segunda-feira, 1 de outubro de 2012

[Esboço para pregação] A ALEGRIA DO BOM PASTOR - Lucas 15.1-7

Leitura Complementar: Salmo 142

Há diferenças entre os quatro evangelhos do Novo Testamento. Diferenças no conteúdo e na maneira de dizer as coisas. Cada um dos evangelistas conta a história e a mensagem de Jesus a seu modo. Cada um enxerga o Cristo na luz específica que Deus lhe deu. Há diferenças tão acentuadas, por exemplo, entre Mateus e João, que os teólogos chegam a brigar sobre o sentido e até sobre a autenticidade de certas passagens.

Mas há um ponto, entre muitos outros, é claro, no qual os quatro evangelhos são totalmente unânimes e no qual não é possível nenhuma discórdia entre os que explicam a Bíblia. Tanto Mateus, como Marcos, Lucas e João atestam, como que unânimes, que Jesus atraiu a si os pecadores, as pessoas que por motivos morais eram rejeitadas pela sociedade, inclusive pelos líderes religiosos de seu tempo. Assim diz o nosso texto: "Aproximaram-se de Jesus todos os publicanos e pecadores para o ouvir. Publicanos eram empregados do governo, coletores de impostos, que tinham fama se serem corruptos e desonestos. E pecadores, bem, eram os que tinham pisado em falso, desde a mulher que tinha sido surpreendida cometendo adultério, até o vagabundo que vivia pelas estra¬das, depois de ter estragado sua vida no jogo e na bebedeira. Esta gente sentia um poder irresistível que os atraía e puxava para junto de Jesus. Nada semelhante acontecia no caso dos fariseus e dos escribas, os líderes religiosos dos judeus. Eles mantinham "esta gente" afastada de si e mostravam de forma bem clara o que estavam pensando deles. Com um pecador, um homem de bem não se metia. "Dize-me com quem andas e eu te direi quem és". E Jesus andava com pecadores. E os pecadores andavam com ele. Logo... Pois é. Não é difícil entender o que eles pensavam, porque, bem no fundo, a maioria das pessoas ainda hoje pensa como eles.

"E murmuravam os fariseus e os escribas, dizendo: este recebe pecadores e come com eles." Claro. Dize-me com quem tu andas e vou te dizer quem tu és. Não podia ser outra coisa. Como podia este Jesus ser o Cristo de Deus, se ele permitia que esta gente perdida se aproximasse dele, e até sentassem à mesa com ele?

E então Jesus lhes conta e história do homem que possuía cem ovelhas e chegou a perder uma delas. Que deixou no deserto as noventa e nove e foi à procura daquela que se tinha perdido. Que, depois de encontrá-la, a colocou sobre os ombros, cheio de alegria, reuniu os amigos e vizinhos e lhes disse: "Alegrem-se comigo, porque acabo de encontrar a ovelha que perdi". E depois Jesus lhes diz que da mesma forma vai haver alegria no céu por um pecador que muda de vida. Que até vai haver maior alegria por causa deste pecador arrependido do que por noventa e nove justos que não precisam arrepender-se, ou que acham que não precisam.

Nós todos, que nos criamos em comunidades cristãs, não ignoramos isso: Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores e perdidos. Mas nós temos ouvido esta mensagem tantas vezes, que nossos ouvidos já se tornaram meio surdos para ela. Nós pensamos: Sim, sim, é claro que ele veio para isso. Mas, na hora "h" acabamos não agindo como Jesus agiu. Os pecadores têm medo de nós, ou desconfiam de nós. As ovelhas perdidas se escondem de nós, e nós não vamos à sua procura. Não as fazemos sentir que estamos interessados nelas e que fazemos questão de que pessoas perdidas sentem à nossa mesa. 

Assim, antes de tudo, precisamos pedir a Deus que nos dê ouvidos abertos e corações que realmente compreendam e aceitem aquele ponto central do evangelho de Jesus Cristo, ponto central, como o centro de uma roda, pelo qual passa o eixo. Sem aquela abertura central, a roda não teria valor.

Que vem a ser uma pessoa perdida? Pensamos na famosa "ovelha negra da família". Pensamos em um rapaz que começou a beber e que virou cachaceiro. Pen samos numa moça sem-vergonha e leviana, pensamos em vigaristas, em "playboys", em andarilhos, em gente que fuma maconha. Isto está tudo certo. A pessoa que perdeu o respeito de si mesma, que leva uma via de parasita, que vive sem disciplina e sem ordem, é uma pessoa perdida. Mas a coisa não termina aí. Perdida é qualquer pessoa que não se encontra no caminho certo. Perdidas são muitas pessoas que acham que estão com os seus compromissos em dia; que estão com as malas bem arrumadas. Que adianta alguém ter as malas bem arrumadas, se está sentado no ônibus errado? Quem é perdido? Pensando bem, vamos ter que admitir que todos nós somos perdidos. É duro, mas é verdade. Por inclinação e por instinto, ninguém de nós procura nem encontra o ônibus certo. Guiando a viatura de nossa vida por nossos próprios palpites, poderemos estar certos de que erramos o nosso alvo. Vejamos: até as noventa e nove ovelhas que o pastor deixou no deserto para ir à procura daquele que se tinha perdido, no fundo eram ovelhas extraviadas também. Por quê? Porque, no momento em que seu pastor não estava com elas, eram ovelhas perdidas. Criaturas sem proteção. Sem certeza sobre o caminho a tomar. Não queremos explicar cada detalhe desta parábola, porque isto nem sempre dá certo. Mas eu penso que, quando "os justos" não se incomodarem, quando alguém se extravia, quando não acompanharem "o pastor" na procura do extraviado, eles também não passam de ovelhas perdidas. Estão elas no lugar onde está o pastor? Não estão. Pois então! O bom pastor Jesus Cristo está no lugar onde Deus quer que esteja. Quem não está com ele, está extraviado. Quem com ele não ajuntar, espalha.

