sábado, 9 de julho de 2011

[Esboços para pregação] Tristeza que leva a Deus

2 Coríntios 7.5-10
Leitura Complementar: Salmo 51.1-17

Olhando pela janela de meu escritório, enxergo, a uns cem metros de distância, um grupo de pés de eucalipto. São árvores altas e possantes. Mas, coisa esquisita, parecem ser umas árvores tristes. Os galhos mais finos parecem machucados e, em vez de apontarem para cima, como acontece num pé de eucalipto comum, eles pendem para baixo. Por muito tempo eu não sabia explicar o aspecto esquisito daquelas árvores tristes. Até que um dia o descobri. Verifiquei, numa manhã fria, que mais de uma dúzia de urubus estava pousando, de asas abertas, naqueles pés de eucalipto, fazendo os galhos inclinarem-se para baixo. Agora estava tudo claro. Estas árvores pareciam tristes por causa dos urubus que costumavam pousar nelas, fosse para secar as asas ao sol, ou fosse para esperar por carniça.

Quem pudesse espantar aqueles urubus, para que não voltassem mais àquelas árvores! Quem pudesse erguer os galhos daqueles pés de eucalipto! Sim, quem pudesse! Não acontece que também nós, tantas e tantas vezes, somos parecidos a estes eucaliptos tristes, com as aves negras da preocupação e da angústia pousando em nossas cabeças e em nossos corações! Quem poderá dizer de si que não sabe o que é tristeza? Quem poderá afirmar que não sabe o que é depressão? A própria palavra "de-pressão" parece confirmar que o exemplo das árvores tristes bem se aplica a nós. E uma pressão que nos deprime, que nos comprime o coração. É uma carga que pesa sobre nós, um peso que nos abate. Quase nunca o peso vem só de fora. O ser humano foi criado para suportar peso. A pior depressão é a que vem de dentro. Os piores urubus são os que têm o seu ninho nos próprios galhos da árvore, que lá vão criando filhotes e que já não se deixam mais afastar. A pior depressão é aquela que está aninhada no próprio coração das pessoas, que vai sendo alimentada pelos próprios pensamentos e pela própria imaginação.

Será que a tristeza é alguma coisa que Deus quer? Será que ela é necessária para nosso desenvolvimento espiritual? Ou será que ela é contrária à vontade de Deus, que é um veneno que nos intoxica e paralisa? O apóstolo Paulo diz em nossa passagem bíblica que há dois tipos de tristeza: a tristeza segundo Deus e a tristeza do mundo. Esta palavra do apóstolo nos pode ajudar muito na procura por uma resposta a nossa pergunta, resposta que não seja um simples palpite humano, mas que encerre realmente uma mensagem divina. Uma vez, o próprio apóstolo sabia por experiência pessoal o que era tristeza e angústia. Ele escreve em nossa passagem: "Nem alívio tivemos; em tudo fomos atribulados; lutas por fora, temores por dentro". Assim fala um homem que realmente está por dentro do assunto, que descreve o que ele sentiu na própria carne. Queremos escutar, pois, o que este servo de Jesus Cristo nos tem a dizer acerca de uma realidade que ele conhece tão bem.

