terça-feira, 16 de novembro de 2010

Práticas Devocionais - PRÁTICA DO PODER

A prática do poder é a arte de se apropriar continuadamente, por meio da fé, do poder de Deus, colocado à disposição do crente que reconhece suas tremendas limitações e deseja permanecer fiel a Deus e servi-lo de maneira abundante na medida de seu chamamento e dons.

Existe poder aquisitivo, poder público, poder temporal, poder moderador, poder naval, poder negro, poder jovem, poder político, poder internacional, poder mental. Existe também poder espiritual, que difere substancialmente de qualquer outro poder e reúne uma porção enorme de valores relacionados com a vida em estreita e permanente comunhão com Deus. Tais valores são: aptidão, autoridade, capacidade, eficácia, energia, entusiasmo, força, influência, meios, possibilidades, recursos e vigor.

No sentido profano, o poder pode depender da posição social, das vantagens pessoais, da capacidade, do dinheiro, da propaganda, da política, do voto, da força, da tirania, da opressão, do suborno. No sentido cristão, a origem do poder é totalmente diversa e tem propósitos também diversos. Só os que se fazem pequenos têm direito ao revestimento do poder de Deus: "O poder se aperfeiçoa na fraqueza" (2 Co 12.9). Enquanto na vida secular o poder em quase todos os casos é exercido em benefício próprio, o poder ou-torgado por Deus é exercido em benefício da expansão do reino de Deus.

O PODER PERTENCE A DEUS

Aqui está o testemunho do salmista Davi: "Uma vez falou Deus, duas vezes ouvi isto: que o poder pertence a Deus" (Sl 62.12). O mesmo Davi volta a proclamar essa solene verdade na oração feita perante toda a congregação de Israel, pouco antes de morrer: "Tua, Senhor, é a grandeza, o poder, a honra, a vitória e a majestade [...] Teu, Senhor, é o reino, e Tu te exaltaste por chefe sobre todos [...] Na tua mão há força e poder; contigo está o engrandecer e a tudo dar força", (l Cr 29.11, 12.)

Embora a última frase da oração dominical não esteja em todos os textos gregos, os cristãos do mundo inteiro repetem há quase dois mil anos a bela doxologia, que pode ter sido tomada da oração de Davi acima citada: "Teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém." (Mt 6.13.)

É de todo saudável consagrar a declaração de que o poder pertence a Deus. E esse poder é imenso, suficiente para "subordinar a si todas as coisas" (Fp 3.21).

ESPÍRITO SANTO E PODER

Desde o Velho Testamento, o Espírito Santo é o instrumento do poder que promana de Deus. Faraó percebeu que José era um homem possuído pelo Espírito de Deus (Gn 41.39). Bezalel foi cheio do Espírito de Deus para ter habilidade e inteligência para elaborar desenhos e trabalhar na construção do tabernáculo (Êx 31.1-5; 36.1). Os juízes Otniel (Jz 3.10), Gideão (Jz 6.34), Jefté (Jz 11.29) e Sansão (Jz 13.25; 14.6, 19; 15.14) foram homens especialmente capacitados pelo Espírito de Deus para subjugar reinos e tirar força da fraqueza (Hb 11.32-35).

Essa concessão de poder torna-se mais notória e mais universal depois da ascensão de Jesus. Ele mesmo ordenou aos discípulos que não se ausentassem de Jerusalém até que do alto fossem revestidos de poder (Lc 24.49) e acrescentou: "Recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo" (At 1.8). Na oração de Paulo em favor dos efésios, o apóstolo roga a Deus que eles sejam "fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito no homem interior", isto é, no íntimo (Ef 3.16). Uma vida, pois, que não entristece (Ef 4.30) nem apaga (l Ts 5.19) o Espírito, anda no Espírito (Gl 5.16), semeia para o Espírito, e não para a carne (Gl 6.8), e busca a plenitude do Espírito (Ef 5.18) — será também cheia de poder (At 6.8).

PODER PARA QUÊ?

O poder não é dado para deleite próprio nem para promoção pessoal. Isso precisa ficar bem claro. Simão, o mago de Samaria, assustou os apóstolos Pedro e João quando revelou a sua ignorância sobre a natureza do poder do Espírito Santo, ao oferecer dinheiro para comprar o dom de Deus (At 8.9-24).

