10-12; 89:11; Jr. 27:5.
De modo mais específico, o solo pertence a Deus, Lv. 25:23; II Crn. 7:20: os minerais e tesouros que a terra e o mar escondem, Sl. 95:5; 146:6; Ag. 2:8; Os. 2:8; Jl. 3:5; tudo o que a terra produz, Gn. 2:9; Sl. 104:4; Jr. 5:24; toda vida animal, Gn. 1:24; 9:2-3; Sl. 50:10-11.
Depois de haver completado a obra da criação, Deus colocou Adão num jardim aprazível e a ele confiou as coisas criadas. "E tomou o Senhor Deus o homem e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e o guardar", Gn. 2:15; Sl. 8:3-9. Deus nunca entregou os títulos de propriedade a Adão ou a outro qualquer representante da raça, mas conservou-os para si mesmo como Criador. Adão era simples mordomo.
O homem só poderia ter direito de propriedade sobre aquilo que ele pudesse criar; entretanto nunca homem algum jamais foi capaz de criar qualquer coisa. Tudo que ele pode fazer é utilizar-se das coisas criadas, adaptá-las, e combinar as forças e os elementos criados por Deus.
2. O homem pertence a Deus
1. Por direito de criação, Gn. 1:27; 2:7; Is. 42:5; 43:1-7; Ez. 18:4.
2. Por direito de preservação, At. 14:15-17; 17:22-28; Cl. 1:17; I Pe. 1:5.
Deus não somente nos criou, ele também nos sustenta na sua providência. Não é ele um Deus que criou o mundo e o abandonou à sua própria sorte. Pelo contrário, está profundamente interessado em tudo que se passa entre os homens, acompanhando o desenrolar da história e orientando-a para atingir seus propósitos eternos. Não fora Deus sustentador do universo, e este mundo e a vida humana seriam uma impossibilidade.
3. Por direito de redenção, Êx. 19:5; 1 Cor. 6:19-20; Tt. 2:14: Ap. 5:9.
Fomos criados para glorificar a Deus, Is. 43:7; I Cor. 6:19-20, mas o pecado desviou o homem desse alvo. Era preciso que Deus o restaurasse, libertando o do pecado que o separava dele, Is. 59:2. Isso se realizou na pessoa de Jesus Cristo, que se ofereceu como propiciação pelos nossos pecados. Escravos que éramos, fomos resgatados pelo sangue de Cristo, o mais alto preço que Deus podia pagar pela redenção humana. Uma vez remidos, foi reconquistado o alvo com que Deus nos criou, e nosso prazer constante deve ser buscar sua glória.
Um menino tinha feito, com muito esforço e capricho, um barquinho a motor. Satisfeito, brincava com ele a beira do rio, quando, de repente, o barquinho impelido pela correnteza, lhe escapou das mãos. Triste, o garoto voltou para casa, sem esperanças de tornar a ver o barco, que tanto trabalho lhe custara. Qual não foi seu espanto ao ver o barquinho, certo dia, na vitrina de uma das lojas da cidade. Entrou e insistiu que o barco era seu, mas o negociante disse que só lho daria mediante o pagamento do preço estipulado. 0 menino voltou ao lar e narrou o incidente ao pai, que lhe forneceu o dinheiro necessário para a compra do barquinho. Rápido, dirigiu-se à loja, onde comprou o barco que, de direito, já lhe pertencia. Ao sair, segurando bem firme em seus braços o precioso objeto, exclamou: "Agora és duas vezes meu: meu porque te fiz, e meu porque te comprei." Assim também nos pertencemos a Deus: por direito de criação e direito de redenção. Quando as correntezas do pecado nos afastaram das mãos divinas, e nos achávamos debaixo do domínio de Satanás, Cristo nos comprou pelo preço do seu sangue.
3. VALOR DA DOUTRINA PARA A VIDA CRISTÃ
Talvez não haja outra doutrina capaz de influenciar mais a vida de um crente do que a da mordomia, quando devidamente compreendida e praticada.