Falemos primeiro da tristeza do mundo. Sãos os urubus pousando nos galhos dos eucaliptos. São as contrariedades que nos abatem, os desapontamentos que nos deprimem. Um jovem sonhou com uma profissão rendosa, profissão que dá "status", dá honra e destaque na sociedade e, de repente, ele se dá conta de que não conseguiu, nem vai conseguir passar no vestibular; que há poucas vagas e muitos candidatos. Ele entra em crise. Perde a coragem. Deixa de lutar. Retira-se da companhia de amigos e colegas. A revolta se aninha em seu coração, a mágoa o perturba. Ele chega a pensar em dar cabo da própria vida. Tristeza do mundo! O apóstolo diz que a tristeza do mundo traz a morte. E ele fala sério. Uma moça é abandonada pelo namorado que lhe prometera casamento. Ela é tomada por um sentimento de profunda tristeza. Sua vida parece vazia; já não sabe por quê continuar a viver. O seu "Eu" foi ferido bem no centro, e a tristeza a torna amargurada e irritada. Tem pena de si própria e, cheia de mágoa, seus pensamentos começam a girar em redor de si mesma. Tristeza do mundo! Um negociante faz uma jogada arriscada, comprando grande estoque de um produto, por esperar uma alta no preço. Mas o preço cai a níveis não imaginados, e o negociante perde muito dinheiro. Ele chega a passar as noites sem dormir, pensando, ansioso, no dinheiro perdido. Tristeza do mundo!

Acho que nós todos sabemos como é. É uma oportunidade perdida. É o amor próprio ferido. É o desprezo que sofremos por parte de outras pessoas. É a perda do respeito de nós mesmos. E é nestas oportunidades que a tristeza que se acha aninhada em nossos corações se apega à tristeza vinda de fora, e os pássaros negros vão se alojando em nossos pensamentos para ficar. Vão procriando, vão se multiplicando. A tristeza do mundo é uma coisa perigosa. Ela pode envenenar uma pessoa por dentro. Se não for combatida e vencida, levará à morte, como diz a apóstolo.

Há os que tentam afogar suas mágoas na bebida. Tentam escapar da realidade angustiante, procurando o esquecimento que o álcool traz consigo, ao menos por algumas horas. Mas o álcool é uma droga depressora, os médicos bem o sabem, e os viciados o sabem também. Depois de poucas horas de esquecimento e de euforia vem a depressão (o povo o chama de ressaca), e de vez em vez são necessárias doses maiores daquela droga traiçoeira para comprar um pouco de bem-estar, que depois se vai pagar com mais tristeza. O álcool e as outras drogas são o alimento predileto dos pássaros negros da inquietação e da angústia, que passam a pedir mais e mais, até levarem sua vítima à ruína.

Há outras maneiras de "afogar as mágoas", é claro. Há as distrações. Há a tentativa de engolir a tristeza, de fazer de conta de que não existe. Mas a palavra do apóstolo Paulo fica de pé: a tristeza do mundo existe, e ela leva à morte. Leva à morte, através do caminho da amargura e do desespero. O poeta português Guerra Junqueiro expressou esta amargura em uma poema, comparando a vida humana a ondas de esperança, que se quebram e requebram nas praias: "Maldita a vida, que promete e falta!", diz ele. E o poeta e escritor alemão Friedrich Nietzsche diz, em um poema: "Procuramos, perguntamos por respostas - até que nos tapam a boca com uma pá de terra. Mas será isso resposta?"

Talvez estejamos compreendendo agora a verdadeira natureza da tristeza do mundo. Ela faz o homem desesperar, fazendo-o crer que ele está sozinho. Crendo-se abandonado, ele passa a acusar as outras pessoas, a sociedade, as circunstâncias, o destino e, quem sabe, o próprio Deus. O homem parece achar-se dentro de uma prisão, numa cela solitária, onde ninguém o conforta. Ele se considera vítima. Tem pena de si mesmo. Seus pensamentos giram em redor de si mesmo, que nem cavalo de corrida, preso ao laço, que rodeia seu treinador.

E a tristeza segundo Deus? Será que é uma tristeza mais refinada, mais espiritual, mais filosófica? Nada disso! Pelo contrário: A tristeza segundo Deus pode ser violenta, pode arrancar uma pessoa de seus ideais filosóficos, pode desmascarar sua espiritualidade, sem lhe poupar o amor próprio, sem lhe poupar a tranquilidade. Poderá trazer sofrimentos físicos e espirituais. Você lá leu o livro de Jó, no Antigo Testamento? Leia-o e ficará sabendo o que poderá ser tristeza segundo Deus. Já leu a história da conversão de Paulo, autor das palavras que estamos interpretando? Leia Atos 9, e ficará sabendo o que é tristeza segundo Deus.