Você pergunta: mas são tantas ovelhas, noventa e nove (ou meio milhão, ou cinquenta milhões...), e tão grande número de criaturas não pode errar. Pode, sim. Muitas ovelhas juntas também podem errar. É até um ardil especial do grande ladrão de ovelhas, o diabo, enganar o rebanho inteiro. Assim ele poupa trabalho. Se não fosse o Bom Pastor, que enfrenta o adversário, que chama e atrai as ovelhas desgarradas a si, que as protege contra as investidas do lobo, nenhuma ovelha se salvaria. Também você não se salvaria. Você e eu jamais nos vamos encontrar a nós mesmos, jamais vamos alcançar nosso alvo, se não formos encontrados por Cristo.

A parábola da ovelha perdida (melhor seria falarmos da parábola da ovelha achada!) mexe conosco em dois sentidos. Primeiro: ela ataca a nossa falsa segurança, nossa convicção de sermos pessoas de bem que a olhos vistos se distinguem das ovelhas negras conhecidas por todo o mundo. Ataca a nossa certeza de termos a "barra limpa", a consciência tranquila, por sempre termos levado uma vida ordeira e boa; de nos sentirmos cheios de nós mesmos, como aquele fariseu, descrito por Jesus na conhecida parábola, que agradeceu a Deus por não ser assim como os outros homens, "ladrões, injustos, adúlteros, nem assim como este publicano." Este é um ponto muito sério. O orgulho, a falsa confiança que a pessoa tem em si mesma, o farisaísmo mais ou menos escondido e camuflado, é o pior perigo que ameaça a vida do cristão. Jesus nos diz para nos cuidarmos do fermento dos fariseus. Ele sabe que tal fermento poderá estragar toda a massa. O orgulho perante Deus é o pecado do anjo revoltado, que quis ser como Deus e que levou os homens a quererem ser como Deus. O homem cheio de si mesmo, em realidade está vazio por dentro. Ele quer bancar um pequeno deus, e o que ele consegue é fazer um ídolo de si mesmo, ídolo que quer ser adorado, louvado, bajulado. Ele, que só ama a si mesmo, se torna mais e mais incapaz de amar a outros. Ele enche o seu vazio interno com amargura e com revolta. Vai culpando "os outros", a sociedade, os velhos, a juventude, e, bem por dentro, vai culpando o próprio Deus. Não foi bem isso que Adão fez, depois de cair na tentação da serpente que disse que seria igual a Deus? "A mulher que me deste por companheira, ela me deu, e eu comi". A mulher é a culpada. E tu, Deus, me deste a mulher. Logo, em realidade, és tu quem leva a culpa... Deus nos ilumine com sua verdade para que enxerguemos esta arapuca diabólica do farisaísmo. Deus nos livre do último vestígio do fermento dos fariseus, para que o bom fermento do evangelho possa crescer em nós.

E o segundo ponto: Jesus nos quer atrair para o lugar onde ele mesmo está. Não para um lugar seguro, em que não há problemas, mas para uma frente de combate, na qual o adversário é o lobo devorador, o mau inimigo, que quer destruir as pessoas, por dentro e por fora. Ninguém pense que entendeu o evangelho de Jesus, se não lhe doer no próprio coração a culpa de seu próximo. Ser salvo por Cristo dá vontade de salvar, de cooperar com Cristo em sua obra salvadora. E isso não permite que levemos uma vida acomodada, mesmo dentro de um rebanho grande e bem organizado. Não permite que condenemos o mundo, contentes por nós termos sido salvos. Lembremos que Jesus entrou na fila dos pecadores, ao ser batizado, e que foi aí mesmo que o Pai disse: "Este é o meu Filho amado em que me comprazo". Lembremos que Jesus morreu entre dois malfeitores!

Dize-me com quem andas e eu te direi quem és. Está certo. Só que você precisa olhar as coisas de um outro ângulo. É que Deus diz do pecador que anda com seu Filho e que crê nele: Se tu andas com meu Filho amado, eu te direi quem tu és. Já não és o homem perdido e condenado. Vejo em ti a imagem de meu Filho! Você compreende a alegria do pastor que põe nos seus ombros a ovelha que acaba de achar, chama os vizinhos e diz: "Alegrai-vos comigo, porque achei a ovelha que se perdeu?" Se você compreende, Deus seja louvado! Então você acaba de olhar para dentro do coração de Deus.

Oremos: Senhor, também nós muitas vezes pensamos que não vale à pena perder tempo com pessoas que não vêm à igreja, que levam uma vida desordeira e que voltaram as costas a ti. Muitas vezes, bem por dentro, achamos que somos só nós que merecemos a tua graça. Ó Senhor, salva-nos do farisaísmo; extingue em nós todo o falso orgulho. Desperta em nós o júbilo do Bom Pastor, que se alegra pela ovelha extraviada que voltou a seus braços. Amém.

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Autor: Lindolfo Weingärtner

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