Deus nos reveste de seu poder para:

1. Fazer frente ao pecado. O pecado tem uma força tremenda e "o corpo é fraco" (Mt 26.41, BLH). Para não ter uma vida de fracasso, você precisa do auxílio sobrenatural do Espírito. É por meio do poder do Espírito que você vai mortificar os reclamos da sua natureza humana (Rm 8.13).

2. Exercer o ministério para o qual fomos chamados. No caso de Sara, ela recebeu poder para ser mãe, não obstante fosse uma mulher estéril e idosa (Hb 11.11). No caso de Maria, ela recebeu poder para ser a mãe de Jesus, não obstante fosse uma mulher virgem (Lc 1 .35). No caso dos apóstolos e dos setenta, eles receberam poder para expulsar demônios e realizar curas (Lc 9.1; 10.9). No caso de Paulo, ele recebeu poder para levar o evangelho de Jerusalém ao Ilírico (Rm 15.18-21; l Co 2.1-5).

3. Testemunhar a morte e a ressurreição de Jesus "tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra" (At 1.7, 8-, Lc24.49). O derrame espetacular e geral do Espírito Santo no dia de Pentecostes tinha esse propósito. Por essa razão, imediatamente depois da descida do Espírito, a pequena comunidade cristã de Jerusalém passou a falar em outras línguas as grandezas de Deus (At 2.11). Em apenas trinta anos de missões, a igreja primitiva alcançou os mais importantes e populosos centros urbanos do mundo de então e neles se estabeleceu.

DESGASTE E RENOVAÇÃO

A manutenção do compromisso cristão e o exercício continuado de qualquer atividade em favor da expansão do reino de Deus importam em sensíveis desgastes. Em parte porque estamos sempre nadando contra a correnteza (Ef 2.1-3). Em parte porque a seara é enorme e os trabalhadores são poucos (Mt 9.35-38). Em parte porque o sofrimento que nos rodeia é intenso e variado. O desgaste é uma experiência natural e constante, como se pode ver no caso de Paulo: "Eu de boa vontade me gastarei e ainda me deixarei gastar em prol das vossas almas" (2 Co 12.15). Ou no caso de Davi: "A tristeza tem encurtado a minha vida; as lágrimas têm diminuído a minha existência. Estou fraco por causa das minhas aflições; até mesmo os meus ossos estão se gastando!" (Si 31.10, BLH.) Qualquer ato de amor implica desgaste. O bom samaritano gastou energia, tempo e dinheiro para salvar o semimorto da morte (Lc 10.33-35). As curas operadas por Jesus provocavam nele um desgaste de poder (Lc 6.19). Embora muitos das multidões o apertassem (Lc 8.42), o caso da mulher hemorrágica foi diferente. Por isso Jesus insistiu com Pedro: "Alguém me tocou, porque senti que de mim saiu poder" (Lc 8.46).

Porque há desgaste, a renovação do poder é uma necessidade constante. Daí este conhecido texto bíblico: "Os jovens se cansam e se fatigam, e os moços de exaustos caem, mas os que esperam no Senhor renovam as suas forças, sobem com asas como águias, correm e não se cansam, caminham e não se fatigam" (40.30,31). Esta renovação de forças não tem nada a ver com a idade cronológica nem com o desgaste físico: "[Ele é] quem farta de bens a tua velhice, de sorte que a tua mocidade se renova como a da águia" (Sl 103.5). É como Paulo escreveu aos coríntios: "Ainda que o nosso corpo vá se gastando, o nosso espírito vai se renovando dia a dia" (2 Co 4.16, BLH).

Pela prática do poder, o crente se abastece outra vez de força no mesmo momento em que despende alguma energia para fazer frente à tentação, ao sofrimento, à renúncia e ao desempenho de suas obrigações de amar a Deus e ao próximo. É extremamente necessário deixar a água entrar novamente todas as vezes que o nível do reservatório começar a baixar. Ele precisa permanecer sempre cheio: "Buscai o Senhor e o seu poder; buscai perpetuamente a sua presença" (Sl 105.4).

Autor: Elben M. L. Cesar

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