Saiba uma coisa importante: a diferença entre a tristeza do mundo e a tristeza segundo Deus é uma só. A tristeza do mundo deixa o homem sozinho. Sozinho, ele rói, rumina as próprias mágoas. Deus não entra no jogo dele. Ele não quer que Deus entre, porque não quer confessar a sua culpa. Não quer dar meia volta. Não quer converter-se. E na tristeza segundo Deus é justamente aquele milagre que acontece: Deus entra no jogo do homem. Ele não entra, dizendo: "Coitado, não fique triste, não há de ser nada". Ele chama: "Adão, onde estás?" Diz: "Saulo, Saulo, por que me persegues?" E então acontece uma coisa decisiva: ou o homem acha um jeito de se esconder de Deus, ou ele se dá por achado, com sua tristeza e tudo. Ele se converte, isso é, ele dá meia volta, lança-se nos braços de Deus, assim como o filho pródigo se lançou nos braços de seu pai. Você lembra a história: um rapaz gasta a herança paterna e, quando chega à miséria mais profunda, a fossa mesmo, aí acontece o milagre. Ele cai em si e volta ao pai, com seus trapos, sua fome, sua vergonha, sua tristeza e tudo. E o pai? Pois leia em Lucas 15 o que foi que o pai fez. Ele foi ao encontro dele, pôs um anel no seu dedo e lhe deu uma roupa nova. Mandou preparar uma festa, com churrasco, com música e tudo, porque tinha reencontrado o filho.

Assim, tristeza segundo Deus é amarga no começo, mas se torna doce depois. Bem ao contrário da tristeza do mundo. "Vós fostes contristados para arrependimento", escreve o apóstolo. E esta tristeza produziu nos corações dos cristãos de Corinto "arrependimento para a salvação", produziu zelo novo pelo evangelho, produziu amor pelos servidores de Jesus, sim, aconteceu que uma pessoa triste chegou a consolar outra triste. Paulo escreve que Deus consolou a ele e a Tito pela notícia que tiveram dos coríntios, de seu pranto, de sua saudade, ao ficarem sabendo que sua tristeza tinha sido tristeza conforme Deus. O apóstolo o sabia: é Deus quem conforta os abatidos.

E a sua tristeza, caro leitor, caro ouvinte? Será tristeza do mundo, ou será tristeza segundo Deus? Ouça uma coisa: permita neste momento que Deus entre naquele jogo; jogo que sem ele é perigoso e mortal. Volte-se com sua tristeza para ele, e verá que Deus já se acha voltado para você. E você verá que Deus será capaz de transformar tristeza de morte em júbilo. E mais uma coisa: você sabe que a arma poderosa contra os repetidos ataques de tristeza do mundo é o louvor a Deus? O louvor das profundidades? Louve a Deus, mesmo que seu coração não esteja disposto a louvar. Deus disporá o seu coração, e a tristeza perderá a vez.

Oremos: Senhor, eu clamo a ti das profundezas. Não consigo resolver os meu problemas. Não consigo vencer minha angústia a minha tristeza. Minha única esperança é que tu me estendas a mão e me salves de mim mesmo, de meus pensamentos negativos, de minha depressão e de meu medo. Senhor, eu creio que tu és maior que a minha tristeza. Louvado sejas por não me deixares só. Em nome de Jesus. Amém.

Autor: Lindolfo Weingärtner

2 comentários:

  1. Muito bom o texto!
    Vocês tem e-mail para contato?

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  2. Olá Karine P.!
    Já incluímos um e-mail de contato em nosso blog, encontra-se na barra lateral do mesmo: estante.teologica@gmail.com. Por favor, fique a vontade para entrar em contato conosco.

    Um grande abraço.

    Estante Teologica

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