1. Atitude diferente
Antes de tudo, deixará de existir em nossa vida a diferença artificial que, em geral, se faz entre atividades religiosas e seculares. A religião não será mais uma atividade que tome de nós certos dias e horas. Cada minuto de nossa vida será sagrado, porque pertence a Deus. Nosso trabalho deixará de ser uma coisa mecânica e material para ser algo bafejado pela graça dos céus. Estamos cooperando com Deus no desenvolvimento e progresso de um mundo criado e mantido por ele mesmo. Quando Jacó fugia de seu irmão, teve a visão maravilhosa de uma escada, cujo topo tocava os céus, e pode ver o Senhor no seu trono de glória. Ao despertar do sono, exclamou: "Na verdade o Senhor está neste lugar e eu não o sabia", Gn. 28:16.
O mordomo fiel, despertado por uma visão nova e mais ampla, verá Deus e sua mão em lugares e coisas que lhe pareciam despidas de caráter religioso. Não só a igreja, mas o lar e a oficina de trabalho, participam dessa esfera sagrada, porque Deus está em toda parte como criador e preservador. Não haverá mais coisas lícitas aqui e ilícitas acolá, porque todo o lugar que a planta do nosso pé pisar será terra santa. Êx. 3:1-5.
2. Senso de responsabilidade
Ainda, o conceito cristão de mordomo fará crescer o senso de nossa responsabilidade. Aqui está perante nós um mundo criado por Deus, com tudo quanto nele há, por cujo desenvolvimento somos responsáveis. Aqui estamos nós mesmos, criados a imagem de Deus, e tendo de prestar contas da nossa vida, em toda a riqueza de suas manifestações. Aqui estão almas imortais, sem conhecimento da graça salvadora de Cristo, às quais nos cabe levar a boa nova. Tremendas são as nossas responsabilidades como mordomos de Deus!
3. Senso de dependência
Cientes da nossa fragilidade e incapacidade para bem desempenharmos nossa mordomia, somos levados a depender do Espírito Santo, que Deus faz habitar em nossas almas para conduzir-nos à vida abundante de despenseiros da sua multiforme graça. I Pe. 4:10.
Temos a promessa preciosa de Jesus, que nos garante a assistência do Espírito a fim de nos orientar no bom exercício de nossa mordomia. Ele nos esclarece quanto aos nossos deveres cristãos, fortalece-nos para o desempenho da tarefa de cada dia, purifica-nos a fim de que sejamos "vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor e preparado para toda a boa obra'', II Tm. 2:21. Nenhum mordomo poderá servir com eficiência, se não viver uma vida orientada pelo Espírito divino.
4. O SUPREMO EXEMPLO
Jesus não só ilustra a verdade da mordomia em seus ensinos, mas a ilustra de modo muito claro e sobremodo inspirador em sua própria vida. Ele se reconhecia mordomo de Deus, encarregado da tarefa suprema de alcançar a reconciliação da raça humana. Sua vida toda, viveu-a ele orientado por esse propósito. Seu desejo constante era fazer a vontade daquele a cujo serviço se encontrava na terra.
Como mordomos de Deus, não estamos palmilhando uma estrada virgem. Ela já foi pisada por alguém que é o supremo modelo dos que desejam ser fiéis despenseiros. Ele nos deixou o exemplo, para que sigamos suas pisadas,. I Pe. 2:21.
Inspirados na magnífica personalidade de Jesus, caminhemos a passos firmes, como mordomos que não tem de que se envergonhar, que procuram desempenhar com fidelidade a tarefa que lhes foi entregue!
"A mordomia bíblica é o reconhecimento da soberania de Deus, a aceitação do nosso cargo de depositários da vida e das possessões, e a administração das mesmas de acordo com a vontade de Deus". J. E. Dillard
PERGUNTAS PARA REVISÃO
1. Que significa mordomo?
2. Mencione algumas passagens que demonstram a base bíblica da doutrina da mordomia.
3. Para que fomos nós criados?
4. Mencione as influências que a doutrina da mordomia pode exercer sobre a vida cristã.
5. Quem é o nosso supremo exemplo na prática da mordomia? Por que?
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Autor: Walter Kaschel
Tradução: David A Zuhars
Fonte: www.obreiroaprovado.com
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